A 28 de fevereiro o casal Salem estava em território egípcio e recebeu o apoio previsto da embaixada portuguesa, que tratou da transferência para o Cairo, da passagem de avião para Portugal e dos cuidados médicos de que os dois idosos necessitavam.
As marcas da guerra continuam bem vivas
Apesar de terem sobrevivido a todas estas provações e estarem agora em segurança a celebrar o Ramadão, as marcas do conflito continuam bem vivas no espírito do casal Salem.
"A nossa cabeça não está bem. Vimos as crianças mortas."
“A minha saúde ficou destruída com a guerra”, admite Mohammad. A ausência de medicamentos e de uma alimentação adequada prejudicou a evolução do seu quadro clínico, nomeadamente de hipertensão e de Parkinson. “Antes conseguia caminhar um pouco, ir à casa-de-banho, mas agora deixei de ser capaz”, lamenta-se. Sem a ajuda dos filhos não é capaz de abandonar a cadeira de rodas, de que nunca mais se separou desde Gaza.
Naima, por seu turno, enfatiza os problemas de saúde mental. “A nossa cabeça não está bem. Vimos as crianças mortas. As pessoas em Gaza estão deprimidas, tristes, exaustas, incapazes de se levantar. Não há água, comida. Nada. A situação está muito má”, admite a septuagenária.
Hamas tem capacidade militar, mas a Fatah é que pode negociar
Um eventual regresso a Gaza é algo inconcebível neste momento. “A alma está lá, em Gaza, mas agora é impossível”, declara Mohammad. Uma realidade incontornável porque a guerra, no seu entender, não tem fim à vista.
"A alma está lá, em Gaza, mas agora é impossível [regressar]"
“Existe uma ocupação. Não vejo uma solução através das negociações”, atira o palestiniano, antes de dar a sua opinião sobre a situação política: “o Hamas tem a capacidade militar, mas não tem a capacidade de negociação. Mahmoud Abbas e a Fatah conseguem negociar e têm os contactos necessários no plano internacional.”