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Douro prepara-se para mais uma “batalha”

29 abr, 2014 • Olímpia Mairos

O inimigo chama-se "alterações climáticas". A Região do Douro acredita que vai superar a nova realidade que se anuncia para os próximos anos.

Douro prepara-se para mais uma “batalha”
As alterações climáticas previstas para o Douro – aumento da temperatura e consequente falta de disponibilidade hídrica - são encaradas como um desafio e algumas respostas já estão a ser preparadas.

Na Quinta do Portal, em Sabrosa, essas respostas vão sendo dadas “através da utilização de castas, de porta enxertos e sistemas de condução mais adaptados, ou seja de técnicas agronómicas que permitem minimizar os efeitos do aumento da temperatura”, diz à Renascença o engenheiro agrícola, Miguel Santos.

Na região do Douro, são já várias as quintas a recorrer ao coberto vegetal entrelinhas, com recurso ao trevo e a outras leguminosas, para conservar a humidade, enriquecer o solo e reduzir a necessidade de adubos químicos. No futuro, a solução para fazer face ao impacto previsível da subida da temperatura média pode passar também pela rega.

“Poderá vir a ser essencial nomeadamente para fazer vinhos do Douro e também para podermos controlar quantidades produzidas por hectare”, defende o técnico.

Sensibilidade e criatividade para enologia preventiva
Se é certo que as alterações climáticas previstas vão obrigar a alterações de comportamentos na viticultura, o mesmo se pode dizer em matéria de produção de vinho.

O enólogo Paulo Coutinho defende que será necessário “trabalhar com uma outra sensibilidade, com recurso a uma enologia preventiva e de respeito pela matéria-prima”, referindo que foi já nesse sentido que modularam a adega em 2006, “tentando usar um método que é por gravidade e que permite respeitar a matéria-prima”.

“Cada vez mais verificamos que, em alguns anos, temos um fruto que não está completamente maduro e há que trabalhar isso de uma outra forma e com outra sensibilidade”, explica.

Exigência de adaptação de práticas
A região produz vinhos do Porto e Douro, é muito diversificada em termos de altitudes e exposições, “o que permite contornar ou ir adaptando práticas”.

“Nós podemos mover parcelas em termos de estilos, ou seja, adaptar o estilo de vinho a cada uma das parcelas”, refere o enólogo.

As previsões apontam para que entre 2020 e 2050 a temperatura possa aumentar de 1 grau a 1 grau e meio, o que, no entender de Paulo Coutinho, “é grave já que pode haver parcelas, no Douro Superior, em que, de um momento para o outro, pode ser impossível plantar lá”.

Paulo Coutinho não tem dúvidas que as alterações climáticas previstas vão ter impacto na produção no Douro, mas realça a capacidade de adaptação para assegurar que a região vai superar com sucesso “mais esta batalha”.

A mais antiga região de vinhos portuguesa e a primeira região vitivinícola do mundo a ser demarcada encontra-se dividida em três sub-regiões; Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior. É precisamente esta última que mais pode vir a sofrer com as alterações climáticas.

No Douro, produz-se o famoso Vinho do Porto e também vinho de mesa de alta qualidade, a partir de 29 castas recomendadas, entre brancas e tintas.