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Como fica a vida de quem já não conta com o subsídio de férias?

22 jun, 2012 • João Santos Duarte

São cerca de 560 mil os funcionários públicos que este mês sofrem cortes nos subsídios de férias, sejam parciais ou totais. A Renascença foi saber o que muda na vida de quem sente o impacto da medida.

Como fica a vida de quem já não conta com o subsídio de férias?
São cerca de 560 mil os funcionários públicos que este mês sofrem cortes nos subsídios de férias, parciais ou totais. A Renascença foi saber, na primeira pessoa, o impacto dessa medida nas vidas de alguns. Desde os planos de férias que tiveram de ser alterados, às prestações de empréstimos e seguros que ficam mais difíceis de pagar. E há mesmo quem já pense no dinheiro que vai fazer falta para comprar os manuais escolares em Setembro.

“Nunca fui de férias”, garante João Paulo Teles, com o equipamento de todos os dias vestido, t-shirt azul e calças verdes, a meio do turno de jardinagem no Parque Florestal de Monsanto. Há quinze anos que trabalha como jardineiro ao serviço da Câmara Municipal de Lisboa, e as férias foram sempre passadas em casa, porque o dinheiro já tinha destino.

“Foi sempre preciso lutar para pagar as contas e os empréstimos, mesmo quando ainda vivia com a minha esposa. A esperança era que, com o passar dos anos, chegasse um dia em que de facto pudessemos finalmente dizer que iríamos ter umas férias à séria”, lembra. 
Mas esse dia nunca chegou. E não só nunca chegou como surgiu um ainda pior: o dia em viu o subsídio de férias ser cortado. Ganha 700 euros brutos por mês, o que significa que, de acordo com as regras aprovadas pelo Governo, vai sofrer um corte de 220 euros.

"O pouco que vier já está destinado para pagar contas em atraso. Mas costumo colocar também algum dinheiro de lado para comprar os manuais escolares aos meus dois filhos. Este ano não sei como vou fazer. Provavelmente, vou ter de pedir dinheiro emprestado”.

Com um empréstimo da casa também por pagar, João Paulo vê-se na situação de, aos 45 anos, ter voltado a depender da ajuda dos pais. “Tive de perder a vergonha e guardar o orgulho de lado e dizer: pai, mãe, preciso de ajuda. O meu pai tem 70 anos e a minha mãe 67. Estão numa fase da vida em que já deveriam estar descansados, mas ainda têm de ajudar o filho. E tenho de lhes estar muito grato, porque sei que nunca lhes conseguirei pagar de volta.”

Também Hélder Sá, que trabalha como encarregado operacional, vai sofrer um corte parcial no subsídio, correspondente a 62,5% dos 836 euros brutos que aufere por mês. No total são menos 522 euros. A situação agrava-se porque a mulher também é funcionária pública e sofre um corte semelhante.

“No total temos um corte superior a mil euros”, constata.

Dinheiro a menos que já obrigou a antecipar algumas mudanças de rotinas no orçamento familiar e nos planos de férias para este ano. “Eu sou do Norte e tínhamos pensado passar cinco dias na zona do Porto, donde sou natural. Mas esses planos tiveram de ser esquecidos, porque com dois adultos e três crianças, mesmo que ficassemos numa pensão barata nunca saía a menos de 300 euros, mesmo poupando em termos de alimentação. Por isso vamos ficar por cá”.

Quando o subsídio é cortado na totalidade
Nuno Costa, 37 anos, técnico superior na Câmara de Oeiras, garante que já se vinha preparando há meses para o impacto destas medidas. Mais a mais porque, ganhando 1407 euros brutos por mês – acima dos 1100 estabelecidos como patamar – já sabia que este ano iria ter o subsidio de férias cortado na totalidade. Por isso revela que já tem vindo a reorganizar o seu orçamento familiar, embora admita que tem muitos colegas a passar por situações complicadas.

“Muitas pessoas utilizam normalmente este mês para pagar coisas como seguros ou outros pagamentos extra e neste momento estão aflitos, porque têm o dinheiro todo contado e iam aproveitar os subsídios para fazer esses acertos”.

Também Ana Vieira, técnica superior na área do ambiente, perdeu o subsídio na íntegra. Dinheiro que seria canalizado, em parte, para outras despesas que não era possível pagar ao longo do ano.

“É um mito pensar que o subsídio de férias é para irmos passar uns dias a um sítio paradisíaco”, afirma. Mãe solteira, com um filho de seis anos, revela que o orçamento mensal está mais controlado do que nunca. “Já tive de tirar o meu filho do colégio privado, para além de mudar outros hábitos quotidianos.”

E este foi apenas o primeiro embate. É que este ano também não vai ter subsídio de Natal.