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Cavaco em Moçambique. Terra de oportunidades, mas sem "pudins instantâneos"

18 jul, 2012 • Vera Pinto, em Maputo, e Susana Madureira Martins

Renascença falou com alguns empresários portugueses que têm negócios em Moçambique. Todos são unânimes em dizer que é preciso investir bem para se conseguir retorno.

Cavaco em Moçambique. Terra de oportunidades, mas sem "pudins instantâneos"
O Presidente da República está, a partir desta quarta-feira, em Moçambique para participar na cimeira da CPLP, que arranca na sexta, dia 20. A Renascença acompanha Cavaco Silva e falou com alguns portugueses que fizeram negócio em Maputo. Poderemos falar em terra de oportunidades?

Sim, mas isso não significa que tudo seja fácil.

“A vida é mais cara do que em Portugal, os espaços são caríssimos. Não é fácil. E é preciso dinheiro para investir. O problema é que a maior parte da gente vem à procura da árvore das patacas e ela já morreu há muito tempo. A árvore das patacas secou”, afirma José Santos, há 14 anos na capital moçambicana.

Construiu um império na restauração, o negócio corre bem e o Governo de Moçambique não cria entraves: “Basta seguir a lei, não se meter em esquemas, cumprir o que está estabelecido pelas entidades. E conhecer as pessoas certas. A gente tenta agilizar. Tem de ser assim aqui”, referem à Renascença o emigrante e a mulher.

Há pouco mais de um mês está Rui Correte, alto quadro da Soares da Costa, em Moçambique. Diz que a cidade é um estaleiro, há muito para fazer, mas também um problema para resolver: “contratar quadros locais com competência suficiente ao nível que neste momento o mercado já exige”.

“Há aqui empresas multinacionais ligadas à mineração, aos petróleos, à área da construção civil que exigem procedimentos, técnicas e certificações a que o mercado moçambicano, de facto, não estava habituado”, sustenta.

Mas, para já, não se pode fazer muito, porque o Governo de Moçambique exige que cada empresa tenha apenas 10% de estrangeiros para que possa operar no país.

Mais logo, Cavaco Silva dedica o dia à economia e tem encontro marcado com empresários portugueses que têm investimentos no país.


Novo “El Dorado”? As rosas também picam...
Moçambique pode ser terra de oportunidades mesmo para os empresários portugueses que não emigraram.

Na Sweet Gadget, 90% das vendas seguem direitinhas para Moçambique – material de decoração e electrónico, materiais de construção, electrodomésticos.

“Ser fácil, para nós que já lá estamos há algum tempo, é. Se é apetecível? Provavelmente, vai ser muito. Neste momento, há muito português a ir para lá, e não só: brasileiros também. Dentro de dois ou três anos, será uma nova Angola. Um ‘El Dorado’, se lhe quiser chamar”, afirma à Renascença o sócio da empresa Paulo Rêgo.

Mas nem tudo são rosas, admite.

“Antigamente, era possível obter o visto no próprio aeroporto, aquando da chegada, e neste momento exigem já alguma documentação desde cartas autorizadas de empresas que se vão visitar a documentos a dizer que vão de férias, mas isso implica que mostrem a reserva do hotel ou os bilhetes, para obterem o visto”, exemplifica.

Outro conselho: investir em Moçambique não é propriamente como fazer um pudim instantâneo. Paulo Rêgo levou três anos a ter retorno financeiro das viagens que começou a fazer ao país.