Nobel da Economia diz que Portugal vai "demasiado depressa na austeridade"

02 mai, 2013 • Paulo Ribeiro Pinto

Christopher Pissarides considera que o Governo português não deve preocupar-se tanto com a redução da dívida, mas sim com as reformas estruturais.

Nobel da Economia diz que Portugal vai "demasiado depressa na austeridade"

A austeridade está a avançar demasiado depressa em Portugal, adverte o Nobel da Economia Christopher Pissarides, em entrevista à Renascença.

O cipriota considera que o Governo português não deve preocupar-se tanto com a redução da dívida, mas sim com as reformas estruturais.

"Acho que vamos demasiado depressa na austeridade orçamental. Eu digo isto porque as reformas estruturais precisam de tempo para ter algum impacto na economia", adverte Christopher Pissarides.

"Numa reforma económica criam-se novos empregos e vê-se o seu impacto. Seriam necessários três a cinco anos, e sabemo-lo pela experiência de outros países, e ao nível orçamental também não se vê um grande impacto”, explica o economista.

Por isso, recomenda Pissarides “é preciso ir com calma e deixar que as reformas estruturais tenham algum impacto na economia, antes de começarem a reduzir a dívida. Deixem-na estar onde está”.

Especialista no mercado de trabalho e na forma como são criados e destruídos os empregos, Christopher Pissarides defende mais flexibilidade laboral nos países do Sul, mas sempre com o Estado a servir de rede de apoio.

“Precisamos que as empresas tenham flexibilidade para criar emprego. Ao fazê-lo estaremos a criar a possibilidade de crescerem e prosperarem no mercado de trabalho. Essas pessoas podem ter família, filhos a estudar; precisam de ter alguma segurança no seu rendimento, para o futuro da sua família. É aqui que entra o Estado. Que serve para acautelar esse futuro e ajudar os trabalhadores a encontrar novo trabalho", sublinha o Nobel.

Professor da London School of Economics, Pissarides defende que os salários da função pública devem ser reduzidos, mas nunca abaixo da média do privado: “Apenas é justo que os salários do sector público desçam até ao nível do privado. Talvez um pouco mais, é que, tradicionalmente, nos momentos de crescimento, o sector público acumulou benefícios”, argumenta.

De origem cipriota, Christopher Pissarides participou nas negociações para o resgate financeiro do país. Crítico da taxa sobre depósitos bancários, diz que foi “ridícula” a forma como o Eurogrupo tomou essa decisão.

O prémio Nobel da Economia 2010 acredita que, nem para o Chipre nem para Portugal, a saída o euro é solução. O desastre seria muito maior, conclui.