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Querem mas não podem. Quatro em cada 10 jovens sem dinheiro para estudar

13 jan, 2014

É uma das percentagens mais elevadas de absentismo por falta de dinheiro no quadro europeu. Estudo da Comissão Europeia revela também que 86% dos alunos portugueses lamentam não dispor de informação suficiente sobre o mercado de trabalho antes de concluírem o secundário.

Querem mas não podem. Quatro em cada 10 jovens sem dinheiro para estudar
Portugal tem uma das mais altas percentagens de jovens que queriam prosseguir os estudos, mas não têm possibilidade de os pagar (38%). A conclusão é de um inquérito patrocinado pela Comissão Europeia e que é apresentado esta segunda-feira em Bruxelas.

Intitulado “Educação para o Emprego: Pôr a Juventude Europeia a Trabalhar”, o designado “relatório McKenzie” incidiu sobre 5.300 jovens e 700 instituições educativas de oito países: Portugal, França, Alemanha, Grécia, Itália, Espanha, Suécia e Reino Unido.

No conjunto, os países do estudo têm perto de 75% do desemprego jovem na União Europeia.

Em Portugal, o valor das propinas pago pelos estudantes nas universidades públicas ultrapassa os mil euros por ano, montante a que se juntam as despesas de deslocação da área de residência: "45% dos jovens tem de sair da sua cidade para continuar a estudar".

Um terço (31% - o valor mais elevado entre os países analisados) dos inquiridos portugueses declarou não ter tempo para estudar porque tinha de trabalhar.

Além da situação económica, em geral, é também afirmado que "problemas com o sistema de educação-emprego não estão a ajudar", já que "apenas 47% dos jovens acreditam que os seus estudos pós-secundário melhoraram as perspectivas de emprego".

Os empregadores, por seu lado, dizem que não encontram as qualificações que precisam: 30% afirmam que não conseguem preencher vagas por não encontrarem um candidato com as competências adequadas.

"As coisas estão obviamente quebradas no percurso educação para o emprego em Portugal", concluem os relatores.

O documento refere que Portugal "sofreu muito durante a recessão", com a taxa de emprego global a cair quase oito pontos percentuais e o desemprego entre os jovens a subir para 37%.

O relatório é apresentado hoje em Bruxelas, numa conferência que tem como principal oradora a comissária responsável pela Educação, Cultura, Multilinguismo e Juventude, Androulla Vassiliou.

A comissária considera que o relatório da consultora McKenzie não podia estar mais actual: "Na Europa, o desfasamento entre aquilo que os sistemas de educação oferecem e as necessidades dos empregadores está a resultar numa séria escassez de competências, a prejudicar as aspirações da juventude e, por último, a nossa prosperidade futura".

O relatório contém "uma mensagem clara": "Políticos, educadores e empresários devem todos sair dos seus silos e colaborar mais estreitamente para evitar o que é uma crise de crescimento".

Numa reacção a este estudo, que revela que 38% dos jovens portugueses não têm possibilidades de pagar estudos superiores apesar de desejarem ingressar na universidade, o Governo diz que aborda uma realidade que já é conhecida das autoridades portuguesas.

O gabinete do ministro Nuno Crato diz que o estudo “confirma” o que classifica de “questões sistémicas” do sistema educativo português e acrescenta que “têm sido adoptadas medidas para combater as dificuldades”, nomeadamente a atribuição de bolsas de estudo no ensino superior que, segundo o Ministério, aumentou 4% no ano lectivo 2012-2013.

[notícia actualizada às 22h40 - com a reacção do Ministério da Educação]