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ABC do congresso do PSD

23 fev, 2014 • Eunice Lourenço

O XXXV congresso social-democrata decorreu em Lisboa durante o fim-de-semana.

ABC do congresso do PSD

António José Seguro
Foi o bombo da festa do sábado do congresso. Acusado por Passos de não ter soluções sustentáveis, ridicularizado por Marcelo, desafiado por Rangel, António José Seguro esteve presente do princípio ao fim. E fez ele próprio marcação ao congresso, quer com agenda própria no fim-de-semana, quer com a proposta de comissão de inquérito ao negócio dos submarinos e dos Pandur.

No discurso final foi poupado por Passos Coelho, que optou por um tom mais conciliador de apelo ao consenso. Mas Seguro acabou por dar sinal da pressão vinda do PSD ao precipitar o anúncio do seu cabeça de lista às europeias, assim que terminou o Congresso. Convinha que tivesse avisado João Proença, que representou o PS no Coliseu, de onde saiu a dizer que o PS não tem pressa em apresentar o candidato.

Bancarrota
Passos Coelho foi, no discurso de muitos congressistas, desde os mais desconhecidos aos barões como Morais Sarmento, o herói que tirou Portugal da bancarrota e conduziu o país até terra firme.

Coligação
Não foi, de todo, tema do congresso, o que é bom sinal para a estabilidade da coligação governamental. Parece ser desta que a relação entre PSD e CDS entra na normalidade. Mas o fim do programa de ajustamento e as eleições europeias serão uma grande prova.

No discurso final, Passos falou directamente para Paulo Portas, presente na sala, lembrando e reafirmando aquilo que o próprio Portas disse no congresso do CDS, em Janeiro: esta será a primeira coligação a chegar ao fim do seu mandato.

Durão Barroso
Forma com Manuela Ferreira Leite e Cavaco o clube dos ex-líderes ausentes. Durão esteve ausente por impedimento do cargo que desempenha. E foi mesmo um ausente. Só Virginia Estorninho se lembrou dele e para dizer que "fugiu". E Santana para dizer que, se o congresso fosse daqui a uns meses, Durão também viria. A sua eventual candidatura presidencial parece estar em plano muito de fundo face às ambições e intervenções de Marcelo e Santana.

Europeias
Marcadas para 25 de Maio vão marcar o teste de resistência da coligação governamental, que terá uma lista conjunta, liderada por Paulo Rangel e em que Nuno Melo será o primeiro nome indicado pelo CDS.

No congresso, no entanto, pouco se discutiu a Europa.

Fernando Costa
Protagonizou um dos momentos de diversão do congresso. Ex-presidente da Câmara das Caldas da Rainha, actual vereador em Loures, teceu elogios sem fim ao comunista Bernardino Soares, com quem fez um acordo de coligação.

Gaspar
Houve apelos a alívios na austeridade, criticas aos sacrifícios que foram repetidos, mas Vitor Gaspar parece esquecido pelo povo e pelos dirigentes sociais-democratas.

Hora H
Será o momento da saída da troika, do fim do plano de ajustamento. Se será feita com plano cautelar ou com saída à irlandesa pouco se discutiu. Morais Sarmento disse que nem uma coisa, nem outra; o que é preciso "é uma saída à portuguesa".

No encerramento, o primeiro-ministro deixou subentendido que um consenso nacional que ultrapasse as legislaturas poderá evitar um programa cautelar, mas sobretudo que o país volte a cair na situação de precisar novos resgates.

Ideologia
Curioso e salutar é o facto de este congresso ter discutido mais a ideologia do partido do que a forma de saída do plano de ajustamento. A defesa da social-democracia passava por muitas das moções sectoriais. Pedro Passos Coelho, logo no discurso de abertura, recusou uma deriva de direita e garantiu fidelidade à social-democracia. Morais Sarmento disse que é preciso pôr em segundo plano as estatísticas e as folhas de Excel e acentuar a social-democracia, que aproxima as pessoas e permite sonhar. Santana declarou-se social-democrata em especial na saúde.

Joaquim Azevedo
Vai coordenar uma equipa de trabalho sobre as questões de natalidade que deve apresentar propostas dentro de três meses. O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro no encerramento do congresso.

Joaquim Azevedo professor catedrático na Universidade Católica do Porto, onde dirige o Centro de Estudos em Desenvolvimento Humano da Faculdade de Educação e Psicologia.

Legislativas
O PSD entrou no congresso a achar que, se tudo correr bem nos próximos meses, ainda pode ganhar as legislativas de 2015 e saiu do congresso ainda mais convencido. O congresso, em especial o discurso inicial de Passos Coelho, foi aliás o arranque da campanha para as legislativas, claramente o momento eleitoral que mais ocupa e preocupa os sociais-democratas.

Marcelo Rebelo de Sousa
Marcelo Rebelo de Sousa apareceu de surpresa e deu um verdadeiro espectáculo de política. Tinha dito que não ia, mas foi; disse que não queria parecer que “se estava a fazer ao piso”, mas claramente fez-se e levantou o congresso, primeiro em gargalhadas e depois em palmas. A candidatura à candidatura presidencial está feita.

Natalidade
Era um tema da moção de estratégia de Passos Coelho, mas foi praticamente ignorado pelas intervenções dos congressistas. Lá pelas 2h da madrugada de Domingo, um delegado pediu atenção para as questões demográficas. O primeiro-ministro promete não só atenção, mas um plano para o qual quer a colaboração dos outros partidos e dos parceiros sociais.

Para ajudar o Governo nesta discussão, será formado um grupo de trabalho liderado pelo professor catedrático Joaquim Azevedo. Ainda recentemente, Passos tinha desvalorizado este assunto, dizendo que não era um problema português, mas de vários países. Agora, já o considera uma questão crucial porque "não há forma de garantir a sustentabilidade para o nosso Estado social e da nossa cultura porque  ela não estará em condições de ter os activos suficientes que a possam prolongar”. E quer que o governo esteja “habilitado” para fazer esta discussão quer com os outros partidos, quer com a concertação social, quer também a nível europeu.

Presidenciais
São só em 2016 e, por isso, ainda não preocupam muito o povo social-democrata. Mas já preocupam barões e candidatos a candidato. Na moção de estratégia de Passos, é definido um perfil de candidato, que parecia definido para excluir Marcelo e este, rapidamente, se auto-excluiu. Mas este é um processo que ainda vai no adro e Marcelo e Santana foram ao Coliseu marcar terreno e colocar o braço no ar.

Quadro 20-20
É a nova remessa de fundos europeus e será decisivo para definir o futuro de Portugal, mas nem o ministro Adjunto, que o tutela, o tornou tema do congresso. Só um congressista lá pela madrugada fora fez deste assunto o tema principal do seu discurso.

Relvas
Regressa a um cargo dirigente, depois de ter saído dos órgãos de direcção e do governo na sequência da polémica sobre a sua licenciatura. Passos quis reabilitar um amigo que foi sempre o seu número dois na política, mas o resultado não foi o melhor: a lista ao conselho nacional liderada por Miguel Relvas deu a Passos Coelho o pior resultado na votação para aquele órgão que é como que o parlamento do partido. Só conseguiu eleger mais quatro conselheiros do que a segunda lista mais votada. Ausente no Brasil, Relvas não foi ao Coliseu.

A grande dispersão de listas ao conselho nacional é uma tradição no PSD e mais uma vez cumpriu-se, mas desta vez com uma votação muito próxima entre as duas mais votadas. Os restantes mandatos foram distribuídos por mais seis listas.

Santana Lopes
Falou já depois da meia-noite. Começou por invocar o seu estatuto de Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e fazer um discurso mais emotivo sobre os casos graves a que é preciso dar atenção e aumentar as unidades de cuidados continuados e paliativos.

Acabou por fazer uma verdadeira proposta política: acabar com a figura da fiscalização preventiva da constitucionalidade.

Tribuno
Paulo Rangel provou, mais uma vez, que é dos melhores tribunos e os congressos gostam de tribunos. Vai liderar a lista às europeias, como há cinco anos (quando Ferreira Leite ainda liderava o partido) e arrasou António José Seguro, pedindo que apresentasse rapidamente o seu cabeça de lista.

O problema (para Seguro) é que Rangel desafiou e, menos de 24 horas depois, o líder do PS foi a reboque anunciar o seu cabeça de lista ali num instantinho em Santo Tirso.

Unidade
Passos Coelho não tinha adversários para este congresso. Rui Rio tinha avisado que não ia. Os seus adversários pareciam ser apenas os comentadores sociais-democratas, como Marcelo, Mendes, Ferreira Leite ou Pacheco Pereira, mas os dois primeiros foram ao Congresso prestar homenagem e jurar fidelidade ao partido.

Os outros – os que não foram – acabaram criticados pelos militantes por não expressarem as suas opiniões nos órgãos próprios do partido.

Vice-presidentes
O PSD sai deste congresso com dois novos vice-presidentes: José Matos Correia, que foi chefe de gabinete de Durão Barroso, e Carlos Carreiras, actual presidente da Câmara de Cascais. Juntam-se a Teresa Leal Coelho, Pedro Pinto, Jorge Moreira da Silva e Marco António Costa. Entre estes dois últimos continua a haver um frágil equilíbrio de poderes. Moreira da Silva continua a ser o primeiro vice-presidente e Marco António o coordenador da comissão política.

Zeca Mendonça
É, há décadas, uma figura essencial em cada congresso do PSD, em cada campanha, em qualquer iniciativa deste partido. Zeca Mendonça é director de comunicação do PSD, onde começou como segurança no PREC, serviu todos os presidentes do partido e sabe, como ninguém em nenhum outro partido, lidar com dirigentes e jornalistas e criar as condições para que todos possam desempenhar as suas diferentes funções.