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Instabilidade em Moçambique afecta negócios de portugueses

22 jun, 2014

Transportes e hotelaria são alguns dos ramos afectados.

Empresários portugueses na região centro de Moçambique estão a ser atingidos pelas ondas de choque dos confrontos entre Renamo e Exército, que mantêm a economia local em pausa, e esperam que a crise seja transitória.

"Os projectos grandes estão paralisados, tudo em banho-maria, e os que ainda estão a andar decorrem a uma velocidade mais lenta", descreveu à Lusa José Gonçalves Lopes, administrador da Godiba, uma empresa portuguesa sediada na Beira, província de Sofala, e dedicada aos transportes, construção, turismo e logística.

Esta tem sido a região mais afectada pelo despertar dos confrontos entre a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) e o Exército, apimentados por um diálogo sem evolução há mais de um ano e ainda por uma escalada nas últimas semanas das emboscadas quase diárias do braço armado do maior partido de oposição às escoltas militares das colunas civis na principal estrada do país.

"As pessoas inibem-se de avançar com investimentos, porque antes de tudo querem ver como isto vai acabar", informou por seu lado Vítor Ramos, director da empresa de transportes TTI e que sente, da boca dos seus clientes, um arrefecimento do ímpeto económico que a região experimentava antes desta crise.

Ao contrário de empresas de transportes moçambicanas, que ponderam paralisar a actividade por motivos de segurança, no troço de cem quilómetros entre Save e Muxúnguè, de escolta militar obrigatória e ainda assim atacada, na província de Sofala, a TTI não teve incidentes nos seus cinco a dez camiões que, em média cruzam, esta via por semana e nenhum motorista da empresa se recusou a viajar.

"Nada a lamentar, felizmente. Apenas alguns atrasos", segundo Vítor Ramos, para quem o risco de perder funcionários e bens se relaciona com a postura perante a vida. "Sou dos que vêem o copo meio cheio".

No passado 10 de Junho, o embaixador português em Moçambique celebrou o Dia de Portugal na Beira e saiu com a conclusão de que "as pessoas sentem que os seus negócios estão a ser afectados, que o ritmo de crescimento é menor do que o desejável e que a circulação de produtos é mais instável", embora tenha ressalvado que também existe a esperança de que a situação seja transitória e a economia retome o seu fluxo de crescimento.

"Não vi ninguém com vontade de ir embora, mas vi, apesar de tudo, pessoas apreensivas", declarou à Lusa José Augusto Duarte, após a visita à Beira, que acolhe a segunda maior comunidade portuguesa no país, muito atrás de Maputo, onde permanece a maioria dos 23 mil emigrantes estimados no país.

No ramo da hotelaria, a Godiba, que inaugurou uma unidade há menos de um ano na Beira, sente dificuldades de abastecimento, sobretudo de congelados, e já usa como alternativas os aviões, com um custo adicional até mais 40%.

Os bens tardam, as pessoas não. Apesar de tudo, o Hotel Lunamar mantém boas taxas de ocupação e "a vida segue, com preocupações mas normalmente", segundo José Gonçalves Lopes. "Está tudo em 'standby', pelo menos até às eleições".

Com um negócio de retalho e grossista de alimentos na Beira e em Nacala, o empresário português António Martins relatou à Lusa um aumento generalizado dos preços dos bens provenientes de Maputo, sobretudo dos congelados, mas também das frutas e legumes, com um custo adicional até 25%, e ausências temporárias nas prateleiras de produtos como o frango e peixe na segunda maior cidade do país.

"Os fretes da África do Sul, via Zimbabué, não sofreram alteração, mas em Maputo há muita gente a recusar-se", lamentou.

Após o Acordo Geral de Paz, em 1992, Moçambique revive no centro um cenário de guerra e que a Renamo ameaça alastrar a outras regiões do país. Além das emboscadas do braço armado do partido de oposição, o Exército reforçou as posições na serra da Gorongosa, onde se presume estar escondido o líder do movimento, Afonso Dhlakama.

Para 15 de Outubro estão previstas eleições gerais (presidenciais, legislativas e assembleias provinciais).