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Caso Freeport

Charles Smith confirma que pedido de dinheiro foi feito por Gandarês

09 jul, 2012 • Liliana Monteiro

José Sócrates quase não foi mencionado em tribunal esta segunda-feira e o “Pinóquio” era, afinal, um contabilista e não o ex-ministro do Ambiente.

Charles Smith confirma que pedido de dinheiro foi feito por Gandarês

O arguido Charles Smith disse em tribunal que foi o advogado José Gandarês a pedir dois milhões de euros para evitar o segundo chumbo do projecto Freeport.

Smith começou por dizer ao tribunal que nunca fez qualquer tentativa de extorsão e explicou depois que numa reunião com advogados, Gandarês pediu uma versão final de 1.250 mil contos para reformular o projecto Freeport e evitar o segundo chumbo. Diz o arguido que este advogado, genro do ex-ministro do PS Mário Cristina de Sousa, tinha credibilidade e mantinha relações com o ministro do Ambiente.

O colectivo de juízes quis esclarecimentos sobre informações trocadas com o Freeport, onde Charles Smith dizia, “temos de pagar montantes substanciais a pessoas para obter licenças”. O arguido garantiu não se recordar.

No entanto, Smith admitiu que depois de ver o projecto chumbado recorreu a Júlio Monteiro, tio de Sócrates, ministro do Ambiente na altura, para conseguir uma reunião ao mais alto nível para desbloquear a situação.

A confrontação com mensagens trocadas com a empresa Freeport continuou: Porque disse Smith aos ingleses que era preciso manter boas relações com o ministro? O arguido diz que queria ter escrito Ministério e que tinham noção que era dali que podia vir a aprovação.

Porque disse Charles Smith aos ingleses que eram necessárias 80 mil libras para pagar ao “Pinóquio”, como combinado com o “Bernardo”? O arguido respondeu que o “Pinóquio” – identificado por algumas testemunhas como sendo Sócrates – era afinal o seu contabilista a quem devia ser pago o dinheiro de impostos. Quanto ao nome de código “Bernardo”, Smith disse não se lembrar quem era.

Nem Charles Smith nem Manuel Pedro falaram sobre qualquer pagamento ilícito no âmbito do licenciamento do Freeport. O nome de José Sócrates ficou também sempre de fora dos depoimentos.

Charles Smith e Manuel Pedro, ex-sócios da empresa de consultoria Smith & Pedro, são co-arguidos no âmbito do processo Freeport e são acusados de tentativa de extorsão.

O julgamento prossegue no dia 16 com as alegações finais. O processo teve origem em alegadas ilegalidades na alteração da Zona de Proteção Especial do Estuário do Tejo (ZPET), para a construção do centro comercial.