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Roubo de igrejas: "Sem BI é como se as obras não existissem"

07 fev, 2013 • Ângela Roque

Directora do Secretariado dos Bens Culturais da Igreja diz que na base de dados de obras furtadas nos últimos anos constam já 600 peças, mas haverá muitas mais que não foram identificadas.

Só a inventariação do património religioso pode evitar que muitas obras roubadas se percam. O alerta foi deixado pela directora do Secretariado dos Bens Culturais da Igreja, Sandra Costa Saldanha, no habitual debate das quartas-feiras, na Edição da Noite, da Renascença.

Sandra Costa Saldanha confirmou que na base de dados de obras furtadas nos últimos anos constam já 600 peças, mas haverá muitas mais que não foram identificadas: “Se nós pensarmos que, em três meses, fizemos um levantamento de 600 obras furtadas em cerca de três ou quatro anos em todo o país, e que se, eventualmente,  elas chegarem a uma antiquário não existe um único registo em qualquer parte, percebemos como, com a maior das facilidades, a peça é comercializada e perdemos-lhe o rasto”.

A directora do Secretariado dos Bens Culturais da Igreja diz que se a isto se juntar “a circunstância de uma enorme percentagem do património da Igreja não estar inventariado, ou seja, não ter um ‘bilhete de identidade’”, pode concluir-se que uma peça que é roubada “é como se nunca tivesse existido”.

“Se ela, porventura, for recuperada, não pode ser devolvida, porque não há como provar donde ela vinha”, explicou Sandra Costa Saldanha, que conhece “situações inimagináveis”, como, por exemplo, ter “como único registo da peça uma fotografia de um casamento ou de uma procissão, onde a peça, por acaso, aparece”.

O bilhete de identidade (BI) do património religioso é feito pela Igreja, mas a Polícia Judiciária está a dar uma ajuda na identificação das peças roubadas.Nos casos mais recentes de roubo de igrejas, o alvo dos assaltantes nem têm sido obras de arte, uma vez que predomina o furto de valores, sendo os objectos de maior cobiça “as peças mais pequenas, mais fáceis de transportar e de serem vendidas, como as imagens e as peças de ourivesaria”.

Sandra Costa Saldanha adianta que “tem sido recorrente o vandalismo dos sacrários”, atingindo-se “um nível mais perigoso e preocupante” que se prende com “furtos que obrigam ao recurso de técnicas mais sofisticadas, peças de grandes dimensões, muito pesadas, como é o caso dos sinos, por causa dos metais”. Não deixam de ser alvo, também, “cruzeiros” ou até “pinturas murais”, que são “arrancadas das paredes”, tal como o são “painéis de azulejos inteiros”.

O empenho do Secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja na salvaguarda e divulgação do património religioso foi o tema central do debate desta quarta-feira na Renascença.

A revista "Invenire", o projecto "Cesareia" (um portal das bibliotecas eclesiais portuguesas) e a aplicação multimédia "App 365 dias, 365 obras" foram alguns dos projectos implementados pelo SNBCI que estiveram em destaque.