Um barato que não saiu caro

25 nov, 2013 • André Rodrigues

A partir desta terça-feira, a Ryanair começa a voar de Lisboa para Londres, Paris, Bruxelas e Frankfurt. Depois do Porto, a companhia irlandesa expande a operação em Portugal. A Renascença foi perceber o que pode acontecer em Lisboa e o que mudou no Porto.

O Porto tem outra vida. Há gente de todo o lado a circular pelo centro histórico. Seja por uma semana ou apenas por dois dias, tornou-se um dos destinos mais sofisticados e procurados, sobretudo por jovens turistas que se passeiam pausadamente e batem fotografias junto à estátua do rei D. Pedro, na Praça da Liberdade. É o fenómeno "low cost", impulsionado no Porto pela Ryanair.

Ina Bilic é croata. Estuda em Madrid e o Porto ficou-lhe "a 30 euros" de distância. "Se os preços fossem mais elevados, não conheceria estes destinos mais próximos." As estatísticas comprovam a tese de Ina: há oito anos, o aeroporto Sá Carneiro tinha três milhões de passageiros anuais; em 2012, eram seis milhões.

"Ao nível do número de dormidas na cidade, todas as expectativas que tínhamos quanto à vinda da Ryanair para o Porto foram não só atingidas, como superadas", explica Carlos Alves, professor na Faculdade de Economia da Universidade do Porto e autor do estudo de impacto económico da Ryanair no Porto e Norte de Portugal.

Pelo menos nos últimos cinco anos, o segmento hoteleiro cresceu significativamente, sobretudo na zona da Baixa. Joana Dixo, proprietária de um hostel, vê um Porto irrequieto. "A cidade teve uma evolução e uma dinâmica que a torna muito cosmopolita e muito competitiva quando comparada com outras da Europa e isso atrai os turistas para o Porto, que chegam cá através da Ryanair". E mesmo os não europeus voam a baixo custo. "Por exemplo, os brasileiros entram na Europa através da Irlanda por causa da facilidade dos vistos e depois vêm para o Porto pela Ryanair - e viajam pela Europa da mesma forma."


A identidade das regiões
A partir desta terça-feira, a Ryanair começa a operar em Lisboa. A Norte, colocam-se questões: fica tudo na mesma? A cidade e a região vão perder para a capital parte do que conquistou com a instalação da base da transportadora irlandesa?

"Estaria mais preocupado se a ANA continuasse na esfera pública e obedecesse a uma agenda política em que, para justificar a construção do novo aeroporto de Lisboa, tivesse de desviar tráfego do aeroporto do Porto", considera Carlos Alves.
 
Para o presidente do Instituto do Turismo (IPDT), Jorge Costa, cada "região tem a sua própria identidade", pelo que, mesmo num quadro de concorrência entre infraestruturas aeroportuárias, "não será intenção da Ryanair anular o modelo de negócio do Porto". "No Norte do país, temos o Douro, o Vinho do Porto e a beleza natural. Em Lisboa, temos a cidade - e nas proximidades temos outros pontos de interesse, como Fátima ou Óbidos", acrescenta Jorge Costa.

O presidente do IPDT sublinha ainda a capacidade que o Porto teve na adequação a este novo modelo de turismo. "Quando o comportamento do turista se altera, o tecido económico oferece negócios que se adequam a esse novo perfil. No caso do Porto, isso foi muito bem conseguido [por uma franja de jovens empreendedores] que abriram hostels muito interessantes pelas características, custo e socialização que proporcionam."

A Ryanair estima que as novas rotas a partir de Lisboa vão gerar mais de 400 mil passageiros por ano e mais de 400 postos de trabalho no aeroporto da Portela. Os primeiros voos acontecem esta terça-feira.