ÉVORA

A “revolução” renasce no palco, 40 anos depois do 25 de Abril

27 mar, 2014 • Rosário Silva

A polifonia de palavras e sentimentos vividos na “revolução dos cravos” chega ao teatro com recurso à linguagem e ao universo da escrita de António Lobo Antunes.

A “revolução” renasce no palco, 40 anos depois do 25 de Abril
“Autos da Revolução” é a co-produção do Centro Dramático de Évora (CENDREV) e d'A Companhia de Teatro do Algarve (ACTA) que estreia esta quinta-feira, em Évora. A nova produção teatral, dirigida pelo encenador Pierre-Etienne Heymann, propõe relatos cruzados de sete personagens que recordam o "seu" 25 de Abril.

“O operário carregador de mudanças de Lisboa, um banqueiro, uma burguesa caridosa do Estoril, a esposa de um contra-revolucionário que é surda-muda e fala, um militante político que foi preso em Caxias, uma camponesa explorada numa quinta de Palmela e a governanta do dono de uma quinta, também, de Palmela” são os testemunhos, revela à Renascença o encenador francês.

Profundo admirador do “um imenso escritor”, Pierre-Etienne Heymann pegou em trechos “muito interessantes” de cinco romances de António Lobo Antunes, que colocam a revolução como tela de fundo. São relatos que se cruzam numa verdadeira aventura artística.

“O interesse do texto vem das relações entre os relatos”, refere. “Cada um tem uma lembrança e uma visão da revolução muito diferente. E é essa a razão deste cruzamento”, explica o homem que dirige o espectáculo.

Um novo trabalho cénico e uma experiência de descentralização que pretende celebrar os 40 anos da revolução e lembrar, nos dias de hoje, as conquitas feitas nesse momento histórico para Portugal.

“Esta forma de mostrar o momento com a importância do 25 de Abril, através do olhar de pessoas tão diversas, o que é muito mais rico para o espectador que vai ficar a pensar sobre o momento que aconteceu há 40 anos” diz à Renascença, o director do CENDREV.

Para José Russo, “cada um de nós, olhando para a mesma coisa, não vê exactamente o mesmo ou vê de maneiras diferentes. São esses reflexos, do 25 de Abril, que ainda hoje, uns de forma positiva outros de forma negativa, estamos a sentir e queremos mostrar”.

“Autos da Revolução” é a nova produção que chega ao Teatro Garcia de Resende, em Évora, para ficar até 20 de Abril. No dia 25 de Abril, terá a primeira apresentação no Teatro Lethes, em Faro, onde vai ficar em cena até 11 de Maio.