Rezem para “acabar com a guerra” no Congo

18 mai, 2013 • Rodrigo Santos

A Renascença falou com o arcebispo de Bukavu e administrador apostólico de Uvira, D. François-Xavier Rusengo que deu conta da actual situação do país.

Pilhagens, corrupção, violações, assassinatos e mortes diárias. Nos últimos 50 anos estima-se que mais de um milhão de pessoas morreu no território que é a República Democrática do Congo, ex-Zaire e ex-Congo belga.

Em Portugal, a convite da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre para chamar a atenção para o drama dos congoleses, o arcebispo de Bukavu e administrador apostólico de Uvira, D. François-Xavier Rusengo fala das perseguições e da guerra.

A República Democrática do Congo é um país rico. No subsolo existe ouro, estanho e coltan – o cobiçado mineral fundamental para electrónica - presente em telemóveis, computadores, “tablets” e na indústria espacial. 80% das reservas estão naquele país africano.

O arcebispo de Bukavu reconhece que as riquezas no subsolo estão na origem de guerras, mas que existe esperança apesar da cobiça dos vizinhos.
“Eu penso que a primeira coisa a fazer é ter consciência que a população do Congo também tem direitos, vontades e desejos. Eu penso que a felicidade é um direito de todos. Desta forma, os congoleses têm o direito de desfrutar de uma forma ou de outra. Tem de ser ter consciência que actualmente se pode trabalhar no Congo, para os congoleses e com os congoleses. E eu creio que funciona”.

O senhor é Arcebispo de Bukavu, perto da fronteira com Ruanda. A proximidade com Ruanda é um problema?
“Sim, mas de todas as facções, eu penso que todos os países vizinhos podem constituir um problema para nós, mas podem também constituir uma solução para nós. Porque a relação transfronteiriça pode ser uma fonte de desenvolvimento, porque estão aqui perto, mesmo ao nível da fronteira. Actualmente, parece que há um problema, porque há muitas forças armadas, muitas milícias, etc, a estabelecer relações que talvez não sejam muitos boas a nível político, porque passam uma imagem não tão boa para o Congo. De uma forma ou de outra, à entrada como à saída, não há ocasião para rescindir destes jovens aqui nem nos outros países do mundo.”

Nos últimos 50 anos, fala-se de um milhão de mortos. Qual é a política possível para combater este problema?
“Eu penso que a política congolesa está a caminhar aos poucos. Como nós conhecemos os últimos anos, longos anos, de ditadura que não ajudaram o Congo a desenvolver-se. Durante a ditadura deparamo-nos com um longo período de guerra, e agora estamos a entrar na fase da Democracia. Nós estamos a trabalhar em tudo, com seriedade, incluindo os dirigentes políticos. Porque os Congoleses, têm o direito, e o dever de construir o seu país. Eu penso que se não existissem estas perturbações das guerras, seriamos já um bom ponto de partida e de estabilização do nosso país. O que custa é que a guerra veio do exterior, não é uma questão interior, e isso é que custa.”

Os países da União Europeia, os Estados Unidos, o Japão, a ONU… é necessário mudar as políticas para África, mais propriamente para a República Democrática do Congo?
“Eu penso que sim, para África em geral, é mesmo muito importante. África é um continente, habitado por homens, homens esses que têm a inteligência normal e que podem trabalhar. É preciso as relações partidárias, e o respeito mútuo: se se tem mais indústrias para o desenvolvimento num continente do que noutro. Algo tem de se fazer para essas indústrias para se desenvolverem e funcionarem. Portanto, nós que temos as matérias-primas, temos de ter em conta os preços e todas as despesas, porque vamos fornecer estas matérias-primas aos países industrializados, que depois fornecem o produto final aos países africanos. Tem de haver sempre uma partilha e respeito mútuo.”

Esteve em Fátima esta semana. Qual é a sua mensagem para os portugueses?
“Que eles rezam muito pelas pessoas que não têm paz. Em particular a Fátima e também já pedi a Virgem Maria para ela dar a mensagem às suas três crianças… rezar para acabar com a guerra. Eu queria pedir também que ela faça a guerra acabar no Congo, em particular, e no mundo em geral. Porque há muitas injustiças que os homens sofrem por causa da guerra (não sei se esta frase está correcta). Se a guerra acabar, o mundo ficará em paz.”