A empresa onde o Evangelho vale mais do que um livro de gestão

Um dos funcionários tinha uma “relação estreita”  com o álcool. Os responsáveis da empresa propuseram-lhe que assumisse a função de motorista. Aceitou, deixou o álcool e desempenhou a tarefa durante dez anos. Cátia, mãe solteira, faltava muito ao trabalho, o que dificultava a produção. Mas a empresa não desistiu dela e, meses depois, ganhou uma funcionária – ou melhor, um ser humano – que se sentia “útil socialmente” e com auto-estima renovada.

A empresa leiriense Faria & Irmão, com unidades de produção em Felgueiras e S. João da Madeira, toma diariamente decisões que parecem ir contra as práticas correctas de gestão. É António Faria Lopes, da administração, que o admite: “São muitos os momentos em que nos encontramos a desafiar a lógica”.

Mesmo assim, são “líderes” na sua actividade, as formas para a indústria do calçado.

Porquê? “Muitas pessoas felizes fazem empresas produtivas”, explicou, esta sexta-feira, António Faria Lopes, que contou a história da sua empresa num dos grupos de trabalho da Semana Social, que decorre na Casa de Vilar, no Porto.

A empresa familiar, com 56 anos de existência, inspira-se na Economia de Comunhão, movimento nascido no Brasil em 1991. O Evangelho é tão (ou mais) importante do que um livro de gestão: ou, em linguagem empresarial, os recursos humanos são o centro de qualquer decisão.

Esta atitude empresarial traz espinhos. “A dúvida, a incerteza e, porque não, o desespero fazem parte desta caminho”, reconheceu Faria Lopes. Mas “o lucro é riqueza social que deve ser colocada ao serviço do bem comum”.

A Semana Social decorre na Casa de Vilar até  domingo, sob o tema “Estado Social e Sociedade Solidária”.