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Papa eleva as crianças como “diagnóstico” do mundo

25 mai, 2014 • Filipe d’Avillez

Na missa celebrada em Belém, na Palestina, o Papa criticou as organizações que “exploram a imagem das crianças pobres para fins de lucro” e todos os que obrigam as crianças a combater.  

Papa eleva as crianças como “diagnóstico” do mundo
O Papa Francisco elevou este domingo a figura das crianças como sinal de “diagnóstico” do estado das sociedades e das famílias.

Durante a homilia da missa a que presidiu em Belém, na Palestina, o Papa partiu da imagem do Menino Jesus, nascido precisamente naquela terra, para traçar um paralelo com os tempos de hoje.

“O Menino Jesus, nascido em Belém, é o sinal dado por Deus a quem esperava a salvação, e permanece para sempre o sinal da ternura de Deus e da sua presença no mundo.”

“Também hoje as crianças são um sinal. Sinal de esperança, sinal de vida, mas também sinal de ‘diagnóstico’ para compreender o estado de saúde de uma família, de uma sociedade, do mundo inteiro”, afirmou.

“Quando as crianças são acolhidas, amadas, protegidas, tuteladas, a família é sadia, a sociedade melhora, o mundo é mais humano.”

Sublinhando a necessidade de se protegerem as crianças “desde o ventre materno”, o Papa lamentou o facto de haver ainda tanto sofrimento no mundo, algo que considerou ser vergonhoso: “Infelizmente, neste nosso mundo que desenvolveu as tecnologias mais sofisticadas, ainda há tantas crianças em condições desumanas, que vivem à margem da sociedade, nas periferias das grandes cidades ou nas zonas rurais”.

“Demasiadas são hoje as crianças exiladas, refugiadas, por vezes afundadas nos mares, especialmente nas águas do Mediterrâneo. De tudo isto nos envergonhamos hoje diante de Deus, Deus que Se fez Menino.”

Pedindo a cada um que examine a sua consciência sobre a forma como responde aos apelos das crianças de hoje, o Papa deixou também críticas discretas a algumas organizações que, considera, “exploram as imagens das crianças pobres para fins de lucro”.

Mais directa foi a crítica feita a todos os envolvidos no tráfico de armas, à imagem do que já tinha dito no sábado, na Jordânia: “Num mundo que descarta diariamente toneladas de alimentos e remédios, há crianças que choram, sem ser preciso, por fome e doenças facilmente curáveis. Num tempo que proclama a tutela dos menores, comercializam-se armas que acabam nas mãos de crianças-soldado; comercializam-se produtos confeccionados por pequenos trabalhadores-escravos. O seu choro é sufocado: têm que combater, têm que trabalhar, não podem chorar!”

Por fim, diante de uma Praça da Manjedoura repleta de fiéis, o Papa pediu mudanças e conversão de vida: “Deste diagnóstico franco e honesto, pode brotar um novo estilo de vida, onde as relações deixem de ser de conflito, de opressão, de consumismo, para serem relações de fraternidade, de perdão e reconciliação, de partilha e de amor.”

O Papa chegou esta manhã à Palestina, depois de um dia passado na Jordânia. Ainda esta tarde viaja para Israel, de onde parte na segunda-feira, de volta para Roma.