Emissão Renascença | Ouvir Online

Há cada vez mais gente sem dinheiro para pagar taxas moderadoras

12 nov, 2013

Presidente do Centro Hospitalar Lisboa Norte garante que novos casos de alegada carência económica vão ser averiguados. Administração decidiu eliminar as dívidas com mais de três anos e garante que, "em situação alguma", recusa atender alguém.

O presidente do Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN) revelou esta terça-feira que são cada vez mais os utentes que, não sendo isentos do pagamento de taxas moderadoras devido a carência económica, alegam não ter dinheiro para pagar os serviços clínicos nos hospitais Santa Maria e Pulido Valente.

A falta de pagamento de taxas moderadoras "agravou-se muito" em 2012, representado já "um volume financeiro muito significativo de pessoas que manifestaram impossibilidade financeira de pagar a taxa moderadora, não estando isentos", revela Carlos Martins.

O responsável reconhece o peso da crise na diminuição da procura e diz que a instituição prepara medidas para reaver algumas dívidas, tendo decidido adoptar, para 2014, um conjunto de medidas que permitam verificar a veracidade das situações.

"Vamos tentar aferir. Se não for verdade vamos cobrar de uma forma contenciosa", afirma.

Carlos Martins tem, contudo, "perfeita noção de que parte da perda de utentes/doentes tem a ver com a situação económica da pessoa" e revela que aumentou a dispensa de medicamentos de forma graciosa, que no caso da prescrição privada aumentou 52%.

Este trimestre, a instituição começou a enviar cartas a quem não pagou, a dar nota da sua dívida e a convidar a regularizar a sua situação ou a provar a incapacidade de pagar a taxa moderadora em dívida.

A administração decidiu eliminar os casos de dívidas com mais de três anos, não só pelo seu "valor insignificante", mas pelo risco de alguns desses utentes já terem morrido.

"Em situação alguma recusamos atender alguém, continuar o tratamento ou voltar a atender o utente e temos pessoas que vêm há dois, três anos e que dizem que não têm meios para pagar", disse.

Sobre a evolução da procura dos serviços destes hospitais, Carlos Martins reconhece mudanças. "Perdemos doentes por três ordens de razão: a crise que o país vive, a abertura do Beatriz Ângelo (novo Hospital de Loures) e agora do Vila Franca de Xira e a agressividade cada vez maior dos hospitais privados", explica.

A diminuição foi mais significativa nas consultas e nas urgências.

Hospitais criam banco alimentar
Os hospitais de Santa Maria e Pulido Valente decidiram criar um banco alimentar para recolher as sobras diárias das duas unidades e distribuir pela comunidade e pelos funcionários carenciados.

O centro hospitalar soma 6.400 trabalhadores, 2.400 alunos e cerca de três mil doentes.

Projectos para contornar quebras
No âmbito da reorganização, o hospital deverá chegar ao fim do ano com 1.170 camas (das 1.268 que existiam).

Ao nível da obstetrícia – questão mais premente tendo em conta a "fronteira" dos 1.500 partos necessários para manter um bloco de partos a funcionar – Carlos Martins sublinhou que "não passa pela cabeça que um hospital universitário não tenha bloco de partos".

Para contornar a diminuição da procura nesta área, o administrador revelou que o CHLN está a analisar com a Administração Regional de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) uma alteração da rede de referenciação para aumentar a área de responsabilidade e, com isso, ter mais partos.