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Economia. O que pensam os potenciais novos eurodeputados do futuro europeu?

20 mai, 2024 - 12:38 • Daniela Espírito Santo

Conferência "Para Onde caminha Portugal na Europa?" decorre esta segunda-feira, em Vila Nova de Gaia.

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Não é possível ponderar "Para Onde Caminha a Europa?" sem falar com quem quer desenhar esse futuro. Na conferência desta segunda-feira, em Vila Nova de Gaia, estiveram presentes representantes das listas de candidatos a eurodeputados, que discutiram o que irá marcar o próximo ciclo europeu.

José Manuel Pureza, do Bloco de Esquerda, foi o primeiro a falar e vaticinou que as próximas discussões em Bruxelas estarão marcadas pelo "regresso das regras de natureza orçamental", suspensas na pandemia. Pureza adivinha, por isso, uma "atitude de confronto por parte das instituições europeias", que promete combater.

Para o bloquista, todas as instituições europeias têm "responsabilidade democrática" e "não há nenhuma que possa ficar a salvo da fiscalização democrática", nem o Banco Central Europeu.

"As democracias são assim. Há decisões do BCE e da Ecofin que têm consequências na vida das pessoas. A política alta de juros foi a mais política das decisões", defendeu mais tarde, ao ser confrontado por Pedro Pereira, da Iniciativa Liberal, que falou em "ataque à independência do BCE" por membros do painel.

Numa primeira discussão muito focada em temas económicos, Mariana Nina Silvestre, do Chega, aproveitou a sua primeira intervenção para afiançar que temos "muitas desculpas para a fraca situação económica atual", mas "temos pouca atitude". Para a candidata a eurodeputada, é em Bruxelas que "a luta se vai travar" contra o "flagelo" da emigração dos jovens portugueses. "Estamos a mãos com uma crise social também muito por causa de um desinvestimento nos portugueses", defende, admitindo que não basta pedir dinheiro: "temos de fazer com que Bruxelas contribua para o nosso crescimento".

No entanto, e paralelamente, o país precisa de acabar com a ideia da "esmola europeia". "Portugal tem sido o pedinte da Europa", diz, mas "o dinheiro que entra" reflete-se "em poucas medidas de crescimento".

Jovens, precariedade e novos empregos

Francisco Calheiros, do PCP, também se focou na precariedade, "uma guilhotina sobre a cabeça dos nossos jovens", que "são obrigados a procurar melhores condições de vida no estrangeiro". Pegando novamente no tema do BCE, o comunista recordou que foi por iniciativa da sua família partidária que foi discutida, pela primeira vez, no Parlamento Europeu, "a política de taxas de juro", "apenas após a sétima subida das taxas".

"O BCE tem de responder perante o Parlamento Europeu. Não pode passar à margem das instituições democráticas", reitera, antes de pedir mais investimento "nos serviços públicos", como o Serviço Nacional de Saúde, transportes públicos tendencialmente gratuitos e pedindo um "investimento claro numa rede de creches que sirva os trabalhadores".

Em resposta, Pedro Pereira, da IL, relembra "exemplos de casos em que as instituições de base política interferiram na política monetária" e diz que o resultado foi sempre o mesmo: inflação. "É natural que só depois da sétima subida das taxas se falou de juros no Parlamento Europeu porque não é lugar onde tal deva ser debatido. Não está no âmbito do Parlamento Europeu, como também não estão as creches", diz o liberal, que se queixa de "nacionalização da discussão europeia".

"Há uma contaminação dos debates sobre questões europeias com questões nacionais. Só aqui já ouvimos três temas que não fazem parte da discussão europeia", lamenta.

Já Filipe Caetano, do Livre, também respondeu à IL, assegurando que ninguém quer "atacar a independência do BCE", mas todos deveriam querer "accountability" (ou responsabilidade). "Não é ditar regras para o BCE... mas a Iniciativa Liberal tem esta vontade de liberalizar tudo, o que traz efeitos muito graves, como vimos na grande crise de 2008/2009", defende.

"Não podemos perder de vista o que faz um deputado europeu e quais são as suas reais responsabilidades", pediu Filipe Caetano, aproveitando a oportunidade para garantir que o objetivo do partido que representa na Europa será "forçar discussões e trazer assuntos importantes para a mesa", para "defender os europeus". Entre estes assuntos poderão estar, adianta, as 35 horas semanais e os quatro dias de trabalho e o salário mínimo europeu.

Continuando no tema dos salários, Sérgio Humberto, da AD, por sua vez, diz que "os rendimentos líquidos que as pessoas levam para casa são uma preocupação" da sua candidatura. "Um médico no Luxemburgo ganha oito vezes mais do que em Portugal. Sou a favor de uma conjugação europeia nesse sentido, porque Portugal vai beneficiar. Ter uma remuneração que seja correspondente em Portugal, no Luxemburgo, na Alemanha, na Espanha... é um caminho que temos de percorrer", defende.

Para Sérgio Humberto, no entanto, "Portugal ganhou e muito com a entrada na União Europeia", pelo que "temos de estar preocupados com as forças eurocéticas", quer venham da extrema-direita ou da extrema-esquerda, pois acredita que existem "dois blocos". "É nos moderados que existe o equilíbrio", reforçou.

"O clima mudou e as políticas têm de mudar"

Também Ana Catarina Mendes, do Partido Socialista, acredita que "a Europa é muito importante para Portugal", porque, do ponto de vista económico, "foi crescendo ao longo dos anos acima da média europeia", foi "um dos países da UE que mais reduziu a sua dívida pós-Covid" e, se não tivesse sido o projeto europeu "teríamos tido uma crise enorme" na pandemia.

"Quando olhamos para a resposta que demos à pandemia, foi possível, a nível europeu, encontrar respostas", elogia, destacando o papel de Mário Centeno, por exemplo, nas negociações com a Ecofin, garantindo que, desta forma, "postos de trabalho foram preservados, pessoas receberam o seu salário mesmo em confinamento e criou-se o Plano de Recuperação e Resiliência".

"Em oito anos, Portugal cresceu cinco vezes mais do que a média europeia em termos de emprego", salienta, antes do debate se virar para os desafios da "transição energética" e digital, que a maioria encarou como uma oportunidade para criar novos empregos.

"A crise climática sensibilizou-nos a todos para a necessidade de mudança", começou por dizer sobre o tema Hugo Alexandre Trindade, do PAN, para quem "o clima mudou e as políticas têm de mudar".

Para o ecologista, "abrem-se agora oportunidades para a economia verde" que, a curto e médio prazo, podem criar "1,2 milhões de postos de trabalhos altamente qualificados". "Por cada euro que gastamos na economia verde, ganhamos dois", assegura.

Também a economia digital tem "um enorme potencial", pelo que o futuro do emprego terá de passar pela "sensibilização para a educação digital da sociedade" portuguesa, que tem de ser agilizada para que a população "esteja cada vez mais preparada para as novas tecnologias". "Pela primeira vez temos acesso ao conhecimento, temos gerações altamente qualificadas, temos oportunidades para trabalhar além-fronteiras. Deveria ser esta a prioridade máxima das nossas políticas", remata.

[Notícia atualizada às 13h00 de 20 de maio de 2024]

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