A+ / A-

Reportagem

Greve na Função Pública. "Agora, onde vou deixar o meu filho? A escola podia ter avisado…”

17 mai, 2024 - 10:43

O setor da educação será, até agora, o mais afetado pela greve. É a primeira paralisação que o novo Governo enfrenta e vai haver manifestação em frente ao Ministério das Finanças.

A+ / A-

A fila está formada desde ontem à noite. Na Loja do Cidadão, às Laranjeiras, Lisboa, cerca de meia centena de pessoas, a maioria imigrantes, aguardam pela abertura de portas para poderem aceder aos serviços. Na porta de entrada, agora feita pelas traseiras do edifício onde funciona a loja do cidadão, nenhuma informação sobre o dia de greve na administração pública. Daí que Adriana Paiva, uma cidadã brasileira que tenta resolver um problema nas Finanças, se surpreenda com a notícia da greve.

"Será impossível para mim voltar ainda este mês, como me exige a Autoridade Tributária, para resolver pagamentos por conta em atraso", lamenta, admitindo, contudo, que vai aguardar pela hora de abertura de portas para perceber se se confirma o protesto. E lá iam chegando mais pessoas, que engrossavam a fila.

Na AIMA, a Agência para a Integração, Migrações e Asilo, não havia fila, esta manhã. Depois de vários dias em que centenas de pessoas, assustadas com um e-mail para pagar uma taxa para dar seguimento aos processos de autorização de residência, acorreram aos serviços, os problemas informáticos na página online da AIMA terão sido resolvidos e os requerentes terão conseguido resolver à distância muitos dos problemas. E assim sendo, como que por magia, as filas "evaporaram-se".

No interior da sala de espera não eram mais do que trinta as pessoas que esperavam pela sua vez. Lina Mendes, que chegou às três da manhã para evitar as filas — e que afinal não existiram —, entrou antes das sete da manhã, porque a AIMA alargou o horário de funcionamento. Em menos de uma hora, estava despachada e a sair.

"Vim resolver assuntos de título de residência. E o que tinha para fazer hoje já está resolvido".

Não sabia da greve, mas também fez questão de sublinhar que no interior da AIMA não se notou, porque estavam "cinco ou seis funcionários" no atendimento.

Menos sorte teve um outro imigrante, de origem nepalesa, que de declaração médica na mão, foi tentar incluir a mulher no Serviço Nacional de Saúde.

"Está grávida, o meu filho nasce em agosto. Só que a minha mulher tem uma condição de saúde" que coloca em risco o parto, e por isso "tem de receber um tratamento caro, mas não consegue pedi-lo no hospital".

Noutra zona de Lisboa, na Graça, uma funcionária vai acenando que não com a cabeça, à medida que os mais adiantados chegam ao portão da escola, para mais um dia de aulas na Secundária Gil Vicente. Cada vez mais alunos vão chegando, alguns acompanhados dos pais, que ao contrário dos dias anteriores não os deixam à porta da escola, de carro, seguindo depois para o trabalho. As dúvidas quanto á adesão á greve dissipam-se quando, a mesma funcionária, sai do portão e cola num dos pilares uma folha A4 com o aviso: "Devido à greve a escola encontra-se sem atividades letivas".

Alguns pais começaram a fazer contas à vida.

“E agora, onde vou deixar o meu filho? A escola podia ter avisado…”.

Até que uma mãe de um outro aluno explica que só no dia se percebe a adesão a uma paralisação, e que, por isso, é difícil avisar quem seja.

De portas fechadas ficaram também outras escolas, como a Luísa de Gusmão, na Penha de França, ou a Filipa de Lencastre, na zona do Arco do Cego.

Não muito longe, na Avenida 5 de Outubro, o Instituto de Segurança Social ainda mantinha as portas fechadas à hora normal de abertura. Pouco mais de quarenta pessoas aguardaram pelas nove da manhã para perceber que a greve também afetou aqueles serviços. Irritada com a situação estava uma mulher grávida, acompanhada do marido, que garante ter vindo de fora de Lisboa para "resolver com a Segurança Social um problema que obrigou a uma marcação de uma reunião agendada para hoje".

Regressou a casa, com a certeza que terá de marcar outra data e voltar mais tarde.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Elizabeth
    27 mai, 2024 Lopes 06:29
    Os Portuguese estão fartos de serem espezinhados pelo governor. Portugal NÃO É UM PAÍS COM CONDIÇÖES PARA PORTUGUESE QUANTO MAIS IMIGRANTES. A ESCOLA NÃO É UM ATL NEM NÓS SOMOS BABYSITERS.

Destaques V+