Novas Crónicas da Idade Mídia
O que se escreve e o que se diz nos jornais, na rádio, na televisão e nas redes sociais. E como se diz. Eduardo Oliveira e Silva, Luís Marinho, Luís Marques e Rui Pêgo são quatro jornalistas com passado, mas sempre presentes, olham para as notícias, das manchetes às mais escondidas, e refletem sobre a informação a que temos direito. Todas as semanas, leem, ouvem, veem… E não podem ignorar. Um programa Renascença para ouvir todos os domingos, às 12h, ou a partir de sexta-feira em podcast.
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O nosso tempo cancelou a esfera privada

Novas Crónicas da Idade Mídia

​O nosso tempo cancelou a esfera privada

31 mai, 2024 • Eduardo Oliveira e Silva, Luís Marinho, Luís Marques e Rui Pêgo


As eleições na Madeira, as eleições europeias, a operação Influencer e as declarações do Papa Francisco são alguns dos temas deste programa.

“Instabilidade”, escrevia a toda a largura da primeira página o Jornal da Madeira na segunda-feira a seguir às eleições na ilha. De facto, todos os arranjos parlamentares parecem apontar para um quadro de ingovernabilidade.
PS e JPP apareceram juntos publicamente para anunciarem disponibilidade para assumir o governo regional. Miguel Albuquerque que ganhou as eleições com o pior resultado de sempre do PSD na Madeira, juntou os 2 deputados do CDS e foi indigitado presidente do Governo Regional. Projeta-se uma vida muito difícil para um governo minoritário com um chefe publicamente fragilizado.

O que fica desta eleição é a derrota inequívoca da esquerda (comunistas e bloquistas foram removidos da Assembleia Regional) e o PS não consegue crescer, o que deveria preocupar as hostes socialistas, tendo em conta o embrulho judicial em que se encontra o candidato social-democrata. O crescimento do JPP (Juntos Pelo Povo) que dilata a sua votação e elege 9 deputados, pode querer dizer que o voto anti sistema já não reconhece o Chega como único destinatário ou já o considera integrado no sistema. O resultado da Madeira pode ter impacto nas eleições europeias? Ninguém acredita nisso.

Sendo certo que as sondagens valem o que valem, a verdade é que a pouco mais de uma semana das eleições europeias AD e PS aparecem lado a lado (Público, 21) ou com vantagem razoável para o PS (Expresso, 24). De acordo com o documento publicado pelo Expresso, Cotrim de Figueiredo ficará fora do Parlamento Europeu, assim como o Livre e o PAN. CDU e BE reduziriam a sua representação. No inquérito, a maioria dos portugueses manifesta-se satisfeita com a democracia na Europa. Os inquiridos reforçam o apoio ao euro, ao benefício de Portugal pertencer à UE e à eventual criação dos Estados Unidos da Europa.

António Costa foi ouvido pelo MP, no DCIAP, no âmbito da Operação Influencer, na condição de declarante. Uma espera de 6 meses para uma audição de 20 minutos. O ex-primeiro ministro não foi constituído arguido. O que pode ser lido como uma etapa importante para o eventual arquivamento do processo no que a Costa diz respeito. A partir do momento em que deixe de ter qualquer embaraço judicial, o ex-chefe do Governo ganhará nova capacidade para concorrer à Europa. Mas, claro, tudo dependerá do resultado das próximas eleições e da correlação de forças que venha a estabelecer-se entre as famílias políticas europeias.

A viagem relâmpago de Volodymyr Zelensky a Portugal teve uma larga cobertura mediática, embora não se tratasse de “um dia de festa”, como o classificou Sebastião Bugalho, o cabeça de lista da AD às europeias. Para lá dos acordos assinados e do reforço financeiro de apoio à guerra, a visita de Zelensky deixou claro que o Presidente ucraniano se deslocou para pedir a Portugal e Espanha ajuda para a sensibilização dos países de África e da América Latina para a importância da presença na Cimeira da Paz a meio de Junho.

Neste nosso tempo, o que é privado não fica privado. É definitivo. Esfrangalhou-se completamente a já muito ténue separação entre público e privado. Nos nossos dias tudo é público. A discussão vem a propósito do episódio que envolveu o Papa Francisco que terá usado, numa reunião com bispos italianos, uma expressão ofensiva para se referir aos homossexuais. O comunicado do Vaticano em que o Santo Padre pede desculpa na eventualidade de ter ofendido alguém, em nenhum momento confirma que o Papa tenha usado a expressão em causa. Apesar de a informação ter sido replicada pelo La Repubblica e pelo Corriere della Sera, ninguém de bom senso acredita que o autor do apelo de Lisboa “Todos, Todos, Todos” tenha proferido o que se diz que disse. Mas uma coisa é certa: este nosso tempo cancelou a esfera privada.

Em suplemento ao programa, nos Grandes Enigmas, os vídeos de campanha do CDS para lá de absurdos fazem um apelo: vota Seguro! Quem é o Seguro? O Seguro não era do PS? Porque é que os partidos não contratam pessoas com um mínimo de conhecimento sobre marketing político?
Mil milhões de euros foi a última dádiva da UE ao Líbano. Para quê? Suster na origem os fluxos de migração para a Europa, no caso entre o Líbano e Chipre. A UE vai manter a hipocrisia do discurso sobre a contenção da imigração nos países de origem? Marques Mendes fez, na SIC, um retrato real do “monstro”, como Cavaco, há uns anos, qualificou o Estado. Será que algum dia se conseguirá reformar a administração pública?

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