Paula Margarido
Opinião de Paula Margarido
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A política, essa arte de amor…

12 mar, 2024 • Paula Margarido • Opinião de Paula Margarido


Urge olhar para a profundidade da realidade, indo em busca de uma unidade que permita fazer acontecer o bem comum, esquecendo a intriga, a zanga, o conflito, a vaidade, os interesses pessoais.

O Papa Francisco, num encontro com os membros da Fraternidade Chemin Neuf, aos 16 de maio de 2022, disse que “a política é a arte do encontro, da reflexão e da ação”.

Quantas vezes temos escutado “são todos iguais”, “são uns ladrões”, “nada fazem por nós”. E estes sinais de desconfiança surgem nos momentos de maior dificuldade em que o povo, a população, sente que os políticos pretendem mais ser servidos do que servir.

Urge mudar esta estranha forma de atuar, em que quantas e quantas vezes quem está no exercício do poder político, ainda que com boas intenções, dificilmente comunica como exerce o seu ministério, dificilmente explica os fundamentos das suas opções e parece não querer escutar a sociedade que reclama por melhores condições de vida, por melhores serviços, por mais saúde, educação e justiça!

Este saber escutar deverá traduzir-se na escolha acertada de políticas que, para além do auxílio aos mais fragilizados, devem apostar, designadamente, na captação de investimento que permitirá pagar melhores salários e evitar a fuga dos nossos jovens, que almejam noutras paragens as remunerações que não obtêm no país que os formou.

Bem sei que não é fácil, mas urge olhar para a profundidade da realidade, indo em busca de uma unidade que permita fazer acontecer o bem comum, esquecendo a intriga, a zanga, o conflito, a vaidade, os interesses pessoais. Educamos os nossos filhos a respeitar o próximo, a saber falar no momento oportuno com assertividade e empatia e assim, também, deve acontecer na política.

Ouçamos, reflitamos, estudemos e, munidos dos adequados instrumentos, então atuemos. Não nos esqueçamos que devemos estar atentos ao próximo e falar, esclarecidamente, no adequado momento e não gritar. A gritaria e a forma acintosa de proceder são próprias de quem já não tem capacidade para encontrar argumentos e pretende a todo o custo permanecer no poder ou alcançá-lo.

“A política é a forma mais alta, maior, de caridade. O amor é político, isto é, social, para todos”. Logo, a política não pode ser egoísta, arrogante, nem invejosa e não se pode alegrar com a injustiça, antes deve rejubilar com a verdade que se traduz em procurar em cada dia a melhor solução que colocará a pessoa, a sociedade, no centro. E os políticos deverão ser aqueles intervenientes que se maravilham com a arte de servir e que não se conformam com o grito da pobreza, com o insucesso na Educação, com o insucesso na Justiça, com o insucesso na Saúde.

A vida é feita de sinais e de momentos que nos auxiliam no caminho, daí que em cada etapa da vida pública, os políticos deveriam recordar as “bem-aventuranças do político”, propostas pelo Cardeal vietnamita Francisco Xavier Nguyen Van Thuan, e que são as seguintes: “bem-aventurado o político que tem uma alta noção e uma profunda consciência do seu papel; bem aventurado o político de cuja pessoa irradia a credibilidade; bem-aventurado o político que trabalha para o bem comum e não para os próprios interesses; bem-aventurado o político que permanece fielmente coerente; bem-aventurado o político que realiza a unidade; bem-aventurado o político que está comprometido na realização duma mudança radical; bem-aventurado o político que sabe escutar; bem-aventurado o político que não tem medo”.

Que a boa política permita que cada um possa “contribuir com a própria pedra para a construção da casa comum”, do bem comum!


Paula Margarido é advogada e presidente da Equipa de Coordenação Nacional das 21 Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis

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