futebol internacional

Xabi Alonso, o treinador sem medo de dizer não e que terminou com a hegemonia do Bayern

15 abr, 2024 - 11:15 • Eduardo Soares da Silva

Rejeitou no passado a Bundesliga para continuar a treinar na quarta divisão espanhola e agora optou por fechar a porta ao interesse de Liverpool e Bayern de Munique para seguir no Leverkusen, clube que levou à conquista de um inédito campeonato.

A+ / A-

Não foi o Dortmund, nem o Leipzig, mas sim o Bayer Leverkusen que, no último domingo, terminou com uma hegemonia de 11 títulos seguidos do Bayern de Munique. Um dos principais responsáveis pelo primeiro título da história do clube é o treinador Xabi Alonso, na sua primeira experiência à frente de uma equipa principal.

Foi em grande estilo, com uma goleada caseira por 5-0 frente ao Werder Bremen, que o Leverkusen confirmou matematicamente a conquista de um título que parecia garantido já há várias semanas, à medida que se acumulavam as escorregadelas do crónico campeão Bayern.

O Leverkusen, a única equipa invicta em toda a Europa com um registo de 38 vitórias e cinco empates em 43 jogos, vai ainda disputar a final da Taça contra o Kaiserlautern, da segunda divisão, e tem bem encaminhada a passagem às meias-finais da Liga Europa.

Xabi acabou com a alcunha do “Neverkusen”, que junta o 'nunca' ao nome do clube. Apesar de mais de 40 anos na Bundesliga e cinco vice-campeonatos, o clube nunca tinha conseguido vencer o título num país que, apesar do domínio recente do Bayern, viu sete clubes diferentes levantarem o troféu nesse período.

A alcunha tornou-se uma piada nacional na temporada 2001/02 quando o Leverkusen desperdiçou o seu primeiro título nas últimas jornadas.

Com cinco pontos de vantagem para o Dortmund a três rondas do fim do campeonato, o título parecia mais perto do que nunca, mas a equipa de Klaus Toppmöller desmoronou como um baralho de cartas: perdeu com o Werder Bremen e com o Nuremberga e permitiu ao Dortmund tornar-se campeão.

Mas a tragédia não ficou por aqui. O Leverkusen, que contava com estrelas como Ballack, Lúcio, Berbatov e Zé Roberto no plantel, viria ainda a perder a final da Liga dos Campeões para o Real Madrid e da Taça para o Schalke 04. A alcunha ficou, perdurou e renasceu em cada temporada que o clube se aproximasse do sucesso. Mas esses tempos acabaram e tudo começou com um treinador que disse não.

A primeira experiência de Xabi na Bundesliga foi de chuteiras calçadas, no Bayern de Munique. Já no fim da carreira, Xabi alinhou no meio-campo dos bávaros sob o comando técnico de Pep Guardiola, entre 2014 e 2017.

Desde o tempo em que encantava o futebol europeu com passes longos e livres vistosos que era apontado a um futuro no banco de suplentes.

É filho de um treinador, Periko Alonso, e foi treinado, ao longo da sua carreira, pelos melhores treinadores do século: a Guardiola juntam-se na lista José Mourinho, Ancelotti e Rafa Benítez. Foi até o treinador português que, em 2019, disse que Alonso “teria todas as condições para ser um treinador muito, muito bom”.

A primeira nega à Bundesliga

A carreira arrancou há seis anos, nos sub-15 do Real Madrid. Seguiu-se um regresso ao País Basco, onde cresceu, e ao clube onde foi formado: a Real Sociedad.

Orientou a equipa B na quarta divisão durante três temporadas e, a meio desse percurso, recebeu o seu primeiro convite para treinar na Bundesliga. No final da época 2020/21, o Borussia Monchengladbach tentou chegar a acordo com o jovem treinador, que rejeitou o convite para continuar no quarto escalão do futebol espanhol.

“Estou muito feliz por estar aqui, tenho uma boa relação com o clube e quero continuar a crescer aqui neste projeto. Foram dois anos excelentes, mas queremos continuar a lutar por objetivos maiores”, disse, na altura, em entrevista ao “The Athletic”.

Acabaria por deixar o clube de San Sebastián no fim da época 2021/22, mas não ficou fora do ativo durante muito tempo. Foi convidado pelo Leverkusen em outubro de 2022 para substituir Gerardo Seoane e já não rejeitou.

Assumiu um clube a dois pontos de um lugar de despromoção e, em pouco mais de um ano e meio, levou-o à conquista de um inédito troféu.

Para trás ficou um Bayern que parecia destinado a dominar, resolvido o problema da ausência de um goleador com a saída de Robert Lewandowski. Harry Kane custou 100 milhões de euros e chegava à Baviera com mais de 200 golos apontados pelo Tottenham na Premier League. Kane trouxe os golos, mas também a capacidade de não vencer troféus.

Aos 30 anos, é um dos melhores marcadores da última década, mas nunca venceu um troféu enquanto profissional.

O capitão da seleção inglesa não precisou de grande adaptação ao novo plantel. Leva 39 golos em todas as provas e é o melhor marcador da Bundesliga com 32 remates certeiros, mas não foi suficiente para superar Wirtz, Boniface, Grimaldo e companhia.

O título do Leverkusen é também o fim de um registo impressionante de Kingsley Coman que, aos 27 anos, terminará, pela primeira vez, uma época sem se sagrar campeão. Venceu dois títulos em França pelo PSG, um em Itália na Juventus, e oito seguidos na Alemanha. Tudo de forma consecutiva.

Nem Liverpool, nem Bayern. Futuro é em Leverkusen

O brilhantismo de Xabi Alonso não tem passado despercebido aos maiores clubes e, num verão em que se prevê uma dança de cadeiras ao mais alto nível com as saídas de Jurgen Klopp do Liverpool e Thomas Tuchel do Bayern de Munique, Xabi era o principal candidato, até pelo seu passado como jogador em ambos os emblemas.

No entanto, numa reviravolta inesperada para muitos, Xabi anunciou em março, já com o título encaminhado, que iria continuar no clube no próximo ano.

“Há muita especulação, mas tirei a pausa para seleções para refletir sobre o meu futuro. E tomei uma decisão. Tive uma reunião com a direção e comuniquei-lhes a minha decisão de continuar no Leverkusen. Tentei sempre tomar as melhores decisões e procuro seguir as que chegam de forma natural. Acho que é o sítio certo para continuar a evoluir como treinador”, afirmou.

Xabi Alonso continua a ser apontado a outro dos seus antigos clubes, o Real Madrid, mas apenas em 2026, quando Ancelotti terminar o seu contrato.

Por agora, continuará à procura de juntar novos capítulos à história que já escreveu no Leverkusen, onde até a rua que dá acesso ao estádio já tem o seu nome. Pela frente, ainda esta época, pode estar o histórico triplete que escapou há 22 anos.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+