​Que continuemos a trabalhar com maior compaixão…

07 mai, 2024 - 09:00 • Paula Margarido Paula Margarido

No ano de 2022, o número de estrangeiros em Portugal era de 880 mil, ou seja, o dobro de há 10 anos.

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No dia 10 de junho do ano de 2020, na Cerimónia do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, o Cardeal Tolentino Mendonça dizia a todos os portugueses que o nosso país precisa de maior compaixão, fraternidade, inclusão e justiça social para continuar a sua caminhada.

Efetivamente, o nosso País necessita de todos, todos, todos, para continuar a fazer acontecer o progresso, a diminuição das assimetrias sociais, nunca olvidado que a Saúde, a Educação e a Justiça constituem os três grandes pilares de uma sociedade que se pretende democrática e esclarecida.

Naquele “todos” temos as crianças, os jovens, os adultos, os velhos e toda a comunidade migrante que, fugindo da pobreza e da miséria, apenas almejam alcançar um futuro com esperança.

Quantos portugueses emigraram em busca de melhores condições de vida e quantos procuram o nosso país em busca de um melhor salário para auxiliar a sua família que lá bem longe conta com o seu dinheiro para sobreviver.

Em 2022 saíram de Portugal 31 mil portugueses, ou seja, menos 23 mil pessoas do que em 2013 que constituiu o ano com maior número de saídas. E destas saídas dois terços foram homens em que quase metade (47,6%) possuía uma licenciatura.

No que concerne aos imigrantes verifica-se que no ano de 2022 o número de estrangeiros em Portugal era de 880 mil, ou seja, o dobro de há 10 anos e em que as nacionalidades mais representativas são as brasileiras, seguindo-se as britânicas, as cabo-verdianas, as italianas, as indianas e as romenas.

Os imigrantes representam cerca de 7,5% da população e no ano de 2022 foram responsáveis por contribuir com o valor de 1.861 milhões de euros para a Segurança Social. Ainda, assim, são os que menos beneficiam das prestações sociais.

Lidei com várias comunidades de migrantes e tenho por todas a maior admiração e respeito, porquanto os seus membros vieram para Portugal para alcançar a dita liberdade, para abraçar uma oportunidade que não existe no seu país de origem. Alguns conseguiram e outros viram as suas esperanças derrotadas pela droga, pela prostituição, pelo tráfico, pelo álcool e tiveram, assim, de regressar ao seu país de origem com o auxílio da Organização Internacional das Migrações (OIM/IOM), bem como da Igreja Católica e de várias Associações e Movimentos que tentam em cada dia oferecer dignidade a quem, entretanto, a perdeu.

Recordo a história de uma menina, oriunda de um país terceiro, que chegou a Portugal para estudar e deparou-se com a realidade do tráfico de seres humanos…, foi possível resgatá-la! Essa menina é hoje uma mulher que, após ter concluído os seus estudos, é uma ilustre cidadã portuguesa que diariamente faz do cuidar a sua profissão, levando ao próximo um sinal de esperança e afeto que em tempos lhe foi tirado por uns quantos que consideram que os imigrantes ou são explorados ou devem regressar ao seu país de origem!

Por vezes oiço…”o que fazem aqui, são tantos…, já não posso com esta gente” e fico indignada com tamanha crueldade, bem como com mensagens de personalidades que esquecem que os portugueses também emigraram e continuarão a emigrar, que não há sociedades fechadas, estanques e que os movimentos migratórios, desde que humana e dignamente orientados e regulamentados, constituirão extraordinárias oportunidades de desenvolvimento de uma sociedade que deve alicerçar as suas bases no bem comum e na dignidade da pessoa humana.

Continuemos a trabalhar, seriamente, sem demagogia, com maior compaixão fraternidade, inclusão e justiça social para que em Portugal não se venham a registar práticas de ódio racial, de ataques a imigrantes pelo simples facto de serem imigrantes. Este será, sempre, o nosso compromisso!

Paula Margarido,

Advogada e Deputada XVI Legislatura

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