Clássico

"Não resultou". Inácio à esquerda e as consequências dessa decisão no FC Porto-Sporting

29 abr, 2024 - 21:00 • Eduardo Soares da Silva

O treinador e comentador Afonso Cabral olha para as opções táticas de Rúben Amorim no Dragão com a adaptação de Gonçalo Inácio ao corredor e o impacto em Diomande e Pedro Gonçalves. Guarda-redes continua a ser "o parente pobre" do plantel do Sporting.

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"Parece inegável que as coisas não resultaram". Afonso Cabral, treinador e comentador da Renascença, acredita que não resultou a estratégia surpreendente de Rúben Amorim para o clássico frente ao FC Porto (2-2), ainda que os leões tenham resgatado o empate perto do final.

Amorim surpreendeu com Gonçalo Inácio na posição de ala esquerdo, deixando Nuno Santos no banco. Sem Gyökeres de início por problemas físicos, Paulinho foi a opção natural.

Quando viu os onzes pela primeira vez e os jogadores listados pelo Sporting, Afonso Cabral julgou que o posicionamento das peças no relvado seria outro: "Achei que o Geny Catamo faria a esquerda e o St. Juste a direita, mas acho que, pelo que me dizem, a solução foi treinada a semana toda. Era a solução idela para o Amorim. Revelou-se não tão ideal assim".

Mas, afinal, qual o motivo para a adaptação de Inácio a lateral? "Pelo que disse o Amorim, parece que houve a intenção de controlar Francisco Conceição, embora me pareça um erro colocar aí o Inácio porque não está habituado a defender com tanto espaço nas costas sem as referências dos centrais tão perto. Continua a não fazer muito sentido".

Ainda assim, o treinador Afonso Cabral abre espaço à dúvida da disponibilidade física de Nuno Santos. Estando a 100%, considera que "poderia até ser uma gestão danosa deixá-lo no banco e colocar lá uma adaptação, tendo em conta a responsabilidade e o seu peso no plantel".

O Sporting sofreu dois golos na primeira parte e a experiência não correu bem, até porque afetou todo o corredor, desde Diomande - que jogou a central pela esquerda -, até Pedro Gonçalves.

"Diomande não está tão confortável, isso sentiu-se bem, e o Pote não esteve nada à vontade. O Matheus Reis e o Nuno Santos promovem profundidade e pedem a bola e o Inácio não fez isso nenhuma vez", recorda.

A ideia seria até outra, mas também falhada: "A dinâmica que o Amorim quis em posse seria o Pote aberto e o Inácio por dentro, mas nenhum pareceu muito confortável. Pote por dentro não tinha ninguém fora para jogar e o Inácio dentro não tem essa capacidade. Na pré-época, já o tinha colocado a fazer de médio como o Guardiola faz com o Stones, mas sem sucesso".

Rúben Amorim fez a primeira alteração ao intervalo, ao tirar Daniel Bragança para lançar Gyökeres, o que "melhorou, mas não transformou completamente a equipa". O melhor Sporting só chegou com a entrada de Nuno Santos aos 60 minutos.

"Fez-me lembrar o Alemanha-Portugal do Europeu quando as bolas entravam todas no Gosens e todos conseguiam evidenciar o problema. Pela esquerda, o Sporting não conseguia criar. Com o Nuno Santos, o Sporting voltou a atacar pelos dois lados", conclui.

Os leões perdiam por dois, mas o goleador do Sporting apresentou-se ao serviço. Bisou aos aos 87 e 88 minutos e salvou um ponto para a equipa de Alvalade.

Impacto da viagem a Londres difícil de calcular

No lado do Sporting, o clássico ficou marcado pela viagem de Rúben Amorim até Londres, no início da semana, para reunir com a direção do West Ham. O técnico assumiu o erro e pediu desculpa, embora se tenha assumido "perdido" em relação ao futuro.

"É difícil saber" se a viagem teve impacto nos jogadores "porque, se a primeira parte tivesse sido naquele nível com as opções habituais, diria que sim. Mas tendo em conta as adaptações e mexidas, é difícil apontar", considera Afonso Cabral.

"O próprio treinador parece pouco resolvido em relação ao assunto e é um treinador exímio na comunicação. Ficou-me na retina que teria prometido à mulher que não iria treinar e é estranho quando tem mais dois anos de contrato. Só criou mais dúvida, quando todos esperavam um anúncio que iria ficar", atira.

Baliza é um "ponto fraco incomum" num provável campeão

Não faltaram dedos apontados a Franco Israel no primeiro golo do FC Porto no clássico. O internacional uruguaio falhou um passe aparentemente simples para Diomande e a jogada culminou no golo de Evanilson.

Tanto Israel como Adán, que recupera de lesão, são pouco consensuais no rendimento. Cabral aponta a baliza como "claramente o ponto fraco" dos leões.

"É o parente pobre. Parece-me que, dentro dos postes, o Israel é muito forte e saca bolas que ninguém entende bem como. Apesar de ser bastante melhor com os pés do que o Adán, tem algumas falhas, não sei se é falta de confiança ou concentração. Tem é lacunas graves nas saídas dos postes, como bolas altas, cantos, livres laterais", analisa.

O comentador acredita que "é incomum uma equipa prestes a ser campeã ter tantas falhas apontadas aos guarda-redes".

"Não me recordo de nenhuma equipa campeã com uma lacuna assim no guarda-redes. Lembro-me do Roberto no Benfica, mas não foi campeão. Terá sido o guarda-redes que mais pontos deu aos adversários. Esta época, o Sporting tem a grande vantagem de fazer uma média de quase três golos por jogo. Mesmo que o guarda-redes vá entregando um golo aqui ou ali, é difícil perderes pontos quando marcas três", conclui.

O Sporting perdeu dois pontos no clássico e tem cinco de vantagem para o Benfica, a três jornadas do fim. O deslize não mudará o desfecho mais provável do campeonato: "Acho que título está entregue".

"Precisa de quatro pontos em nove possíveis, porque, à partida, terá vantagem na diferença de golos em caso de empate pontual. O que me faz acreditar que está entregue é o calendário. Dois jogos em casa com Portimonense e Chaves e o Sporting ainda não perdeu qualquer ponto em casa", termina.

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