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Triatlo no Jogos Olímpicos

"Estás a ver quando tens um feeling?": fomos conhecer Vasco, Melanie, Maria e Ricardo, a equipa de triatlo nos Jogos de Paris

10 mai, 2024 - 13:45 • João Filipe Cruz

Bola Branca conversou com os quatro triatletas que compõem a equipa nacional nos Jogos Olímpicos, o maior contingente nacional nessa modalidade em contexto olímpico. Entre anseios de estreantes e o desejo de “desforra” de uma repetente, há a esperança num bom resultado.

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“Estás a ver quando tens um feeling, mas queres deixá-lo meio tranquilo para não ficares muito empolgado?”

Sem desejo de agouros, é desta forma que Melanie Santos responde quando Bola Branca pergunta pelos grandes objetivos de Paris.

A pouco mais de dois meses dos Jogos Olímpicos, a triatleta acredita em mais do que o “orgulho de representar a bandeira” – que por si só já a contenta – e aponta ao diploma olímpico porque acredita na equipa.

“É bastante possível. Se tivermos, todos, a mesma sensação e acordarmos bem nesse dia, acho que é muito possível”, reconhece Melanie.

A triatleta é agora a mais experiente de uma equipa de quatro, o maior contingente de sempre do triatlo nacional em Olimpíadas, mas já foi a mais nova da comitiva nos Jogos de Tóquio em 2021. Agora, não procura vingar-se do que a pandemia lhe tirou na primeira experiência olímpica, mas sim “aproveitar”.

“Não foi a experiência que queria, mas deu-me mais força agora. Ainda por cima em Paris, tão perto de casa e com tantos portugueses a apoiarem. Não sei se é o universo a dar algum sinal. Estou muito contente por ter conseguido o apuramento e vou agarrar a oportunidade para que venha alguma coisa boa de lá”.

Melanie não sabe se vai “praxar” os estreantes, mas reconhece que “não seria mal pensado”. À triatleta nascida na Suíça juntam-se Vasco Vilaça, Maria Tomé e Ricardo Batista, que partilham do “feeling” de Melanie Santos quanto ao diploma. Só ainda não procuraram saber como é nadar, correr e pedalar de forma olímpica.

“Ainda não chegámos a perguntas específicas entre nós sobre os Jogos. É mais sobre a preparação. Saber como me vou preparar em termos de viagens, organização e coisas do género”, reconhece Vasco Vilaça, em declarações a Bola Branca.

Com 24 anos, Vasco já não é apenas uma promessa. Um promissor segundo lugar no evento teste em Paris acalenta os sonhos e objetivos de alguém que, com apenas 20 anos, conseguiu também um segundo posto num Mundial reduzido, em 2020.

“Sem dúvida que é um sonho muito grande, mas é uma só prova e de quatro em quatro anos”, lembra Vasco Vilaça sobre a prova individual.

Também Ricardo Batista, de 23 anos – campeão mundial de júnior em 2019 e campeão europeu de triatlo sprint, em elites, no ano passado –, partilha, não só do sonho de Vasco, mas do realismo.

“Uma medalha não é impensável, mas é muito difícil. O nível do triatlo está absurdo. Mas, sem dúvida, que gostaria de alcançar um diploma olímpico”, admite Ricardo.

A outra estreante, Maria Tomé, vice-campeã do mundo de sub-23 no ano passado, quer aproveitar a experiência olímpica, sem a pressão de um resultado projetado por quem não compete, mas ciente do peso do momento.

“Claro que sinto, mas acho que prefiro aproveitar o momento e fazer o melhor que sei do que pensar nisso. Acho que toda a gente vai ficar feliz, seja qual for o resultado, e se não ficarem, também não foram eles que o fizeram, fui eu”, atira Maria entre sorrisos.

Estafeta unida, até nas ‘danças de TikTok’

Há uma medalha que já ninguém retira aos quatro triatletas: fazem parte da maior representação olímpica de sempre do triatlo português.

Vasco Vilaça, terceiro do ranking mundial, e Ricardo Batista, 15.º do mundo, vão participar na prova individual masculina a 30 de julho. Melanie Santos, número 57, e Maria Tomé, 85.ª a nível global, entram na prova feminina no dia seguinte. Os quatro juntam-se para a estafeta mista a 5 de agosto.

“É tão boa a sensação de puxarmos uns pelos outros, de quase querermos entrar na prova de cada um, que nos liberta”, reconhece Melanie Santos.

A cumplicidade mede-se para além de um grupo de WhatsApp e na rede social BeReal, onde se mantêm a par de tudo o que vão fazendo. O grupo tem até uma tradição, movida pelo desafio lançado, praticamente desde que as provas de estafetas começaram a contar para a qualificação olímpica.

“Quando entramos em prova, apresentam as equipas. Fizeram um TikTok com as várias danças das equipas, o público podia votar nas preferidas e nós, por acaso, até estivemos para ganhar”, sublinha Maria Tomé.

E sobre se haverá direito a dança especial nos Jogos Olímpicos, Vasco Vilaça admite que esta, sim, é uma questão “que já lhe passou pela cabeça”, mais do que perguntar a Melanie sobre como serão os preparativos para a participação em si.

“Sem dúvida que temos um grande espírito de equipa. Nunca fiz tão parte da estafeta como faço agora. Ajudamo-nos uns aos outros. Acho que é bonito e ajuda-nos a irmos até ao limite em provas curtas”, confessa Vasco.

A qualificação na estafeta para os Jogos – graças ao nono lugar no ranking – veio na etapa da Taça do Mundo de Napier, na Nova Zelândia, onde a equipa conquistou a prata. Aí, o quarteto, que viu a organização entregar-lhe o número 7, achou apropriado apresentar-se com o festejo típico de Cristiano Ronaldo. Em Paris, quem sabe.

Dois em Portugal, dois em Espanha “por melhores resultados”

Equipa unida em espírito, mas separada pela geografia. Enquanto Maria Tomé e Ricardo Batista crescem em Portugal, Vasco Vilaça e Melanie Santos sentiram que precisavam de “dar um salto” e viram a espanhola Girona capaz de lhes dar essa possibilidade.

“Estamos muito perto de São Romeu, onde treinamos em altitude, a uma hora do aeroporto de Barcelona, que nos deixa viajar para todas as provas em que participamos, temos uma piscina olímpica e um lago para treinos em águas abertas bastante perto”, explica Vasco.

O triatleta encontrou as condições ideais apenas numa cidade, mas a mudança não se justifica apenas pelas infraestruturas – naturais e não só. É nesta cidade catalã que está sediado um dos grupos mais prestigiados de triatletas, entre campeões do mundo e medalhados olímpicos.

A entrada neste grupo de treino pode ser feita através de interesse demonstrado pelo atleta, que pode ser estendido a convite, mas Vasco e Melanie concordam que é determinante para alcançar resultados mais altos.

“O grupo é muito atrativo para quem quer dar aquele salto, aquele boost final. Acorda e deita-se a pensar em triatlo e era aquilo que estava à procura”, justifica Melanie.

Voltar a Portugal não está fora de hipóteses para a triatleta nascida na Suíça. Melanie só lamenta a falta de aposta na melhoria das infraestruturas ou o encerramento das que existiam.

“Temos temperatura, atletas, tudo. Falta profundidade. Venho de uma geração em que havia um centro de alto rendimento em Montemor-o-Velho só para triatlo, onde treinávamos com os melhores atletas nacionais e tínhamos o que tenho em Girona. Na altura, a federação mudou de presidente e decidiu fechá-lo devido ao custo elevado. Aí perdemos muitos atletas”, explica.

Os que não desistiram do triatlo viram-se forçados a mudarem-se para Lisboa e para o Centro de Alto Rendimento do Jamor, que não atraiu Melanie “pelas distrações” da capital.

Há algo em que os quatro concordam: a pouca atenção dada ao triatlo, seja mediática, seja de apoios – nem sempre monetários. Mas não se importam se estiverem sob o holofote daqui por pouco mais de dois meses e meio. Seria bom sinal, para eles e para o triatlo nacional.

Inspirados por Vanessa Fernandes, a primeira triatleta olímpica que, na estreia, em Atenas 2004, conquistou a prata, a maior representação de sempre segue para Paris. Melanie pode, finalmente, ter os pais por perto; Vasco tenta confirmar que é uma certeza da modalidade e Maria e Ricardo levam sonhos que não cabem apenas numa mala. A pedalar, a nadar, a correr e até a dançar este quatro vão “dar tudo” por Portugal e também, claro, por cada um e pelos outros.

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