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Médio Oriente

ONU vai investigar crimes de guerra em Israel e Gaza. O que se sabe ao quarto dia

10 out, 2023 - 18:02 • Marta Pedreira Mixão

Hamas continua a atacar Israel, forças hebraicas continuam a bombardear a Faixa de Gaza. Desde sábado morreram cerca de mil israelitas, 1.500 militantes do Hamas e pelo menos 900 palestinianos. Contam-se também mais de 187 mil desalojados no enclave palestiniano.

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A cidade de Ashkelon, no sul de Israel, foi esta terça-feira à tarde atacada pelo Hamas, segundo o britânico "The Guardian". O ataque registou-se horas depois de o porta-voz do grupo de militantes islâmicos, Abu Ubaida, ter pedido aos residentes da cidade - que fica a nove quilómetros da Faixa de Gaza - para abandonarem a área até às 17h locais.

Em resposta, a Força Aérea israelita anunciou, através da rede social X, que “está a lançar um ataque extensivo contra alvos terroristas da organização terrorista Hamas na Faixa de Gaza”.

Três fontes informaram a Reuters de que foi também disparada uma salva de "rockets" do sul do Líbano em direção a Israel. A Força Aérea israelita afirmou, através das redes sociais, que o sistema de defesa aérea hebraico intercetou quatro dos 15 mísseis. Dez lançamentos caíram em áreas abertas.

A força de manutenção da paz da ONU no sul do Líbano está a verificar os relatos de disparos de "rockets".

Num momento em que o conflito continua a registar vários ataques, ao quarto dia de guerra, a embaixada israelita nos Estados Unidos publicou "um tweet", entretanto apagado, que indicava que 1.008 israelitas teriam sido mortos e mais de 3.400 feridos desde que o Hamas deu início à ofensiva contra Israel por ar, terra e mar, no sábado.

O brigadeiro-general das Forças de Defesa de Israel (IDF) confirmou entretanto que já há mais de mil mortos confirmados. Acredita-se que, entre os mortos do lado israelita, haja vários cidadãos de outras nacionalidades, mas as autoridades israelitas não especificam quais. O responsável também não disse qual a proporção de soldados ou elementos das IDF mortos.

O porta-voz das Forças de Defesa de Israel, Daniel Hagari, afirmou esta terça-feira que, nas últimas horas, Israel levou a cabo um “ataque sem precedentes” na Faixa de Gaza. Hagari garantiu ainda que as tropas israelitas estão prontas para “combates em todas as frentes”.

Israel declarou formalmente guerra no domingo e convocou 300 mil reservistas para o serviço, em apenas 48 horas.

Alguns analistas prevêem que tal poderá apontar para uma ofensiva terrestre em Gaza. No domingo, Netanyahu assegurou, numa conversa telefónica com Biden, que o ataque do Hamas seria respondido com medidas "prolongadas e poderosas", tendo sido verificados desde então vários ataques de retaliação.

Entretanto, esta tarde, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, anunciou a preparação de uma “ofensiva total” contra a Faixa de Gaza que alterará totalmente a situação no terreno, mas sem fornecer detalhes.

“Levantei todas as restrições. Recuperámos o controlo da fronteira e vamos passar para uma ofensiva total”, afirmou.

Nos últimos quatro dias, Israel tem lançado ataques aéreos e marítimos contra Gaza, reduzindo prédios a escombros, que, segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde de Gaza, fizeram, pelo menos, 900 mortos palestinianos - entre os quais 260 crianças e 230 mulheres - e 4.600 feridos. As IDF continuam a bombardear o enclave palestiniano, sob controlo do Hamas e sob bloqueio económico de Israel desde 2007. Desde segunda-feira, Israel interrompeu também todo o acesso de alimentos, combustível e medicamentos a Gaza, e o único acesso, a partir do Egito, foi encerrado hoje, depois de ataques aéreos terem atingido alvos perto da passagem da fronteira.

Saúde em Gaza à beira do colapso

O representante do Ministério da Saúde de Gaza afirmou, em declarações à Al Jazeera, que o sistema de saúde em Gaza está à beira do colapso devido ao elevado número de feridos que chegam às instalações médicas.

"A situação está muito complicada. Estamos a receber milhares de feridos, o está a causar imensa pressão sobre o sistema", disse Madhat Abbas.

"A nossa capacidade é de apenas 2000 camas. Estamos quase a colapsar. Estamos a consumir num dia os medicamentos que consumimos num mês", descreveu, acrescentando que cinco ambulâncias ficaram destruídas e cinco profissionais de saúde morreram nos ataques dos últimos dias.

1.500 militantes mortos

Além dos referidos, 830 mortos palestinianos, segundo Israel, pelo menos 1.500 elementos do grupo apoiado pelo Irão já foram mortos - entre eles poderá estar o ministro da Economia do Hamas. As forças armadas israelitas garantem ainda ter assegurado a maior parte da sua fronteira com Gaza.

Um porta-voz militar israelita afirmou que está a ser instalado "um muro de ferro" de tanques e helicópteros ao longo da fronteira de Gaza.

O porta-voz tenente-coronel Richard Hecht aconselhou os palestinianos a "saírem" de Gaza através da passagem de Rafah para o Egipto, na fronteira sul, antes de esclarecer que a passagem estava encerrada - o Egito terá fechado indefinidamente a fronteira com Gaza neste local.

Foi também avançado que pela Agência Reuters que dois membros do gabinete político do Hamas, Jawad Abu Shammala e Zakaria Abu Maamar, foram mortos num ataque aéreo em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza.

Os militares israelitas também confirmaram a morte de Abu Shammala e Abu Maamar, afirmando que foram atingidos durante a noite.

Governo israelita vai armar civis

O ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, anunciou que o seu ministério vai avançar com a aquisição de 10 mil espingardas para armar "equipas de segurança civil" em Israel e na Cisjordânia ocupada, informa o Times of Israel.

De acordo com o jornal, as espingardas, das quais 4.000 já foram compradas, serão enviadas para as cidades israelitas próximas das fronteiras e também para as cidades mistas judaico-árabes no interior de Israel e para os colonatos da Cisjordânia.

Ben-Gvir, que já foi condenado por apoio ao terrorismo e incitamento contra os árabes, afirmou: "Vamos virar o mundo de pernas para o ar para que as cidades sejam protegidas".

Troca de presos só após fim das hostilidades

O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, disse esta terça-feira que uma troca de prisioneiros só será abordada após o fim da guerra. Em comunicado, citado pelo britânico "The Guardian", afirma que as partes que contataram o Hamas para "fornecer mediação para a libertação de reféns através de uma troca de prisioneiros foram informadas da decisão".

Esta terça-feira, o líder do partido Lista Árabe Unida, Mansour Abbas, apelou ao Hamas para que liberte, por motivos religiosos, alguns dos reféns israelitas feitos durante o ataque levado a cabo este fim de semana.

“Os valores do Islão obrigam-nos a não levar mulheres, crianças e idosos como prisioneiros”, apelou Mansour Abbas numa publicação nas redes sociais.

Segundo afirmou o embaixador de Israel nas Nações Unidas, Gilad Erdan, em declarações à CNN, o número de reféns em Gaza estava entre 100 e 150.

De acordo com a Sky News, a “Operação Tempestade Al-Aqsa”, lançada pelo Hamas em Israel, terá sido preparada durante mais de um ano.

Israel ameaça bombardear camiões do Egito

O Canal 12 de Israel avançou que as autoridades israelitas alertaram o Egipto contra o fornecimento de ajuda à Faixa de Gaza, afirmando que os camiões que transportassem mantimentos para a zona seriam alvo de ataques aéreos.

Pouco depois do anúncio, os comboios de camiões de combustível e de mercadorias egípcias que deviam entrar em Gaza através do posto fronteiriço sul com o Egipto "retiraram-se do posto de Rafah", refere o Channel 12, e a passagem está encerrada por tempo indeterminado.

As autoridades israelitas anunciaram, na segunda-feira, um cerco total à faixa de Gaza, com cortes no abastecimento de água, combustível e alimentos.

O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, já se declarou "profundamente angustiado" com a decisão de Israel, já que na Faixa de Gaza se encontram mais de dois milhões de pessoas, quase metade das quais são crianças.

"A situação humanitária em Gaza já era extremamente grave antes destas hostilidades; agora só se vai deteriorar exponencialmente", disse Guterres aos jornalistas na ONU, em Nova Iorque. "Equipamento médico, alimentos, combustível e outros fornecimentos humanitários são desesperadamente necessários, bem como o acesso do pessoal humanitário".

ONU denuncia crimes de guerra nos dois lados

A Comissão Internacional de Inquérito das Nações Unidas para a Palestina e Israel declarou, esta terça-feira, que "existem provas claras" de que foram cometidos crimes de guerra de ambas as partes.

"A Comissão tem vindo a recolher e a preservar provas de crimes de guerra cometidos por todas as partes desde 7 de outubro de 2023, quando o Hamas lançou um ataque complexo contra Israel e as forças israelitas responderam com ataques aéreos em Gaza", refere comunicado.

"As notícias de que grupos armados de Gaza mataram a tiro centenas de civis desarmados são abomináveis e não podem ser toleradas. A tomada de reféns civis e a utilização de civis como escudos humanos são crimes de guerra", condena a nota, salientando que a comissão também está "seriamente preocupada com o último ataque de Israel a Gaza e com o anúncio por parte de Israel de um cerco total a Gaza, que envolve a retenção de água, alimentos, eletricidade e combustível, o que, sem dúvida, custará vidas civis e constitui um castigo coletivo".

A Comissão refere por isso que irá assegurar a responsabilização legal, incluindo a responsabilidade criminal individual e a responsabilidade de comando.

Volker Türk, o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, declarou que "a imposição de cercos que põem em risco as vidas de civis, privando-os de ter acesso a bens essenciais à sua sobrevivência, é proibida pelo direito internacional humanitário".

Türk alertou ainda que tal poderia "comprometer gravemente a já precária situação humanitária e de direitos humanos em Gaza, incluindo a capacidade de as infra-estruturas médicas funcionarem".

O subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, descreveu como "assustadoras" a escala e velocidade do conflito e apelou a que as leis da guerra sejam respeitadas por todas as partes em conflito, pedindo que os reféns sejam "libertados sem demora" e que seja assegurada a "ajuda humanitária e os serviços e fornecimentos vitais a Gaza".

O número de desalojados na Faixa de Gaza tem subido rapidamente e registam-se 187.518 pessoas sem alojamento, segundo o relatório da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinianos no Próximo Oriente (UNRWA).

De acordo com o mesmo, cerca de 137.500 pessoas estão abrigadas em 83 escolas da UNRWA por todo o território e há pouca água potável disponível.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras organizações humanitárias têm apelado à abertura de um corredor humanitário até a Faixa de Gaza, que está bloqueada e sob bombardeamento das forças israelitas.

Massacre em Kfar Azza

No âmbito dos crimes de guerra, esta terça-feira, o exército israelita afirmou ter encontrado corpos de "dezenas" de civis, incluindo bebés e crianças, em Kfar Aza, um "kibbutz" (comunidade) perto da fronteira com a Faixa de Gaza.

Um porta-voz das Forças de Defesa de Israel disse que os militares tinham identificado os corpos durante uma viagem em que acompanhavam jornalistas televisivos ao local. Kfar Aza foi um dos últimos locais onde as tropas israelitas conseguiram subjugar militantes palestinianos armados, em combates que se prolongaram até a manhã de segunda-feira.

Massacre em Kfar Azza. Israel fala em "dezenas de mortos", incluindo bebés decapitados
Massacre em Kfar Azza. Israel fala em "dezenas de mortos", incluindo bebés decapitados

Após terem divulgado imagens dos combates no terreno contra os islamitas, começaram a surgir notícias que relatavam o cenário encontrado por soldados e repórteres no local, com relatos de dezenas de mortos, incluindo crianças, a maioria decapitadas.

"O que os jornalistas viram hoje foi um massacre: crianças, mulheres e idosos que foram massacrados", disse Nir Dinar, porta-voz das IDF.

Os correspondentes do New York Times que integravam a comitiva descrevem mais de uma dúzia de corpos espalhados, alguns de militantes palestinianos mortos em batalhas no terreno por soldados israelitas, antes da retomada do controlo do "kibbutz".

Borrell envia convite a MNE israelita e palestiniano

O chefe da diplomacia da União Europeia (UE) convidou os seus homólogos israelita e palestiniano para participarem na reunião extraordinária dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27, convocada após o ataque do grupo islâmico palestiniano Hamas contra Israel.

O anúncio foi feito pelo Alto Representante para a Política Externa da UE, Josep Borrell, que convocou uma reunião extraordinária e informal, que decorrerá num formato híbrido, com a participação dos MNE israelita, Eli Cohen, e palestiniano, Riyad al-Maliki.

Também na rede social X (antigo Twitter), Borrell divulgou ter telefonado ao MNE iraniano, Hosein Amir Abdolahian, para reiterar "a mais forte condenação dos ataques brutais do Hamas contra Israel".

"Nada pode justificar atos de terror tão desprezíveis e nada pode justificar o apoio a estes", escreveu ainda Borrell, que se encontra na capital de Omã para uma reunião entre a UE e o Conselho de Cooperação do Golfo.

A resposta internacional já começa a afetar Gaza, com países como a Suécia e a Dinamarca a anunciarem a suspensão temporária da ajuda ao desenvolvimento nos territórios palestinianos ocupados.

Na reunião de emergência dos MNE da UE a 27, o financiamento à Palestina foi o ponto central de debate, os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia reverteram, esta terça-feira, a alegada decisão da Comissão Europeia de suspender os programas de apoio à Palestina, na sequência da ofensiva lançada pelo Hamas contra Israel por ar, terra e mar na madrugada de sábado.O chefe da diplomacia comunitária assegurou que os fundos da UE para os palestinianos vão ser avaliados para apurar se há "fugas" de dinheiro para o Hamas. Josep Borrell adiantou que, se forem detetadas fugas de fundos para o grupo terrorista que controla a Faixa de Gaza, alguém pagará o preço por esse erro.

"A esmagadora maioria [dos MNE] era contra a ideia de suspender os pagamentos à Autoridade Palestiniana, é isto que interessa", sublinhou o alto representante da UE, garantindo que os apoios "não vão ser cancelados". Questionado sobre que países discordaram desta decisão, Borrell disse que dois ou três Estados-membros queriam cortar os programas de ajuda à Palestina, sem especificar quais.

(Notícia atualizada às 19h43)

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