O poder da esperança

15 mai, 2024 - 09:47 • Rute Agulhas

Se as experiências adversas que a pessoa vivenciou escapam ao nosso controlo, na medida em que não temos o poder de as apagar da vida da pessoa ou fazer de conta que não aconteceram, já a forma como reagimos perante as mesmas é algo que podemos controlar.

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Ter esperança é ter fé e acreditar que determinada coisa vai, efetivamente, acontecer. É saber que, apesar dos obstáculos e dificuldades, algo positivo vai ocorrer. É a esperança que nos permite manter algum otimismo, ser perseverantes e não desistir. É como que um motor impulsionador que nos faz avançar e enfrentar as adversidades.

Mas nem sempre se consegue manter a esperança. Muitas vezes, fruto de vivências mais negativas ou mesmo traumáticas, a esperança começa a desvanecer-se. Pouco a pouco, surgem pensamentos predominantemente negativos e começa-se a acreditar que o próprio é inferior e sem recursos para enfrentar o mundo, tão adverso e perigoso. Neste contexto, o futuro pinta-se de negro e é pensado como uma eternização do sofrimento. E surge a desesperança, um dos principais preditores da ideação suicida. É isso mesmo – a ausência de esperança faz com que a morte pareça a única saída possível de modo a fazer cessar a dor imensa que se sente.

Neste contexto, não é de estranhar, portanto, que as pessoas que vivenciam experiências adversas, especialmente em fases do seu desenvolvimento em que existe maior vulnerabilidade – como a infância e a adolescência – pensem em magoar-se a si mesmas ou em morrer. Surgem, então, os comportamentos autolesivos e as tentativas de suicídio que não devem, nunca, ser encarados como meras chamadas de atenção. Exigem um olhar atento e uma intervenção especializada, sendo certo que a esperança não se reconquista facilmente.

O que ajuda alguém a resgatar a sua esperança?

Se as experiências adversas que a pessoa vivenciou escapam ao nosso controlo, na medida em que não temos o poder de as apagar da vida da pessoa ou fazer de conta que não aconteceram, já a forma como reagimos perante as mesmas é algo que podemos controlar. E aqui importa a reação de todo o meio envolvente – não apenas familiares e amigos da vítima, mas também o sistema profissional que, de uma forma ou de outra, se cruza com o caminho da pessoa vitimizada.

Uma reação positiva e de suporte, em que a pessoa é escutada, acreditada e protegida revela-se um caminho promissor na restauração da esperança. Pelo contrário, uma reação negativa em que a vítima é culpabilizada ou desacreditada acentua o túnel escuro e sem fim da desesperança.

A esperança tem o poder de ajudar a permanecer e, mais do que isso, de incentivar a caminhar. Caminhemos todos, portanto, em direção à esperança.

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