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E a experiência dos nossos gestores? Porque não a aproveitamos melhor?

29 abr, 2024 - 06:55 • Maria do Rosário Pinto Correia

Exemplos de prolongamento de vidas profissionais não faltam. Mas são, ainda, infelizmente raras as oportunidades que são dadas a profissionais com mais idade, em todos os ramos de atividade.

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Muito tem sido dito e escrito sobre o previsível envelhecimento da população. O reconhecimento de que, em média, viveremos todos mais anos, coloca um conjunto de desafios que não podemos ignorar.

Desde logo, a necessidade de encontrarmos formas de integrar na sociedade as pessoas que há uns anos já estariam fora da vida ativa, mas que hoje exigem ainda dela fazer parte.

E isto tanto ao nível pessoal, com prolongamento da idade em que se pratica desporto mais ou menos radical, em que se viaja para mais perto ou mais longe, em que se vive de forma plena, como na vida em sociedade, os novos jovens idosos pedem, mais do que voz, participação ativa nas instituições do País onde vivem - políticas, religiosas, IPSS - ou outras.

E no foro profissional, a ideia de uma paragem na idade da reforma é, para muitos, impensável! Algumas empresas ou organismos públicos incluem na sua política de recursos humanos uma idade limite para o exercício de funções. Nalguns casos baixas como os 58 anos! Nalguns casos será até compreensível a existência de um limite de idade, mas não se vislumbram sinais de mudança na idade deste limite!

Exemplos de prolongamento de vidas profissionais não faltam, tais como o Pepe, defesa titular do FCP e da seleção aos 41 anos, ou do Di Maria, extremo titular do SLB e que foi campeão do Mundo com 36 anos, são exemplos desta longevidade, impensável (exceto para guarda-redes) há uma dezena de anos, já para não falar da Rainha Isabel II de Inglaterra, desempenhando na íntegra a sua função já bem depois dos 90 anos.

Mas são, ainda, infelizmente raras as oportunidades que são dadas a profissionais com mais idade, em todos os ramos de atividade. Porque já não têm energia, porque não se adaptam, porque não têm competências digitais, porque já não compreendem o mundo em que vivem, porque já não têm agressividade, porque já não estão motivados, porque, porque, porque...

Há cinco anos um grupo de gestores e académicos portugueses fundaram uma empresa, a Experienced Management, com o objetivo de ajudar profissionais de gestão com mais anos a encontrar onde utilizar as suas competências e a sua experiência. Profissionais que por uma razão ou por outra estavam fora do mercado e que com isso não se conformavam. Alguns porque precisavam de trabalhar para pagar contas, mas muitos “apenas” porque não conseguiam aceitar a ideia de terem deixado de ser úteis e porque não queriam parar de contribuir para a sociedade onde vivem.

Lembro-me de um gestor, com menos de 50 anos, que no fim de uma apresentação que fizemos na Universidade Católica Portuguesa me abordou por querer saber mais sobre a empresa, sem nenhuma espécie de problemas monetários, o seu desabafo foi: “já não suporto ver todos sair de casa de manhã para ir trabalhar ou estudar e eu ficar em casa a fingir que sou útil!”

Assentamos a nossa proposta de valor num modelo em que o compromisso assumido pelas empresas com a contratação destes profissionais é mínimo – estarão na empresa para desempenhar as tarefas necessárias, com limites de âmbito e de tempo, e poderão, se houver problemas de desempenho, ser substituídos em menos de 30 dias.

Desde essa altura, temos tentado de tudo para cumprir a nossa missão, e até hoje não houve um mandato que tenha tido má avaliação por parte das empresas (ou dos profissionais) ou um desafio a que não tenhamos conseguido responder.

Na nossa base de dados temos mais de 700 profissionais qualificados e prontos para desempenhar as tarefas de que as organizações precisem. E vamos tendo cada vez mais pedidos das empresas para a sua utilização. Mas, no momento da verdade, as dúvidas e as reticências (sem qualquer fundamento racional) sobre a real capacidade destas pessoas desempenharem as suas funções voltam, e as atribuições de mandatos, nestas vezes não acontecem.

Continuaremos a tentar... mas era bom que quem decide nas empresas tivesse a coragem e a abertura de espírito para eles, sim, perceberem o mundo em que vivem, e as capacidades, a experiência, a maturidade, as motivações e as competências dos recursos que têm à sua frente. E os contratassem!


Maria do Rosário Pinto Correia, Docente da Católica-Lisbon School of Business and Economics e Fundadora e vogal do CA da Experienced Management.

Este espaço de opinião é uma colaboração entre a Renascença e a Católica-Lisbon School of Business and Economics.

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