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Entrevista

JP Simões ou Bloom, tanto faz. "Quero é que a música seja ouvida"

28 out, 2016 - 15:15 • Maria João Costa

JP Simões apresenta um novo heterónimo no programa Ensaio Geral, da Renascença. Primeiro disco enquanto Bloom “ritualiza uma necessidade de mudança” e fala de “fragilidades”.

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O tema título do disco, "Tremble Like a Flower"

“Estava mesmo a precisar de uma nova designação”, explica JP Simões ou Bloom, o novo nome com que assina o álbum “Tremble Like a Flower”.

É um disco que fala de fragilidades, diz JP Simões, que pediu o nome do disco emprestado a uma frase da música “Let’s Dance” de David Bowie.

A Renascença entrevistou-o para o programa Ensaio Geral, que vai para o ar esta sexta-feira depois das 23h00.

Quem é o Bloom?

É o nome artístico que eu escolhi para esta nova fase do meu trabalho.

Bloom é um nome que nos remete para a literatura, para a personagem Leopold Bloom de “Ulisses”, de James Joyce, mas também para a ideia de florescer. É um renovar da carreira?

Assim o espero… caso contrário não teria a desfaçatez de intitular-me qualquer coisa que é o imperativo de florescer e não o tivesse a fazer. Creio que isso aconteceu pela forma como a minha música foi mudando e por se ter tornado para mim uma coisa mais “sagrada”, porque é essencialmente um instrumento de reflexão, crescimento artístico e pessoal porque não consigo dissociar as duas coisas. Parecia que estava mesmo a precisar de uma nova designação. E nasceu o Bloom.

“Tremble Like a Flower” é o nome do disco e do single, mas também um nome pedido emprestado a uma figura da música.

É uma preposição que aparece na “Let’s Dance”, do David Bowie. Foi a última música a ser composta para o disco, pouco depois da morte do Bowie e achei que era um bom título para o disco inteiro porque é um disco que fala de fragilidades em vários aspectos. Fragilidade em tomar decisões, em viver, em tomar o rumo certo, encontrar a música certa, lidar com o passado. Pareceu-me uma expressão que reflectia não só o disco, como a minha condição. A flor é também uma metáfora de leveza natural, mas também de fragilidade. Neste caso, a flor simbolizava um lado menos cerebral. Apesar de o disco ter sido trabalhado durante três anos, todos os lugares onde a música me transportou foram espaços mais naturais e menos urbanos.

Tem já concertos marcados?

Já tivemos uma apresentação no Musicbox [em Lisboa]. E, modéstia à parte, correu muito bem. Em Novembro, dia 17, estarei no auditório de Vila Real. Depois, vou estar no dia 19 no Auditório de Espinho.

Que influências musicais tem este disco?

Há muitas influências. Foi um acumular de coisas. O disco foi surgindo quando há uns anos estava um pouco farto da forma como estava a trabalhar e senti-me um pouco sem saída em termos musicais. Comecei a ouvir muito blues e música étnica africana. Depois acabei por ir parar aos "blues men" dos anos 60, passei pelo Bob Dylan e pelo Nick Drake e a partir daí foi procurar o meu próprio blues. Mudei afinações de guitarra e comecei a trabalhar de um modo mais rítmico. Trabalhei primeiro a música e depois a voz foi mais um instrumento. Houve muita gente ali evocada, o Bowie, o Brian Eno, Robert Wyatt, o Norberto Lobo, muita gente…

Quem ouvir este disco encontrará ainda assim alguma coisa do outro músico, JP Simões?

Sejamos sinceros, basicamente é a mesma pessoa. Mas a música é um pouco diferente. É preciso impor a mudança no real para que ela fique marcada e seja um ponto de partida para uma real mudança, para o fim de uma fase e início de outra.

É dessa mudança que estamos a falar?

Sim. Este disco para mim ritualiza uma necessidade de mudança a vários níveis. Falo em progredir para um estado que me seja mais agradável e que isso se manifeste na música e que a música e as palavras me devolvam essa real mudança. A minha intenção não foi criar um epifenómeno de “reparem nele porque ele mudou”…não passa por aí. A questão do nome é uma questão pessoal, como expliquei. Quero é que a música seja ouvida. E que ela ganhe pelo valor que tem.

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