EUA e Rússia em exercícios militares. Cresce a tensão na Crimeia

19 mar, 2014

Primeiro-ministro da Crimeia avisa que os membros do Governo ucraniano não vão poder entrar na península. Três bandeiras russas foram hasteadas na base naval do porto crimeriano de Sebastopol.

EUA e Rússia em exercícios militares. Cresce a tensão na Crimeia
Multiplicam-se os sinais de crescente tensão na Crimeia. Esta quarta-feira de manhã, começaram as movimentações militares. Um porta-mísseis norte-americano iniciou ensaios no Mar negro, juntamente com navios da Bulgária e da Roménia, e a Rússia iniciou exercícios militares no Nordeste do país, longe da fronteira com a Ucrânia.

Fonte da Marinha dos Estados Unidos afirma que a operação no Mar Negro é apenas uma rotina, mas surge numa altura em que o Ocidente intensifica as retaliações à Rússia pela anexação da Crimeia, na sequência do referendo de domingo, dia 16.

Esta quarta-feira, chegou a condenação da NATO. O secretário-geral, Anders Fogh Rasmussen, considera que a Rússia entrou por um caminho perigoso e acusa Vladimir Putin de não respeitar os pedidos internacionais. Considera ainda ilegítima a anexação da península.

“Condeno o anúncio do Presidente Putin de novas leis que integram a Crimeia na Federação Russa”, afirma em comunicado. “A Rússia desrespeitou todos os apelos para que recuasse nas suas intenções e prossegue ainda por um caminho perigoso”, avisa.

A Rússia, por seu lado, iniciou também hoje exercícios de aviação em larga escala na zona ocidental. Os ensaios, levados a cabo longe da fronteira com a Ucrânia, envolvem aviões de guerra e bombardeiros.

Desta manhã, ainda a notícia da tomada, por milícias pró-russas, do quartel-general da Marinha ucraniana na cidade portuária de Sebastopol. Relatos das agências internacionais indicam que cerca de 200 elementos dos chamados grupos de auto- defesa pró-russos hastearam três bandeiras da Rússia no exterior do edifício.

Kiev já respondeu a dizer que não tolera nem cede a actos deste tipo.

No terreno, não são visíveis sinais de tensão e a situação nas ruas é calma. Hoje, na zona do tiroteio de terça-feira, estavam apenas dois polícias, que nem sabiam explicar o que tinha acontecido.

Na terça-feira, Vladimir Putin voltou a reiterar que os militares ucranianos que desejem integrar o Exército russo podem fazê-lo e os que quiserem voltar à Ucrânia também podem fazê-lo, com total segurança. Por enquanto, os militares mantêm-se cercados por soldados russos na Crimeia.

A tensão é, pois, mais ao nível político.

Tensão política
Em terra e no plano político, o ministro da Defesa ucraniano garantiu esta quarta-feira que as forças militares da Ucrânia não vai sair da região autónoma na sequência do referendo que aprovou a transição da Crimeia para a Federação Russa.

Questionado pelos jornalistas à margem de uma reunião do executivo ucraniano sobre se Kiev iria retirar as suas forças da península, Ihor Tenyukh, respondeu: “Não. Vamos ficar”.

Foi também anunciada a deslocação do ministro interino a Defesa à Crimeia. O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro ucraniano, Arseny Yatseniuk, e já mereceu uma reacção negativa do governo da região.

“Não são pessoas desejadas na Crimeia. Ninguém os deixará entrar e vão ter ordens para regressar ao seu país”, afirmou o primeiro-ministro crimeriano, Sergei Aksyonov, citado pela agência de notícias Interfax.

Da parte da Rússia, o ministro da Defesa anunciou o fim das inspecções da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). Sergei Ryzhkov diz que chegou ao fim o número de inspecções às instalações militares acordado.

EUA deixam recomendações aos investidores
Numa atitude pouco habitual, a Casa Branca recomendou esta quarta-feira aos investidores que evitem as acções russas.

“Se estivesse no vosso lugar, eu não investiria nas acções russas, a não ser que tenham mesmo necessidade”, afirmou o porta-voz da Casa Branca, Jay
Carney, meio a sorrir.

Sublinhando que os Estados Unidos estão preparados para mais uma ronda de sanções, Carney afirmou aos jornalistas que a anexação da Crimeia pela Rússia vai ter um impacto de longo prazo na economia russa.

Os Estados Unidos e a União Europeia impuseram limitações às viagens de dirigentes russos e congelaram os seus bens.