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Crise na Ucrânia. E se Portugal "der" gás à Europa Central?

21 jun, 2014 • José Pedro Frazão

Estamos imunes às falhas de gás natural da Ucrânia. Mas poderemos um dia ser forçados a partilhar o nosso gás “argelino” com a Europa mais rica. Tema em debate no Fora da Caixa, com António Vitorino e Santana Lopes.

Crise na Ucrânia. E se Portugal "der" gás à Europa Central?
Estamos imunes às falhas de gás natural da Ucrânia. Mas poderemos um dia ser forçados a partilhar o nosso gás “argelino” com a Europa mais rica. Tema em debate no “Fora da Caixa” com António Vitorino e Santana Lopes.
É a versão mais moderna da Jangada de Pedra. A Península Ibérica está à margem dos problemas de abastecimento de gás russo pela Ucrânia que podem atingir a Europa Central e de Leste. Portugal e Espanha são fornecidos por um gasoduto com origem na Argélia. Santana Lopes recorda-se de ter estado aí mesmo, em visita oficial na qualidade de primeiro-ministro. "Qualquer pessoa que lá vá, pensa que aquele não é um território com toda a garantia de estabilidade. Temos esta vantagem mas o nosso fornecimento de gás depende também de um território que não é um modelo de estabilidade", sublinha o antigo chefe de Governo.
 
A nossa vantagem pode contudo esconder um desafio, avisa António Vitorino. "Se houver uma diminuição significativa do abastecimento de gás natural à Europa central e do leste, vai haver necessidade de partilhar, em solidariedade, o que falta. Haverá uma maior pressão para que o gás a que temos acesso também seja disponibilizado para outros países da União Europeia", alerta o antigo comissário europeu.
 
O problema dos Pirinéus
É isso. Há uma barreira natural que protege a autonomia da Península Ibérica. Não há comunicação do gasoduto que abastece Portugal e Espanha em relação à Europa Central, lembra Vitorino que ironiza com os méritos de um histórico general cartaginês. "A transposição dos Pirinéus foi mais fácil para os elefantes de Aníbal do que para um gasoduto que venha a ser construído. A pressão para que isso aconteça é agora acrescida. Creio que esse assunto vai estar em breve em cima da mesa dos líderes europeus", garante o antigo ministro socialista.
 
Uma montanha para escalar
É outra forma de dizer que há um bloqueio que subsiste na politica energética europeia. "De todas as coisas más, a situação na Ucrânia talvez traga uma coisa boa. É uma oportunidade única para a União Europeia reflectir sobre a necessidade de uma política energética. Os princípios que estão no Tratado de Lisboa sobre solidariedade e segurança no abastecimento – que nunca tinham sido concretizados – são agora cada vez mais importantes", sustenta o ex-comissário para quem uma atitude de retaliação em relação à Rússia - que tem como resposta o corte do abastecimento de gás à Ucrânia e a outros países da Europa central e de leste - é uma pressão adicional para que haja uma estratégia de abastecimento energético a nível europeu.

"Vamos ou não explorar o gás de xisto? Vamos ou não aumentar a percentagem de nuclear? Esse tipo de decisões mais controversas, onde os Estados estão manifestamente divididos, resulta que as instâncias europeias estão bloqueadas", remata Vitorino.

O conflito entre sunitas e xiitas no Iraque foi outro dos temas em destaque no Fora da Caixa desta semana.

O programa Fora da Caixa, que pode ouvir à sexta-feira a partir das 23h00, na Edição da Noite, é uma colaboração da Renascença com a EURANET PLUS, rede europeia de rádios.