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"Portugal é dos países da União Europeia com mais desigualdade"

17 out, 2012 • Ana Carrilho

Condições de vida melhoraram e a pobreza baixou nos últimos anos, mas as desigualdades salariais agravaram-se significativamente, conclui estudo divulgado no Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza.

"Portugal é dos países da União Europeia com mais desigualdade"

Portugal é um dos países da União Europeia (UE) com níveis mais altos de desigualdade. Esta é uma das constatações do estudo sobre a Desigualdade Económica, coordenado pelo professor Carlos Farinha Rodrigues, a pedido da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

“É indiscutível que Portugal é dos países da União Europeia com mais desigualdade. Nós últimos dez anos, nós ou somos o segundo ou o terceiro a contar do fim, ou seja, somos daqueles países da União Europeia que tem maiores níveis de desigualdade. Não é novidade, mas é o reafirmar dessa triste realidade”, afirma Carlos Farinha Rodrigues, coordenador do estudo e professor no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG).

Ao longo dos últimos 15 anos, em que o estudo se centrou especialmente, as desigualdades ao nível das famílias atenuaram-se, muito por força da adopção de políticas sociais, cujo objectivo prioritário era combater a pobreza, mas que, de caminho, também reduziram as desigualdades.

Cenário diferente é o que se tem quando o critério é salarial. No mesmo período, as desigualdades salariais agravaram-se significativamente. Se é verdade que os trabalhadores com os salários baixos viram os seus rendimentos crescer ligeiramente por via do aumento da remuneração mínima numa percentagem mais elevada que a dos salários médios, foram os vencimentos mais altos que tiveram maiores ganhos, agravando assim a desigualdade.

Sem acesso aos dados do Ministério das Finanças sobre o IRS, os investigadores usaram os inquéritos às famílias feitos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e concluíram que só 75% dos agregados é que pagam IRS, o que os levou a concluir que muita gente funciona no âmbito da economia paralela.

A equipa de Farinha Rodrigues conclui que se registou uma melhoria das condições de vida do conjunto da população e que a pobreza também baixou, aproximando-se dos níveis médios da União Europeia. Ainda assim, Portugal não conseguiu a desejada convergência.

O período estudado termina em 2009, último ano acerca do qual existem dados rigorosos. Este deverá ser também - na opinião do professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) - o ano que marca um fim de ciclo. A crise instalou-se e Farinha Rodrigues já antevê um agravamento das desigualdades e da pobreza.

O relatório da Desigualdade Económica em Portugal é divulgado, precisamente, no Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza.