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"Puxadas" há muitas, contas aos prejuízos é que não

23 jan, 2013 • Celso Paiva Sol

Empresas lesadas não dão conta dos prejuízos das puxadas ilegais. Para a PSP, a questão não parece prioritária.

Numa operação recente, realizada num bairro da periferia de Lisboa, a PSP detectou quase uma centena de ligações ilícitas de água e gás, vulgarmente conhecidas por "puxadas". A polícia fez-se acompanhar de técnicos da Lisboagás e da EPAL. Às perguntas da Renascença sobre o assunto, ninguém tem dados concretos para apresentar sobre o problema.

Não são apenas crimes de furto e dano, são também - e sobretudo - situações perigosas, que podem pôr em risco muitas vidas humanas, como acontece por exemplo com a alteração ou adulteração de contadores e outros equipamentos de gás.

Apesar disso, parece não ser uma prioridade para nenhuma das entidades a que o assunto diz respeito.

Por um lado a polícia, que embora tenha a percepção de que há cidades e bairros onde isso acontece, que os vizinhos raramente se queixam e que os funcionários das empresas sentem receio de fazer inspecções, apesar de tudo isso, a PSP considera que não se trata de um problema em grande escala ou que esteja a aumentar.

Por outro lado, as empresas que fornecem gás, electricidade e água à cidade de Lisboa dizem que também não têm o problema estatisticamente trabalhado, nem dados concretos sobre o prejuízo anual que têm por causa desses esquemas.

Aos pedidos da Renascença, a EPAL respondeu que tem rotinas de controlo dessas situações, admitindo, no entanto, que é difícil fazê-lo porque a maior parte dos casos estão referenciados em bairros problemáticos.

A EDP, por sua vez, garante que a percentagem de fraudes detectadas em 2012 não se agravou face a 2011 e que tudo tem feito para recuperar a energia que é consumida ilicitamente. A GALP nem sequer respondeu.

O comissário Daniel Martins, comandante da divisão da PSP que cobre a zona oriental de Lisboa, reconhece que é um tipo de crime sobre o qual há poucas informações e explica porquê.

“É um fenómeno, na perspectiva policial, não muito incisivo, mas temos que considerar, não só por algum tipo de represálias que os próprios moradores têm, como também os técnicos de fornecimento deste tipo de bens que são hostilizados quando tentam perceber a dimensão desse fenómeno, não terá grande expressividade”, disse.

Ainda assim, como provam as 82 ligações de água e 11 de gás detectadas a semana passada num bairro da 2ª divisão, estes esquemas são afinal mais comuns do que o que parece.

“Estamos a falar sobretudo das chamadas puxadas de natureza amadora de água, gás e electricidade, através de tubagens e contadores ilícitos com puxadas ilegais do condomínio”, acrescenta.

Para a PSP, mais do que dar cobertura aos funcionários das empresas, interessa nesta altura apertar a fiscalização a situações que constituem riscos graves.

De acordo com as poucas informações das empresas lesadas, 2012 não terá registado um aumento de casos, mas há quem admita que esse aumento venha a acontecer, da mesma forma como aumentam as dificuldades dos portugueses em pagar as contas.