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PME gregas estão a "afundar como o Titanic"

14 jan, 2014 • Sandra Afonso

Autoridades comunitárias e o governo de Atenas garantem novas medidas para as pequenas e médias empresas (PME) europeias, mas os patrões avisam que as empresas estão a fechar portas por falta de acesso a financiamento e apoios.

As pequenas e médias empresas (PME) gregas estão a “afundar como o Titanic” e voltam a pedir acesso a financiamento, numa altura em que a presidência da União Europeia chega às mãos de Atenas.

Este é um problema comum aos países em crise e um dos principais obstáculos à recuperação da economia europeia, numa altura em que aumenta a pressão sobre a “troika” para que os resgates sejam bem sucedidos.

À Renascença, as autoridades comunitárias e o governo grego garantem novas medidas para as PME europeias, mas os patrões continuam a avisar que as empresas estão a afundar-se como o “Titanic”, sem acesso a financiamento e sem medidas concretas de apoio.

O discurso institucional da Europa está afinado, mas a banda não está completa. Enquanto as autoridades falam em recuperação, as empresas continuam a fechar portas, ao ritmo de uma pauta bem diferente.

“Temos problemas, todos estão a fechar, é como o ‘Titanic’, estamos a afundar, mas algures ainda há quem pense que a música continua a tocar. Estamos a fechar, estamos a perder os nossos empregos, não podemos esperar até 2020, alguma coisa tem de ser feita agora, este mês. Não estaremos cá em 2020”, disse à Renascença Gofas Panagiotis, representante da Confederação-Geral das Pequenas e Médias Empresas da Grécia.

Europa promete "muito apoio e possibilidades"
Daniel Callega, director-geral da Indústria da Comissão Europeia, responde que “a União Europeia está a fazer um grande esforço” e que “entre 2014 e 2020 as pequenas e médias empresas vão ter muito apoio e possibilidades”.

“Pela primeira vez na história vamos ter um programa exclusivo para PME, o programa Cosme, para a competitividade, que esperamos que possa beneficiar muitas micro empresas. Até ao horizonte de 2020 estamos também a fazer um grande esforço na área da inovação e vamos reorientar os fundos regionais para as PME”, afirma.

O director-geral da Indústria da Comissão Europeia garante ainda à Renascença que os novos apoios podem beneficiar 10 milhões de PME europeias.

Na mesma linha, Dionysios Tsagkris, director da política de desenvolvimento das PME no Ministério do Desenvolvimento da Grécia, assegura que muitas das iniciativas comunitárias já foram adoptadas pelo país.

“Apoiamos as empresas nos seus problemas de liquidez e simplificámos os procedimentos. Agora, na Grécia, há bons sinais de que o ambiente está a mudar e é mais fácil, por exemplo, lançar uma empresa.”

Mas as garantias oficiais não encontram eco entre os empresários, que continuam de mãos vazias. Gofas Panagiotis, da Confederação-Geral das PME da Grécia, pergunta “onde andam”
os tais “fundos estruturais, garantias e bancos”.

“Não entendo, provavelmente sou demasiado estúpido. Se uma PME vai a um banco na próxima esquina e pede 10 mil, 20 mil... não 20 milhões ou 20 mil milhões, só 10 mil euros, a resposta é não.”

Gofas Panagiotis, que é também presidente do Comité Europeu Económico e Social para as PME, acrescenta ainda que, mesmo quando as empresas conseguem co-financiamento, o dinheiro perde-se na burocracia bancária.

Os empresários gregos dizem-se cansados e reclamam decisões, um “colete salva-vidas” que evite uma tragédia social de dimensões épicas, nos países em crise.

“Precisamos de um colete salva-vidas que financie as PME, imediatamente. Precisamos de discutir soluções concretas. Concordo com as ideias da Comissão Europeia, podemos usar os fundos estruturais, ou qualquer outro instrumento, mas vamos avançar já. Precisamos de um fórum, de decisões políticas, temos que fazer alguma coisa”, apela Gofas Panagiotis.