"Tirou-se a liberdade física às crianças e deu-se uma liberdade total na internet, onde estão os predadores sexuais"

"Passámos a educar as crianças na ideia de que o pedófilo estava na esquina da escola à espera dele, quando está dentro de casa [na internet]".

É desta forma que Henrique Raposo, comentador d’As Três da Manhã, olha para os números da criminalidade sexual em Portugal, que "envergonham" a Polícia Judiciária.

Em entrevista à Renascença Carlos Farinha, diretor nacional adjunto da Polícia Judiciária (PJ), revela que são identificados anualmente cerca de três mil casos de crimes sexuais, mais de metade ocorrem no seio familiar.

A grande percentagem, cerca de 68% são casos de criminalidade sexual contra crianças e jovens e os restantes 32% contra maiores de 18 anos.

"Isto é o que Jonathan Haidt [autor e psicólogo social] tem dito: a partir dos anos 90, por causa dos canais de televisão de informação (ou desinformação), que 24 sob 24 horas pegam num caso de pedofilia e aumentam aquilo de maneira brutal, cria-se a ideia de que é algo exterior".

Para o comentador, esta proteção criou "pais-helicópteros", que não deixam as suas crianças "sair à rua sozinhas, fazer recados, ir sozinhas para a escola e para lado nenhum".

"Criámos o oposto: tirou-se a liberdade física às crianças e deu-se uma liberdade total na internet, onde estão os tais predadores sexuais", diz. "Isto está criar uma explosão de saúde mental gravíssima".

Henrique Raposo recupera as palavras de Carlos Farinha, na entrevista à Renascença, sobre o desafio do mundo digital, que traz o crime de pornografia e não só. "Basta uma fotografia comprometedora, sobretudo de miúdas, para ficarem numa posição de chantagem e de extorsão sexual brutal".

"Atirámos as miúdas, sobretudo, para um campo onde são vítimas fáceis do tal predador sexual", sublinha.