A+ / A-

Óbito

Protegido de Ali Khamenei e possível sucessor do aiatolá. Quem era o Presidente do Irão?

20 mai, 2024 - 13:48 • Diogo Camilo e Reuters

No poder desde 2021, Ebrahim Raisi mostrou punho firme contra os EUA e restringiu os direitos das mulheres dentro do seu país. O helicóptero onde seguia despenhou-se este domingo, junto à fronteira com o Azerbaijão.

A+ / A-

O Presidente do Irão, Ebrahim Raisi, foi dado como morto na manhã desta segunda-feira, depois de o helicóptero onde seguia se ter despenhado na fronteira com o Azerbaijão no domingo, não se conhecendo em que condições ocorreu o acidente. Durante horas, Raisi foi dado como desaparecido, mas os destroços do helicóptero e os restos das vítimas já terão sido encontrados.

No local estiveram equipas de resgate e o exército iraniano, com o nevoeiro e a chuva intensa em região montanhosa a dificultar o trabalho das autoridades no local.

Com 63 anos, Raisi era um homem de linha dura, que anteriormente dirigiu o poder judicial do país, era caracterizado como um protegido e visto como o possível sucessor do líder supremo do Irão, o aiatolá Ali Khamenei.

A sua vitória nas eleições presidenciais de 2021, na votação com a mais baixa taxa de participação na história do Irão, aconteceu envolta em polémicas desqualificações de rivais e trouxe redobrados poderes a homens fiéis a Ali Khamenei.

No poder, Raisi tomou uma posição dura nas negociações com seis grandes potências para relançar um acordo nuclear de 2015, vendo uma oportunidade de obter um alívio nas sanções dos EUA em troca de restrições modestas no seu cada vez mais avançado programa nuclear.

Com Donald Trump no cargo de Presidente, os EUA renegaram o acordo feito com Teerão e restauraram as sanções ao país, o que levou o Irão a violar as restrições nucleares.

A nível interno, Raisi também mostrou a sua linha conservadora: um ano após a sua eleição, as autoridades reforçaram a aplicação da “lei da hijab e da castidade”, com restrições ao que as mulheres podem vestir ou como se podem comportar.

Poucas semanas depois foi conhecido o caso de Mahsa Amini, uma jovem iraniana do Curdistão que morreu depois de presa pela polícia da moralidade por violar essa mesma lei.

O caso levou a meses de protestos por todo o país, num dos maiores desafios que o regime enfrentou desde a Revolução Islâmica de 1979. Centenas de pessoas morreram, mas Raisi resistiu no poder com o apoio de Ali Khamenei.

O protegido do aiatolá

Nascido em 1960 numa família religiosa em Mashad, Raisi perdeu o pai com apenas cinco anos, mas seguiu as suas pisadas e juntou-se ao clero, entrando num seminário na cidade sagrada de Qom. Em 1979, esteve nos protestos contra o então Xá Mohammad Reza Pahlavi, que vieram a dar origem à Revolução Islâmica.

Como jovem procurador em Teerão, Raisi supervisionou a execução de centenas de presos políticos em 1988, no final de uma guerra de oito anos com o Iraque.

Nas inquisições conhecidas como “comités da morte”, estima a Amnistia Internacional, terão morrido cinco mil pessoas, mas Raisi sempre mostrou orgulho no sucedido. Em 2021, quando questionado sobre a sua participação, afirmou: “Se um juiz ou procurador defendeu a segurança das pessoas, devia ser aclamado. Estou orgulhoso por defender os direitos humanos em todos os cargos que tive.”

Depois de ser vice-líder da justiça durante 10 anos, foi nomeado procurador-geral iraniano em 2014. Três anos depois, candidatou-se à Presidência do Irão, perdendo para Hassan Rouhani.

Subindo pela hierarquia do clero xiita, foi nomeado por Khamenei como a mais alta figura da justiça do Irão em 2019. Pouco depois, foi também nomeado como vice-presidente da Assembleia dos Especialistas, um órgão de 88 membros do clero que é responsável por eleger o próximo Supremo Líder do Irão.

O que acontece depois de o Presidente do Irão morrer?

O desaparecimento do Presidente deixou a população iraniana preocupada com o futuro, questionando-se sobre quem o poderá suceder. A confirmação da sua morte só veio adensar as dúvidas.

Segundo a constituição iraniana, cabe ao vice-presidente assumir o cargo e a imprensa local tem apontado nesse sentido, referindo que para Mohammad Mokhber assumir o cargo só falta a aprovação de Khamenei.

"Em caso de morte, destituição, demissão, ausência ou doença por um período superior a dois meses do Presidente da República, o primeiro vice-presidente da República assume o cargo", refere o artigo 131.º da Constituição da República Islâmica do Irão, citado pelas agências internacionais.

Ainda assim, a lei é clara: o novo Presidente deverá ter o "consentimento do Líder Supremo", o aiatolá Ali Khamenei, que tem a última palavra em todas as situações.

Um conselho com o primeiro vice-presidente, o porta-voz do parlamento e a figura principal da justiça têm depois de encontrar uma data para a eleição de um novo presidente no espaço de 50 dias.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+