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Hora da Verdade

Elisa Ferreira: “Fiquei surpreendida com dimensão da renovação” da lista do PS

09 mai, 2024 - 07:00 • Susana Madureira Martins (Renascença) e Helena Pereira (Público)

A comissária europeia desdramatiza a polémica sobre as contas públicas e considera que as acusações entre o Governo da AD e o PS sobre o excedente orçamental e o défice fazem parte do “combate político".

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Em entrevista ao programa Hora da Verdade da Renascença e do jornal Público, Elisa Ferreira confessa que ficou um “bocadinho surpreendida com a dimensão da renovação” da lista de candidatos do PS às europeias. A comissária europeia da Coesão e Reformas salienta o trabalho de eurodeputados socialistas como Pedro Marques ou Margarida Marques que “subiram a um nível de credibilidade tal que estiveram a influenciar a agenda europeia”.

Elisa Ferreira, prestes a terminar o mandato como comissária, fala ainda sobre a hipótese de António Costa ocupar um dos cargos europeus de topo e explica que, em Bruxelas, o problema judicial de António Costa não é visto como um problema. “Seria um problema se fosse acusado”.

No dia em que se assinala o dia da Europa, a comissária europeia admite ainda que existe uma tendência de crescimento de partidos de extrema-direita que ameaça o projeto europeu. Aos portugueses pede que “na hora da verdade e na hora do voto, primeiro vão votar e, em segundo lugar, votem a favor da Europa”.

Por que pasta na Comissão Europeia deve o governo português lutar no próximo mandato? A da coesão outra vez?

Há dois aspetos importantes a sublinhar. Um é que quem for exercer a função de comissário tem de ir preparado para muito trabalho físico, muita resistência, muita capacidade de defender os interesses europeus também numa perspetiva nacional.

Um comissário não é um agente do país, mas é evidente que um comissário transmite toda a experiência, que é também uma experiência europeia, da sua vivência nacional.

Mas a comissão está controlada pelo Parlamento. É preciso discutir os mandatos e em que comitês é que os deputados que vão ser eleitos vão trabalhar. Os deputados portugueses, neste mandato, foram muitíssimo relevantes.

Como é que viu esta renovação total da lista do PS?

Vai exigir um grande esforço aos que estão agora a entrar. Os deputados que saem, da área da economia, com quem eu trabalhei mais, como o Pedro Marques, Margarida Marques, Pedro Silva Pereira, subiram a um nível de credibilidade tal que estiveram a influenciar a agenda europeia, o seu grupo político. Pedro Marques chegou a vice-presidente do grupo parlamentar dos socialistas europeus.

Ficou surpreendida com esta decisão da direção do Partido Socialista?

Tenho de confessar: fiquei um bocadinho surpreendida com a dimensão da renovação.

E foi injusto para algumas pessoas?

Não vou julgar porque não estou suficientemente por dentro. Agora, sabemos o que é que vai estar em causa agora, é o orçamento europeu porque há um alargamento em curso, há novas tensões e novos pedidos de utilização de dinheiro, ou novas necessidades, nomeadamente a política de defesa.

E estas novas equipas têm de pedalar mais...

Têm de pedalar muito. E têm de, quando lá chegarem, têm de escolher e lutar para terem lugar nos comités. Para mim, o comité Económico é um muitíssimo importante. Outro aspeto é a política de coesão.

Em relação a António Costa, continuou a falar-se como uma escolha para o Conselho Europeu, é para si uma escolha natural? Acha que tem hipóteses?

É-me difícil neste momento saber se tem ou não. Que ele tinha todas as hipóteses, que havia um consenso alargadíssimo, tinha. Isso eu posso confirmar ao nível de todos os comissários que falavam quase como um dado adquirido que António Costa seria o próximo presidente do CE. Havia, inclusivamente, de outras forças políticas não socialistas, um consenso.

E agora, com este processo?

Acho que o problema é do próprio António Costa. Ele tem muito aquela postura de dizer, “não posso contaminar o lugar porque eu respeito as instituições”. Acho que o problema é mais dele do que propriamente do outro lado.

Para Bruxelas, o problema judicial de António Costa não é um problema?

Nesta fase, não é. Seria um problema se fosse acusado. Neste momento, como o assunto é muito difícil de explicar, está toda a gente à espera que, mais uma vez, a água baixe e se perceba que matéria é que há.

Estamos a um mês das eleições europeias. O equilíbrio de forças entre socialistas, liberais e PPE pode ser quebrado pela extrema-direita nestas eleições?

Esta foi uma novidade recente, haver aqui um partido a crescer e com uma agenda que está sempre em mutação.

Mas, como o Chega, na Europa há vários partidos irmãos.

Sim. Há uma tendência. Muita gente em Portugal, em determinado momento, quando viu alguma instabilidade do sistema político, quis mandar um cartão amarelo.

Encontro muito voto talvez mais explicado por essa vontade de fazer uma crítica do que propriamente de encontrar no Chega uma alternativa. Uma característica destes partidos é que se alimentam todas as críticas. Críticas porque os salários não chegam ou críticas porque não há controle das contas públicas, ou críticas porque o dinheiro vai para fraudes.

O crescimento da extrema-direita ameaça o projeto europeu?

Imenso, por isso tenho a esperança de que os portugueses, que são um povo antigo, são um povo maduro, na hora da verdade e na hora do voto, primeiro vão votar e, em segundo lugar, votem a favor da Europa.

A Europa não é perfeita. Isto não é tudo perfeito. Agora, não vamos, atirar, como dizem os ingleses, a criança com a água do banho. Vamos melhorar aquilo que houver para melhorar, mas não vamos comprar discursos destrutivos que não oferecem nada de concreto e que seja viável como alternativa. Temos de pôr os pés no chão, e de perceber a importância estratégica de estarmos juntos e de corrigir o que há para corrigir.

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