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Por onde andaram os partidos à caça de deputados? Veja o mapa das viagens

08 mar, 2024 - 06:30 • Salomé Esteves

A possibilidade de eleger mais um deputado em Setúbal levou todos os partidos ao terceiro maior círculo eleitoral. E todos visitaram o Interior, mesmo que, em 2022, a maioria dos (poucos) deputados tenham sido para o PS e PSD.

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Em 2022, seis partidos elegeram deputados por Setúbal. Em 2024, todos atravessaram a ponte 25 de abril pelo menos uma vez para uma arruada, um comício, ou um jantar. O distrito foi, aliás, o rei das iniciativas dos partidos com assento parlamentar: foi visitado 24 vezes nos 15 dias de campanha.

Olhando para o mapa interativo (que pode consultar mais abaixo), vê-se que os partidos concentraram a agenda na área metropolitana de Lisboa, em Leiria e entre o Porto e Braga. E se há partidos que insistiram em ações nos distritos onde os líderes são cabeça de lista, outros quase ignoram o distrito por onde esperam ser eleitos.

A verdade é que uma ação de campanha pode fazer a diferença num círculo eleitoral com historial de troca de deputados entre partidos. Enquanto Setúbal ganhou um deputado, e notoriedade nas agendas de todos os partidos, Viana do Castelo perdeu um representante e só foi visitada por três.

Por onde passaram as comitivas dos partidos políticos durante as duas semanas de campanha eleitoral? E o que dizem os itinerários sobre os seus objetivos em eleger deputados nos círculos eleitorais?

Quando o maior número de eleitores e de cabeças de lista está em Lisboa, e o segundo maior círculo eleitoral é o Porto, não é de estranhar que estes distritos tenham a agenda mais preenchida.

Mas o que acontece em Braga, por onde Rui Rocha é cabeça de lista da IL, ou em Aveiro, onde Pedro Nuno Santos encabeça a lista do PS?

Interior teve mais visitas do que os deputados que elege

Quatro distritos do interior receberam mais visitas, durante a campanha eleitoral, do que o número de deputados que elegem para a Assembleia da República. O que puxa as comitivas dos partidos para Beja, Bragança, Castelo Branco e Évora?

Beja elege três deputados - dois dos quais pelo PS em 2022 e 2019 -, e ficou no caminho de todos os partidos, exceto dos socialistas. O terceiro deputado ficou nas mãos da CDU nas duas últimas legislativas, partido que visitou Ferreira do Alentejo e a capital do distrito.

Bragança recebe seis visitas de três partidos: da AD, do PS e do Chega. Nas últimas legislativas, PS e PSD praticamente empataram neste círculo eleitoral, com os socialistas a conseguir 40,30% dos votos e os sociais-democratas, 40,28%. Ficar em segundo lugar teve custos: a eleição de menos um deputado.

Em 2024, Luís Montenegro regressou quatro vezes a Bragança, incluindo passagens por Mirandela e Macedo de Cavaleiros, enquanto Pedro Nuno Santos rumou ao distrito mais a nordeste de Portugal apenas duas vezes.

Das sete visitas ao distrito de Castelo Branco, quatro delas, entre 27 de fevereiro e 2 de março, foram à Covilhã, com AD, PS, PAN e Bloco de Esquerda a visitarem o município. Nas visitas ao distrito, acrescenta-se ainda o Chega. Tanto em 2022 como em 2019, apenas o PS e o PSD elegeram deputados, três e um, respetivamente.

Nas últimas legislativas, o Chega ultrapassou o Bloco de Esquerda como terceira força política entre os albicastrenses, embora não tenha batido os 11% que o BE obteve em 2019.

Évora elege três deputados, mas, ao longo da campanha recebeu cinco partidos, num total de dez visitas, três organizadas pela CDU. Nas últimas eleições, a coligação entre o PCP e Os Verdes perdeu um deputado em 2022 para o PSD que, este ano, visita a cidade apenas uma vez.

O Chega foi o segundo partido a organizar mais eventos na zona, com incidência em Estremoz e na capital do distrito. Em 2022, o partido liderado por André Ventura cresceu de 2,22% para 9,15% no distrito, apesar de não ter chegado a eleger nenhum deputado.

O PS também passou duas vezes por Évora. Nas duas últimas legislativas, o Partido Socialista liderou a região com mais de 38% dos votos, elegendo dois dos três deputados. O terceiro foi para o PSD.

Todos a Setúbal. Porquê?

Setúbal vai ter nesta eleição mais um deputado do que nas legislativas de 2022, crescendo para um total de 19. Desde 25 de fevereiro, os sete partidos com mais intenções de voto têm escolhido este distrito como cenário de várias iniciativas de campanha.

Durante as duas semanas de campanha, há um total de 24 iniciativas na agenda destes partidos no distrito de Setúbal. Este número está bastante próximo do do círculo eleitoral do Porto, que, com 40 deputados, vai albergar 28 ações de campanha.

De Almada a Alcácer do Sal, todos os partidos com assento parlamentar vão passar por Setúbal — mas o que organiza mais iniciativas neste círculo é a CDU (6), seguida da Iniciativa Liberal (5).

As idas a Setúbal fazem especial sentido se considerarmos que cinco dos setes líderes dos principais partidos são cabeças de lista por Lisboa e que Setúbal é, a par com Braga, o terceiro círculo eleitoral com mais deputados: junta-se a proximidade à sede de eleger.

Em 2022, o PS elegeu 10 deputados em Setúbal, o PSD, três, a CDU, dois e o Chega, o Bloco de Esquerda e a Iniciativa Liberal elegeram um deputado cada.

A população vê deputado extra como “mais um tacho” ou mais um deputado “nos partidos de sempre”. Mas, da mesma maneira que o Chega e a Iniciativa Liberal arrecadaram um deputado ao BE e ao PSD entre as legislativas de 2019 e de 2022, o Livre pode conseguir agora o mesmo feito e o PAN poderá recuperar o deputado perdido há cinco anos.

Já Viana do Castelo, que perdeu um deputado, recebe a Aliança Democrática, o PS e o Chega, uma vez cada (apenas AD e socialistas elegeram deputados naquele círculo em 2022). Em terceiro lugar, o Chega arrecadou pouco mais de 6% dos votos, que não foram suficientes para ter um deputado.

Quem fica perto de casa e quem salta do ninho?

Os três partidos com mais iniciativas em Lisboa são o Livre, o PAN e a CDU, onde os seus líderes são cabeças de lista – os mesmos três partidos, com assento parlamentar, que menos votos tiveram nos resultados globais das últimas eleições, respetivamente 1,28%, 1,58% e 4,30%.

Além disso, o Livre e o PAN são os dois partidos entre estes sete com menor orçamento disponível para a campanha eleitoral. O PAN tem cerca de 200 mil euros, enquanto o orçamento do Livre é cerca de metade desse montante, rondando os 100 mil euros.

Apesar disso, o PAN inclui uma viagem à Madeira no seu itinerário da campanha eleitoral. Já a CDU conta com quase 800 mil euros para planear a campanha.

Luís Montenegro é cabeça de lista pela AD em Lisboa, mas o partido só tem iniciativas na capital em três dias, incluindo no último dia da campanha. Outra data foi 26 de fevereiro, quando aconteceu o Debate da Rádio, que se realizou nos estúdios da RTP, em Lisboa.

Braga, onde Rui Rocha, líder da IL, é cabeça de lista, está no itinerário do partido em três ocasiões, não mais do que na agenda do PS.

Pedro Nuno Santos encabeça a lista do Partido Socialista por Aveiro, mas o PS visitou o círculo eleitoral apenas uma vez, a 4 de março, para um evento em Anadia. Mesmo sendo a terra natal do adversário, Aliança Democrática e a Iniciativa Liberal visitaram São João da Madeira, no mesmo distrito.

Já o Chega só visita Lisboa, por onde o líder é cabeça de lista, uma vez. André Ventura regressa a casa a 8 de março, no último dia de campanha.

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