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Peritos alertam para esquecimento de doentes com cancro da mama metastático

16 abr, 2024 - 13:12 • Lusa

O grupo internacional multidisciplinar de peritos defende no relatório que pelo menos 70% dos registos oncológicos a nível mundial devem documentar com maior rigor o estadio da doença aquando do diagnóstico, bem como as reincidências, de modo a refletir com precisão a prevalência e o impacto desta doença.

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A nova Comissão Lancet sobre o cancro da mama alerta que as desigualdades nos cuidados de saúde, associadas aos "custos ocultos" do cancro da mama metastático, implicam que muitas mulheres e alguns homens sejam "deixados para trás e esquecidos".

A comissão, que começou a trabalhar em 2021 com o compromisso de elevar o padrão de cuidados médicos do cancro da mama e de colmatar a lacuna de equidade que existe entre e dentro dos países, afirma num relatório hoje divulgado que se trata de "um problema global" e aponta os principais obstáculos que impedem o progresso e as "seis áreas cruciais para a mudança", uma das quais o cancro da mama metastático ou avançado.

Segundo o relatório, 20 a 30% das doentes com cancro da mama inicial sofrem reincidências que normalmente não são documentadas pela maioria dos registos nacionais oncológicos, o que leva "a desconhecer-se o número de doentes que vivem com cancro da mama metastático, uma doença já de si mal compreendida".

O grupo internacional multidisciplinar de peritos defende no relatório que pelo menos 70% dos registos oncológicos a nível mundial devem documentar com maior rigor o estadio da doença aquando do diagnóstico, bem como as reincidências, de modo a refletir com precisão a prevalência e o impacto desta doença.

Isto seria apoiado pela melhoria dos programas de diagnóstico precoce, devendo a comissão visar 60% dos casos de cancro invasivo diagnosticados no estadio I ou II, sustentam.

"As doentes que vivem com cancro da mama metastático/avançado (CMB/CAA) têm sofrido durante muito tempo com o estigma, as conceções erradas e o abandono, não só da sociedade em geral, mas também dos prestadores de cuidados de saúde e grupos de defesa dos doentes", afirma em comunicado Fátima Cardoso, que integra o grupo internacional multidisciplinar de peritos e é presidente da Aliança Global ABC.

Para a também diretora da Unidade da Mama do Centro Clínico Champalimaud, "é urgente mudar a forma como o cancro da mama metastático é entendido e tratado".

"Esta transformação permitirá tratar a maioria, aliviar o sofrimento de todos e não esquecer ninguém que vive com MBC/ABC. Esta é uma das mensagens mais fortes da nova Comissão Lancet sobre o cancro da mama, que está totalmente alinhada com a luta de longa data da Aliança Global ABC", sublinha Fátima Cardoso.

O relatório sublinha também a importância de melhorar a comunicação com os doentes, afirmando que todos os profissionais de saúde do mundo devem receber preparação em competências de comunicação que permita envolver os doentes em todas as fases dos cuidados oncológicos, da melhor forma possível.

Por outro lado, o relatório afirma que existem muitos custos físicos, psicológicos, sociais e financeiros que "são mal reconhecidos e que não são captados pelos atuais indicadores de saúde mundiais", uma lacuna que a Comissão defende que deve ser colmatada urgentemente através do desenvolvimento de novos instrumentos e parâmetros.

A comissão faz várias recomendações, entre as quais mais de 80% (com o objetivo de atingir 95%) dos doentes terem acesso à subtipagem exata do tumor e que pelo menos 10% (com o objetivo de mais de 25%) dos participantes em ensaios internacionais serem provenientes de países de baixo rendimento e de rendimento médio.

Propõe o registo do número de doentes com cancro da mama metastático, procurando duplicar a mediana da sobrevivência global numa década, que todos os doentes tenham acesso a medicamentos que "salvam vidas" e que 60% dos cancros invasivos sejam diagnosticados no estado I-II.

Defende igualmente que um mínimo de 20% (com o objetivo de 100%) dos doentes e famílias com os rendimentos mais baixos recebam financiamento público e a prestação de um pacote essencial de cuidados de apoio e cuidados paliativos em todo o percurso da doença.

O cancro da mama é o mais comum no mundo, estimando-se que, no final de 2020, atingisse pelo menos 7,8 milhões de mulheres e que tenham morrido 685.000.

Prevê-se que esta situação se agrave, com três milhões de diagnósticos anuais até 2040 e um milhão de mortes anuais, sendo os países de baixo e médio rendimento os mais afetados.

Os recentes progressos na investigação e no tratamento ajudaram a reduzir o número de mortes por cancro da mama, verificando-se uma diminuição até 40% em alguns países de elevado rendimento.

No entanto, o cancro da mama continua a representar um enorme fardo a nível mundial, tendo a Comissão afirmado que "a sociedade, os governos e os decisores no setor da saúde apenas veem a ponta de um icebergue".

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