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Reportagem Renascença

De fundador dos Estudantes Comunistas a dirigente do Chega: “Já na altura era contra qualquer coisa”

06 mar, 2024 - 06:30 • Tomás Anjinho Chagas

Passou de comunista a vice-presidente da concelhia de Santarém do Chega. Admite semelhanças com o PCP: “a irreverência”. Ainda hoje encontra antigos camaradas e cumprimenta-os.

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Está num átrio do Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas e fala com uma calma que não é característica a uma grande parte dos militantes do Chega.

Um cachecol branco envolve-lhe o pescoço, que foi outrora envolvido por um cachecol vermelho. Luís Peralta foi de um extremo político ao outro: quando era adolescente, ajudou a fundar a União dos Estudantes Comunistas, que mais tarde viria a dar origem à Juventude Comunista Portuguesa (JCP), existente até aos dias de hoje.

À Renascença, diz que foi a “irreverência” que serviu de gasolina e que ainda hoje não esvaziou o depósito.

Tive ideais comunistas, aos meus 17 anos, anos de irreverência. Já nessa altura éramos contra qualquer coisa”, afirma, resumindo o estado de espírito que o arrasta para a participação na política.

“Foi com essa juventude e com essa força que, junto com outros colegas, a UEC, União de Estudantes Comunistas, aqui em Santarém”, recorda.

A UEC existe desde 1972 e em 1979 foi fundida com a União de Estudantes Comunistas para criar a JCP. “Havia uma força muito engraçada, que defendia o Partido Comunista. Era jovem, era apenas a irreverência da altura”, justifica com uma certa nostalgia.

Luís Peralta puxa a fita atrás para explicar que logo depois se desfiliou e se tornou um “trabalhador sem ideias políticas na altura, finando aí as minhas ideias comunistas”.

“Irreverência” e o protesto como pontos de contacto

Aos dias de hoje, é vice-presidente da concelhia do Chega em Santarém. Mas apesar de dizer que “dificilmente” encontra “pontos comuns” entre o PCP e o Chega, Luís elenca alguns: “A não ser a irreverência, e é claro que somos a oposição a alguma coisa que achamos que não está bem”

Este dirigente do Chega exemplifica com os impostos que os portugueses pagam e explica que um dos objetivos do Chega é que as pessoas “não se sintam tão enganadas”. Enganadas pelo PS, explica Luís Peralta: “dão com uma mão e retiram com o resto do corpo”.

Luís Peralta percorreu o espetro político de uma ponta à outra, revela conhecer “algumas” que fizeram o mesmo. Mas assinala que há quem tenha permanecido do lado comunista.

“Ainda agora nas campanhas nos encontrámos e cruzámo-nos com algumas pessoas do PCP dessa altura. Cumprimentámo-nos, fomos colegas de escola”, descreve o vice-presidente da concelhia do Chega em Santarém.

Mas assinala mais dissidentes: “Alguns ficaram, outros fizeram como eu, não concordaram com aqueles ideais, era a irreverência da juventude sem ter a noção exata do que era o comunismo”, resume.

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