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Risco de pobreza aumentou em 2023. Quem são as famílias em maior risco?

15 mai, 2024 - 19:58 • Anabela Góis

Relatório elaborado por investigadores da Nova Business School revela que ser imigrante é um fator de risco, que sem apoios sociais mais de 500 mil pessoas estariam em risco de pobreza e que quase todas as crianças pobres não entravam na creche até 2022.

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Risco de pobreza aumentou em 2023. Quem são as famílias em maior risco?

O relatório Portugal Balanço Social 2023 divulgado esta quarta-feira traça um retrato da pobreza em Portugal, concluindo que as crianças são um grupo de risco e que creches e jardins de infância continuam a não responder às necessidades.

Como é que os autores deste estudo avaliam a pobreza?

A pobreza é descrita a partir do rendimento, sendo avaliadas outras condições, como a privação material, a habitação e o acesso à educação e à saúde.

E quem são as famílias com menores rendimentos ou em maior risco de pobreza?

São, sobretudo, desempregados, famílias monoparentais, idosos, mulheres e pessoas com menos escolaridade.

Ser imigrante é também um fator de risco de pobreza em Portugal. Os números indicam que esse risco quase duplica: se a taxa de pobreza entre os nacionais é de 16,1% , nos estrangeiros sobe para 28,5%.

E o risco de cair na pobreza? Aumentou ou diminuiu?

Aumentou para 17% no ano passado, depois de ter caído para 16,4% em 2022. São mais de 60 mil pessoas em risco de pobreza, sendo que as crianças e a população com mais de 65 anos são particularmente vulneráveis, com uma taxa de risco superior à média nacional.

No caso das crianças, a taxa de pobreza aumentou 2,2 pontos percentuais face ao ano anterior, mas o aumento da prevalência da pobreza refletiu-se em todos os grupos etários.

O que contribuiu para que a pobreza aumentasse?

Os autores deste estudo destacam, em particular, a subida da inflação, que fez com que aumentasse a percentagem de pessoas pobres com privação ou privação severa de 2021 para 2022.

Ou seja, há mais população pobre sem capacidade para aquecer a casa, para garantir refeições proteicas em dias alternados, para assegurar uma despesa inesperada, pagar uma semana de férias, substituir móveis usados, comprar roupa, para encontros sociais uma vez por mês ou para adquirir um computador.

Os efeitos das medidas de apoio aos mais pobres não são visíveis?

São, porque se não houvesse transferências sociais em 2022, os autores deste estudo calculam que haveria mais 520 mil pessoas em risco de pobreza.

Por exemplo, não aumentou a percentagem de pessoas com atraso no pagamento da hipoteca ou de contas mensais como água ou eletricidade, o que pode resultar, justamente, das medidas de mitigação implementadas pelo Governo.

Há, no entanto, algumas medidas que apesar de meritórias são demasiado recentes para produzirem os resultados desejados. É o caso das creches gratuitas, que só existem desde 2022.

A escolaridade tem um papel importante na redução da transmissão da pobreza de pais para filhos, mas oito em cada dez crianças pobres não têm acesso a uma creche e, entre os quatro e os sete anos, os menores mais pobres são os que menos frequentam o pré-escolar.

E as dificuldades económicas acabam por refletir-se também em hábitos menos saudáveis?

Sim. A maioria das pessoas em risco de pobreza faz pouco exercício físico e consome pouca fruta ou legumes e saladas. Por outro lado, o consumo elevado de tabaco é mais significativo entre este grupo, tal como o consumo de bebidas alcoólicas

Duas em cada 10 pessoas pobres consideram que a sua saúde é má ou muito má e metade reportam doenças crónicas e prolongadas.

Os pobres também têm níveis de privação mais elevados, especialmente nos cuidados de medicina dentária.

A situação é semelhante em todo o país? Não há assimetrias?

A prevalência da pobreza é maior nas regiões autónomas, onde a taxa de pobreza está quase 10 pontos percentuais acima da média nacional na Madeira, a região com maior taxa de pobreza em Portugal, e nove pontos percentuais acima da nacional nos Açores.

A região com maior desigualdade foi a dos Açores, que foi também aquela em que a desigualdade mais aumentou face ao ano anterior, seguida da Madeira e do Centro.

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