A+ / A-

Hora da Verdade

Rui Moreira cabeça de lista às europeias? "Não podemos trocar as coisas por um prato de lentilhas"

19 out, 2023 - 07:00 • Susana Madureira Martins (Renascença) e Margarida Gomes (Público)

O presidente da Câmara Municipal do Porto garante que não foi sondado nem pelo PSD, nem pelo PS para integrar as respetivas listas às eleições europeias. Se o convite chegar, promete "pensar nas condições", mas vai avisando que "não é provável", até porque implica sair a meio do mandato autárquico.

A+ / A-
Hora da Verdade com Rui Moreira
Hora da Verdade com Rui Moreira

Em entrevista ao programa Hora da Verdade da Renascença e do jornal Público, o autarca diz que, conhecendo Manuel Pizarro como conhece, admite que o ministro da Saúde pode abandonar a pasta para entrar na corrida à sua sucessão na Câmara do Porto. Moreira diz que Pizarro "é inquieto", que "muda rapidamente de rumo" e "gosta mais de andar à bolina". Mas fala também na possibilidade de José Luís Carneiro ser o candidato escolhido.

Sobre o Porto, o autarca admite que o consumo de drogas está pior do que em 2019, em breve a cidade terá mais uma sala de chuto móvel, mas Moreira apela a que os concelhos vizinhos - Matosinhos, Gondomar e Gaia - invistam também no combate a este fenómeno. Pelo meio deixa duras críticas à nova lei das drogas, que considera ser "irresponsável".

Questionado sobre como resolver o intenso tráfego na Via de Cintura Interna (VCI) do Porto, Moreira defende que os camiões podiam usar a A41 como alternativa, mas que para isso é preciso acabar com as portagens nessa via. Depois de os pesados serem retirados da VCI, o autarca admite "seguramente criar horários para aqueles que entram e saem da cidade".

Esta é uma semana de greve entre os profissionais da saúde e a gestão dos hospitais do Porto é sempre dada como exemplo pelo próprio primeiro-ministro. Esta é a prova de que não é preciso encharcar a saúde de dinheiro e que o problema é mesmo uma questão de gestão?

Vai ser preciso mais dinheiro. Aquilo que acontece com a nossa sociedade é que, por um lado, estamos a ficar mais velhos e, por outro lado, há um conjunto de doenças que anteriormente não eram tratadas, as pessoas morriam e hoje conseguem sobreviver a essas patologias. Portanto, o investimento na saúde vai ter que continuar a ser feito. Mas é verdade que quando olhamos para a gestão dos hospitais centrais a Norte, no Porto, nomeadamente e até no IPO, quando comparado com Lisboa, parece haver aqui uma diferença na forma de gestão e na forma com os recursos alocados. Sim, é verdade.

Conhece bem o ministro da Saúde, esperava mais de Manuel Pizarro como ministro ou era exatamente disto que estava à espera?

Conheço muito bem o Dr. Pizarro, além de ter sido meu vereador na Câmara do Porto, foi meu adversário político em duas eleições e é meu amigo pessoal. Ele é extremamente trabalhador, é um excelente comunicador e um bom negociador. O que acontece é que ele apanha uma situação na saúde que é deixada por Marta Temido, que é extremamente delicada. Aquilo que aconteceu com a especialização dos médicos, aquilo que aconteceu com uma visão um pouco ideológica que Marta Temido impôs aos médicos, acaba por transformar a saúde num campo de batalha em que, neste momento, provavelmente, vai ser preciso acelerar essa mediação. Claro que ele tem ali um grande elemento que é Fernando Araújo, que pode ajudá-lo a fazer a diferença. Mas, de facto, vivem-se momentos delicados na saúde. Percebe-se que há aqui e ali uma insuficiência de recursos e espero que, para bem de nós todos, que Manuel Pizarro consiga dobrar o cabo da Boa Esperança e que não seja o Cabo das Tormentas.

Pizarro é um homem inquieto. Portanto, ele, em termos náuticos, gosta mais de andar à bolina contra o vento do que propriamente a favor do vento, sempre na mesma direção.

Manuel Pizarro tem sido acusado de estar mais preocupado com uma eventual candidatura à Câmara do Porto em 2025. Se ele for candidato, de novo, à Câmara do Porto, sente-se na obrigação de o apoiar?

Tenho muita consideração pelo Dr. Manuel Pizarro, mas compreenderão que, apesar de tudo, faço parte do movimento que, suponho, tem intenção de apresentar um candidato e, portanto, não é minha intenção e não deve ser a minha intenção neste momento estar a marcar as cartas do futuro. Mas, objetivamente, não é exequível nem razoável esperar que o faça. Se me perguntar se ele tem qualidades pessoais, com certeza que tem, mas com certeza que também tem opções políticas diferentes daquelas que eu tenho seguido.

Acha natural que Manuel Pizarro possa optar por sair do Governo para uma candidatura à presidência da câmara do Porto?

Manuel Pizarro é um homem inquieto, porque ele foi um homem que foi vereador da Câmara do Porto, foi duas vezes candidato à Câmara do Porto. Depois foi para deputado europeu, depois de deputado europeu para ministro e, portanto, ele é uma pessoa que rapidamente mudou o seu rumo. Portanto, ele, em termos náuticos, gosta mais de andar à bolina contra o vento do que propriamente a favor do vento, sempre na mesma direção.

É evidente que o Partido Socialista tem várias opções na cidade do Porto. Como terá o PSD, como tem o meu movimento. É normal e é possível que, em determinada altura, a concelhia distrital do Partido Socialista faça as contas à vida. Mas ele não é o único candidato. José Luís Carneiro, por exemplo, que é ministro da Administração Interna, também. Nunca escondeu as aspirações que tinha de ser candidato do Partido Socialista.

Se o PS apostar de novo no Manuel Pizarro, acha que está a cometer um erro pela terceira vez?

Não, de forma alguma. Não há erros a terceira vez. Nós temos um caso que foi o Dr. Ricardo Rio, em Braga e que, salvo erro, também perdeu duas vezes as eleições e depois ganhou três vezes sucessivamente. Portanto, para essas coisas os tempos são diferentes, as aprendizagens são diferentes, a situação socio-económica da cidade é diferente. É evidente que os candidatos partidários, no entanto, têm alguma coisa que pesa sobre eles e pode pesar favorável ou desfavoravelmente, que é a forma do seu partido, como é que ele é visto em termos nacionais.

Os candidatos independentes são mais apreciados em função das suas qualificações pessoais, daquilo que pretendem fazer. Portanto, ele pode ser beneficiado ou penalizado, se for ele o candidato, pela situação política do país macroeconómica e a situação do país. Neste momento, o Partido Socialista parece estar bem nas sondagens, mas nessa altura, por exemplo, pode não estar.

Prometeu encontrar soluções para a escassez da habitação para a classe média. O Monte Pedral e o Monte da Bela, com 600 casas, já deveriam estar prontos desde 2022 e ainda não começaram sequer a ser construídos. Lordelo também não tem previsões disso. Vai conseguir cumprir a sua promessa até ao fim do mandato?

De início de construção, julgo que sim, relativamente a Lordelo, com certeza. Nós vamos lançar, provavelmente ainda antes do fim do ano, o concurso público do Lordelo e, portanto, aí é habitação pública pura e dura, é investimento da Câmara.

Creio que na próxima reunião de executivo, se não for na próxima, será na seguinte, lançaremos, finalmente, os concursos públicos para as parcerias público privadas relativamente ao Monte Pedral e Monte da Bela. Aí vamos ficar dependentes de haver interessados ou não. Também relativamente ao Aleixo, por exemplo, as coisas demoram imenso tempo para lançar um concurso público para uma parceria público privada. E depois disso tudo, é preciso fazer estudos que demonstrem ao Tribunal de Contas que há uma justa participação entre aquilo que é o interesse público e o interesse privado e as coisas, de facto, demoram imenso tempo.

Em relação ao fenómeno da droga. Está a ressurgir como nos anos 80, 90. Como é que isto se resolve?

Se me perguntar o que é que está a acontecer com o fenómeno da droga, é um problema que mais uma vez está a surgir com um impacto terrível nos Estados Unidos e em toda a Europa. Os Estados não têm sido capazes de combater o tráfico internacional. Este é um facto objetivo. Aquilo que temos tentado fazer é encontrar aqui uma fórmula virtuosa de compensar aquilo. E, no fundo, podemos colaborar com o Estado nisto, com o Ministério da Saúde, obviamente, com as salas de consumo assistido. A que temos é um sucesso. Funciona bem e agora o Ministério da Saúde vai assumir a sua gestão depois de um ano.

Nós precisaríamos que os municípios vizinhos (...) também fizessem igual investimento. De outra maneira, estamos a criar uma mobilização artificial de pessoas que vêm para o Porto porque têm uma sala de consumo assistido e porque ali ao lado há mais tráfico.

O aumento das salas de chuto poderia ajudar?

Sim, e está previsto neste momento. Aliás, num acordo que foi feito com o Estado, está previsto que a Câmara Municipal do Porto vai investir numa segunda unidade. Só que esta unidade deve ser uma unidade móvel. A meu ver, nós deveríamos ter pelo menos mais uma unidade fixa. Só que aquilo que nós também temos a dizer é que quando nós analisamos a população que frequenta esta sala de consumo, só cerca de 30% é que são moradores na cidade. Nós precisaríamos que os municípios vizinhos, de onde vem essa população - seja Gaia, seja Matosinhos, seja Gondomar - também fizessem igual investimento. Ou se não puderem fazer que o Estado lá faça. De outra maneira, estamos a criar uma mobilização artificial de pessoas que vêm para o Porto porque têm uma sala de consumo assistido e porque ali ao lado há mais tráfico.

A falta de segurança no Porto é uma das suas queixas. Acha que o ministro da Administração Interna não tem sido sensível às queixas que tem vindo a fazer?

O ministro da Administração Interna é sensível às questões e, logicamente, como bom político que é, tenta empurrar entre aquele triângulo da saúde, questão social e questão da segurança, ele tenta empurrar o problema mais para a questão social, libertando-se dessa competência.

O ministro da Administração Interna sabe muito bem que, neste momento, temos poucos recursos policiais e que a visibilidade policial ajuda a resolver o problema. Na Pasteleira, onde está a sala de consumo assistido, tivemos nos últimos meses a presença policial diária e a verdade é que aquele território mudou durante algum tempo. Agora, infelizmente, deixou de mudar porque a polícia já abandonou. A visibilidade da polícia ajuda a resolver o problema.

Acha que estamos pior do que estávamos em 2019?

Acho que sim. Acho que estamos piores.

E esta nova lei das drogas aprovada recentemente?

É uma lei completamente irresponsável. Estamos num país em que acaba de ser aprovada uma lei do tabaco em que não podemos fumar em lado nenhum. Não se pode fumar numa praia, num concerto de Rock, ao ar livre à frente de um estabelecimento público ou de um edifício público. Sou a favor da lei do tabaco naquilo que tem a ver com o tabaco prejudicar a pessoa que está ao lado. Na lei do tabaco fomos completamente inflexíveis. Ao mesmo tempo, aquilo que dizemos é que a pessoa doravante pode ter qualquer quantidade de droga em seu poder, não podendo por isso ser considerado criminalizado. Até hoje havia uma lei que dizia que a pessoa podia ter determinadas quantidades para consumo próprio. Hoje em dia, se quiser ter um contentor, um camião TIR de droga no seu jardim, isso não quer dizer que seja traficante, a não ser que seja apanhado a traficar. Acho que isto é absurdo. Não consigo compreender como é que o mesmo Parlamento aprovou uma lei do tabaco que é completamente restritiva, que coloca até limitações à liberdade individual, a meu ver, ainda por cima punitiva sobre o ponto de vista fiscal.

Depois de o seu executivo ter ordenado o fecho do Centro Comercial STOP, apresentou várias propostas para evitar esse mesmo encerramento. Porque razão é que durante os dez anos que já está à frente da Câmara do Porto não resolveu este problema do STOP?

Em primeiro lugar, estamos a desenvolver a Escola Pires de Lima com Os Amigos do Coliseu e acreditamos que a Escola Pires de Lima, que é ao lado do STOP, vai servir para uma parte daquelas atividades que desenvolvem no STOP. Relativamente ao STOP, não tendo o Governo sido capaz ou tido condições para classificar, aquilo que nós estamos a fazer é que a Câmara vai classificar. A Câmara vai conseguir classificar o STOP. Não apenas o uso, mas uma parte do edifício. Não conseguimos classificar tudo, mas pelo menos isso vai acabar com o argumento ou com a possibilidade de que o STOP possa ser demolido e transformado num hotel, ou seja o que for.

Nós neste momento temos o processo, a nível da Câmara, pronto, concluído. Portanto, vamos conseguir preservar a fachada. A partir do momento que se preserva aquela fachada não é possível fazer outra coisa. Neste momento, mal seja aprovado pela Câmara, e estamos a ultimar isso, estamos em contacto com a Direção Regional de Cultura do Norte e queremos acreditar que a Direção Regional de Cultura do Norte vai visar o nosso parecer.

Vamos travar aquilo que os músicos temiam que era que houvesse aqui uma voragem especulativa. Isso nós vamos conseguir parar. Há uma coisa que nós não podemos fazer. Não podemos pôr lá um prego, porque a câmara não pode por lei. O presidente da Câmara pode querer, mas não pode, por lei, pôr lá um prego. Nós não podemos pôr lá um extintor. Nós estamos impedidos de o fazer.

Como é que se resolve o problema do tráfego na VCI, eixo que está completamente esgotado?

Não há uma varinha de condão, não existe. Mas há uma coisa que se podia fazer e que nós propusemos e fizemos todos os contactos possíveis, que foi fazer com que o tráfego de pesados de atravessamento - não é o que entra e sai da cidade do Porto, naturalmente, porque esse tem que continuar - pudesse utilizar a A41. Falámos com os operadores de transportes, com a ANTRAM, e perguntámos quais eram as condições para que os camiões passassem a fazer isso. A única coisa que disseram é que estão interessados, porque apesar de fazerem mais quilómetros, poupam tempo. Mas disseram: "Não podemos pagar portagem".

Portanto, a primeira coisa era acabar com as portagens para os pesados na circular e impedir que eles passassem pelo meio da cidade do Porto. Outra coisa que poderíamos fazer naturalmente e que deveríamos tentar fazer, e isso também foi discutido por uma comissão que foi criada e que juntou a IP, o município da Maia, o município de Matosinhos e o município do Porto, ainda em 2020/2021, que era alterar as portagens do lado do Norte.

Uma pessoa que vem de Braga em direção a Matosinhos sul, em vez de usar a A4 não usa a A4 e usa a VCI artificialmente, por não ser portajada. Isso chegou a ser acordado, só que depois o município de Matosinhos entendeu desinteressar-se do assunto e o Estado deixou cair.

Deu aí uma série de soluções. Mas as pessoas querem ver a sua vida um bocadinho resolvida...

Não é uma competência nossa, eu peço desculpa.

Quando começo a ouvir falar em soluções integradas, fico sempre muito preocupado. É como quando se cria em Portugal comissões de inquérito.

E, por exemplo, a solução de os camiões andarem à noite naquela zona, permitindo que o tráfego possa diminuir?

Diminuirmos os pesados nas horas de ponta pode ajudar a resolver o assunto, mas é muito melhor retirá-los. Aquilo que estamos a propor é basicamente retirá-los. Retiramos e depois podemos seguramente criar horários para aqueles que entram e saem da cidade do Porto. Sim, podemos. Mas nós não podemos sequer determinar qual é o limite de velocidade na VCI. Ele foi reduzido recentemente e sabe como é que a Câmara do Porto soube? Pelo jornal. Aquilo é uma estrada nacional, é uma competência do Estado, do Governo, da IP. Depende exclusivamente do Estado, quer a manutenção, quer a fiscalização, quer tudo o mais. Neste momento, a VCI é uma trombose permanente na cidade do Porto. Nós estamos com um nível de sinistralidade muito grande, de avarias muito grande e a cidade pára.

Já colocou as suas soluções ao ministro das Infraestruturas?

Já falei sobre o assunto e ele disse que achava que a solução da VCI tem que ser vista como solução integrada. Quando começo a ouvir falar em soluções integradas, fico sempre muito preocupado. É como quando se cria em Portugal comissões de inquérito. Se me perguntar se eu sei como resolver o assunto, digo não. Se sei como melhorar a situação, isso eu sei. E a Câmara do Porto tem insistido. Lá atrás, era o Pedro Marques ministro e a Associação Comercial do Porto apresentou um estudo no Palácio do Bolsa em que demonstrava que esta questão dos pesados iria resolver a questão da VCI. Já vê ao tempo que foi.

As coisas demoram sempre muito tempo...

E no Porto demoram mais porque é mais distante, porque, de facto, não incomoda tanto os ministros, porque não andam muito na VCI.

Sobre a privatização da TAP. Que garantias é que teve por parte de Fernando Medina que entre as condições de alienação está a preocupação com a exploração e a capacitação do aeroporto Francisco Sá Carneiro?

Nenhum de nós conhece o caderno de encargos, mas aquilo que foi enunciado pelo senhor ministro e que foi alvo também de uma conversa que tive recentemente com ele é que, de facto, no caderno de encargos, naquilo que são as condições que lá vão ser impostas, é a manutenção do hub de Lisboa e por outro lado, o aumento nas ligações ponto a ponto, nomeadamente no Aeroporto Francisco Sá Carneiro.

No modelo de privatização que está previsto, que é um modelo de privatização da maioria da totalidade do capital, nós nem precisamos que isso esteja no caderno de encargos, porque eu estou em crer que com qualquer dos três operadores internacionais que pode vir a comprar a TAP - que só pode ser Lufthansa, a Iberia/British Airways ou a KLM - vendo a situação de estrangulamento existente no aeroporto de Lisboa e vendo o potencial que o aeroporto do Porto tem, qualquer gestão privada de quem sabe da poda, seguramente que vai fazer crescer o tráfego ponto a ponto. Isso é ótimo para a cidade do Porto, para toda a região.

Está a cumprir o seu último mandato autárquico à frente da Câmara do Porto. Entende que os mandatos autárquicos deveriam ser mais curtos, ou seja, em vez de ser três mandatos de quatro anos, seriam dois mandatos de cinco anos?

Sim, é isso que eu tenho defendido há muito tempo. Acho que devia. Os mandatos deviam ser, no fundo, equivalentes àqueles que são para a Presidência da República, que também é um modelo muito presidencialista. Os presidentes da Câmara, independentemente do resto, é um modelo muito presidencialista e, portanto, eu acho que o modelo devia ser de dois mandatos de cinco anos cada

Vai cumprir o seu mandato até ao fim?

Em condições normais, sim. Mas há sempre coisas. Pode haver questões de saúde para todos nós. Não tenho nenhum projeto político. O único grande projeto político que tive foi ser presidente da Câmara do Porto.

Se for convidado por um partido, pelo PSD, para ser cabeça de lista ao Parlamento Europeu, aceita?

É mais ou menos como perguntar se posso vir a ser o Pai Natal. Não se coloca. Não é uma coisa que se possa colocar. Naturalmente, se surgir um convite para uma coisa dessas, terei que pensar na altura, terei que pensar nas condições. Agora, também lhe digo que não é provável. Porquê? Porque há uma coisa que se chama calendário. O calendário, como já compreenderam, não é um calendário exequível com uma opção dessa natureza.

Em larga medida, aquilo que eu tinha para fazer na cidade do Porto já fiz e o que ainda não fiz está a caminho.

Teria que abandonar o seu mandato como presidente da Câmara?

Com certeza. Devo dizer que acho que, em larga medida, aquilo que eu tinha para fazer na cidade do Porto já fiz e o que ainda não fiz está a caminho. O que nós não podemos é, de facto, trocar as coisas por um prato de lentilhas. Isso não é. Portanto, à partida, não faz sentido.

A Europa é um prato de lentilhas?

Podia ser visto como isso. Neste momento, como também nunca foi colocado o problema, nunca tive sequer necessidade de pensar maduramente sobre um assunto que tem aparecido na comunicação social. Aliás, eu suspeito de onde é que isto vem. Não foi a comunicação social que inventou. Suspeito que isto é criado por pessoas dentro do PSD para criar dificuldades ao Dr. Luís Montenegro.

Mas Luís Montenegro também não disse que não. Disse que, em abstrato, o seu perfil servia. Foi só para ser simpático?

O que é que ele havia de dizer? É uma questão de boa educação. Tenho uma grande consideração pessoal pelo Dr. Luís Montenegro, porque não me esqueço que, numa altura em que o PSD me fez uma guerra suja, o Dr. Montenegro foi sempre uma pessoa que se portou comigo impecavelmente e ele sabe que eu lhe devo essa atenção. E sabe, naturalmente, que sou amigo dele. Portanto, o Dr. Montenegro, sabendo isto, teve o cuidado de boa educação de, perante uma situação destas, ainda por cima estando ali ao lado dele, dizer aquilo que disse e acho que faz sentido.

Se me perguntar se para o Dr. Montenegro seria bom ter uma pessoa com o meu perfil, isso vai ter que lhe perguntar a ele. Se o PSD quer um independente à frente? Eu sou independente, sabe? Portanto, qualquer partido que me queira para alguma coisa também terá sempre que pensar se eu não posso ser o elefante na loja de porcelana. Provavelmente, os independentes como eu, e eu sou um independente verdadeiro, não fazem muito sentido numa estrutura partidária.

Quando sair da Câmara do Porto, se for convidado para um lugar de nomeação governamental, aceita?

Não é provável que aceite. Depende, não sei que cargo de nomeação governamental.

Então, mantém a porta aberta para essas coisas...

O que é um cargo de nomeação governamental? Se me perguntar se vou ser ministro ou secretário de Estado, seguramente que não. Não sei muito bem o que é um cargo de nomeação governamental. No momento em que sair da Câmara Municipal do Porto, terei o tempo para pensar, para refletir. A primeira coisa que quero fazer é uma viagem com a minha mulher e voltar a fotografar.

E embaixador da UNESCO?

Daqui a bocado vai perguntar-me, outra vez, se quero ser Pai Natal. Não me faz sentido, nunca ninguém me perguntou essa coisa. Não sou embaixador. O futuro a Deus pertence. No tempo certo, haveremos de descobrir se eu tenho saúde, vida, vontade. Veremos. Vamos continuar a encontrar-nos, com certeza. Vou continuar a estar interessado nas coisas do Porto e a preocupar-me com a cidade, mas sem querer ter cargos executivos. Espero que a cidade encontre uma boa solução de futuro.

Espero que a cidade continue a discutir-se como se discute. Gosto muito que esta cidade discuta tudo, desde estátuas, todas as coisas mais extraordinárias. O cidadão do Porto tem esta visão patriótica da cidade e eu espero que a escolha que se faça, qualquer que seja, seja de alguém que compreenda que o Porto é assim e deve ser assim e que não tente calar o Porto, como já aconteceu no passado.

Sobre o Futebol Clube do Porto. Se André Villas-Boas avançar para a liderança do clube dá-lhe apoio ou não?

Enquanto o senhor Jorge Nuno Pinto da Costa tiver condições e vontade, porque são duas coisas diferentes, para exercer o cargo, e ele já disse que irá concorrer, que quer concorrer no próximo ano, nunca apoiarei nenhuma solução alternativa. Se me perguntar se eu vou apoiar alguém, não vou apoiar ninguém, não o farei desta vez. Neste momento, não me devo meter nisso. Espero, naturalmente, que os sócios façam essa escolha, mas não farei parte da solução nem farei parte da escolha dos sócios. Portanto, não contarão seguramente comigo. Continuarei a ser um sócio normal de bancada.

Não me aproveitei do futebol para a política. Na minha comissão de honra em 2013, e depois nunca mais tive nenhuma, não apareceu ninguém do desporto, nunca apareceu e eu já gostava de provas de futebol desde pequenino. O meu tio bisavô fez parte da primeira equipa do Porto que foi campeã nacional por acaso, chamava-se Nunes. Serei um sócio atento, dedicado e, tal como nas outras atividades da minha vida, totalmente livre para dar a minha opinião.

Ficou escaldado com a polémica de Verão com o Sérgio Conceição?

Não, não fiquei nada escaldado.

Já foi tudo sanado com o treinador do FCP?

Não é uma questão de ser sanado, o treinador do Futebol Clube do Porto é um funcionário do Futebol Clube do Porto.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+