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Contornar, crescer, governar: Livre aproveita Congresso para assumir ambição de poder

12 mai, 2024 - 13:22 • Tomás Anjinho Chagas

Partido tentou fintar polémica com escolha do cabeça de lista às europeias, abriu a porta um “governo das esquerdas” e quer saltar para a piscina dos grandes.

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Com um PS liderado por Pedro Nuno Santos, assumidamente mais à esquerda ideologicamente que António Costa, e com um Parlamento cada vez mais fragmentado, Rui Tavares prepara terreno para entendimentos à esquerda quando o país for novamente chamado a eleições legislativas. Quando? Mais cedo ou mais tarde, o porta-voz do Livre estabelece uma data que serve de biombo: antes ou depois das eleições autárquicas.

O calendário eleitoral é estreito: ainda este mês há eleições regionais da Madeira. Marta Sofia, cabeça de lista, critica o atraso na ilha, fala no “barão Albuquerque, e pede um “25 de abril na Madeira”. O objetivo do partido é entrar pela primeira vez para o parlamento regional.

Em véspera de eleições na Madeira e de europeias e depois de conseguir pela primeira vez um grupo parlamentar na Assembleia da República, o Livre parou e sentou-se para perceber onde está e para onde vai.

Com um processo agitado de eleição para o cabeça de lista para as eleições europeias, que acabou por recair em Francisco Paupério, figura que não seria a primeira escolha do Grupo de Contacto (direção do partido), o Livre insistiu que está a “anos-luz” dos outros partidos no que toca à democracia interna. Foi com este argumento – de que neste partido são as pessoas e não a direção que escolhe os candidatos – que o partido procurou deixar para trás a polémica.

“Está ultrapassada”, resumiu Isabel Mendes Lopes, líder parlamentar do Livre em entrevista à Renascença. E com uma pedra em cima deste assunto, o Livre aproveitou a ocasião para passar uma mensagem: depois de crescer de um para quatro deputados, agora o partido quer fazer parte de uma solução de governo à esquerda.

Depois de criticar a falta de “ideias e futuro” do governo da AD, Rui Tavares pediu ao partido para mudar o ponteiro: “Para isso nós temos de nos preparar para governar o país”. De partido pequeno, em março o Livre passou a partido médio e agora quer saltar para a piscina dos grandes.

Logo depois o partido ambiciona estrear-se no Parlamento Europeu nas europeias de 9 de junho. E só depois – ao que tudo indica – é que o calendário alivia e espera pelo ano seguinte. 2025 é ano de autárquicas. Isabel Mendes Lopes, líder da bancada do Livre, defendeu uma “mega-coligação de esquerda” que envolva o PS na corrida à Câmara de Lisboa.

Para as legislativas – quando as houver – o Livre namora os partidos da esquerda para entendimentos pós-eleitorais. “Livre tem de passar a estar preparado para governar”, repete Rui Tavares.

Aos jornalistas, demonstrou confiança de que esse sentimento não é exclusivo do Livre, é comum aos partidos da esquerda: “Tem de haver uma governação plural, acho que nos vamos entender. Eles [partidos de esquerda] têm de estar cientes da responsabilidade”, resume.

"Estamos do mesmo lado", repetiu no palanque no discurso de encerramento, apelando à "cooperação" dos eventuais parceiros de esquerda.

Este fim-de-semana o Livre quis pôr uma pedra sobre as dores de crescimento evidentes nos problemas relacionados com a escolha do cabeça de lista para as europeias. Com 10 anos de existência e um novo élan catapultado pelas últimas legislativas, o partido procura multiplica-lo e quer que o próximo passo seja fazer parte de uma solução de governo à esquerda em Portugal.

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