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Tensão entre Irão e Israel

O que é o "Eixo da Resistência" do Irão?

13 abr, 2024 - 09:21 • João Pedro Quesado , com Reuters

Teerão não entrou diretamente no conflito iniciado com o ataque do Hamas a Israel, a 7 de outubro, mas ameaça fazê-lo depois de um ataque israelita ter vitimado uma alta patente das forças armadas iranianas. Quem são os grupos aliados ("proxies") que parecem trabalhar ao comando do Irão?

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Israel está sob a ameaça de um ataque do Irão, em retaliação pelo assassinato de um general iraniano depois do bombardeamento israelita do consulado em Damasco, na Síria. O regime de Teerão prometeu contra-atacar, aumentando as preocupações sobre o potencial de uma nova escalada do conflito no Médio Oriente.

Até agora, o Irão não teve qualquer papel direto no conflito que se alastrou pela região desde o início da guerra na Faixa de Gaza, há seis meses. Mas apoia grupos que participaram no ataque a Israel, aos interesses dos Estado Unidos da América e à navegação do Mar Vermelho.

Construídos ao longo de anos e, em alguns casos, décadas de apoio iraniano, os grupos descrevem-se como o “Eixo da Resistência” a Israel e à influência dos EUA no Médio Oriente.

O Eixo inclui o Hamas, o grupo palestiniano que iniciou a guerra ao atacar Israel em 7 de outubro do ano passado.

Hezbollah, o "Partido de Deus"

Foi criado pela Guarda Revolucionária do Irão em 1982, com o objetivo de combater as forças israelitas que invadiram o Líbano naquele ano. O Hezbollah é amplamente considerado mais poderoso que o Estado libanês e partilha a ideologia islâmica xiita do Irão.

O Hezbollah serviu de modelo para outros grupos apoiados por Teerão em toda a região, e aconselhou, ou até treinou, alguns desses grupos. Os Estados Unidos e outros governos, incluindo os países árabes do Golfo aliados dos EUA, colocaram o Hezbollah na lista das organizações terroristas.

O grupo libanês, fortemente armado, tem realizado ataques quase diários contra alvos israelitas na fronteira libanesa-israelita desde o início de outubro, provocando as mais pesadas trocas de tiros entre os inimigos desde que travaram uma guerra em grande escala em 2006.

O Hezbollah afirma que os seus ataques ajudaram a enfraquecer o Exército israelita, ao mesmo tempo que obrigaram dezenas de milhares de israelitas a fugir de casas perto da fronteira. Os ataques aéreos e de artilharia israelitas também forçaram dezenas de milhares de libaneses a fugir.

Os ataques israelitas mataram cerca de 240 combatentes do Hezbollah, incluindo altos comandantes no Líbano, desde 7 de outubro, além de mais 30 mortos em ataques israelitas na Síria, segundo fontes de segurança. Números que equivalem às perdas do Hezbollah na guerra de 2006.

Um enviado dos EUA tem estado empenhado em esforços para evitar que a violência se transforme num conflito ainda maior.

Houthis, o terror do Mar Vermelho

O movimento Houthi ganhou o controlo de grandes partes do Iémen durante uma guerra civil que começou em 2014, quando tomaram Saná e derrubaram o governo. O grupo pertence à corrente zaidita do islamismo xiita, e mantém há muito tempo laços de amizade com o Irão.

A guerra do Iémen colocou-os em conflito com a Arábia Saudita e os aliados do Golfo que, receosos da crescente influência do Irão, intervieram na guerra em 2015, em apoio ao governo deposto. Nos últimos anos, a Arábia Saudita apoiou esforços diplomáticos para acabar com a guerra, acolhendo, em setembro passado, negociadores Houthi em Riade.

Os houthis anunciaram, a 31 de outubro do ano passado, que tinham entrado no conflito, disparando drones e mísseis contra Israel.

Em novembro, o grupo aumentou o envolvimento, atacando navios no sul do Mar Vermelho que diziam ser pertencentes a israelitas, ou que se dirigiam para portos israelitas. Mas alguns dos navios visados não tinham ligações conhecidas ao Estado judaico.

A campanha levou os Estados Unidos e a Grã-Bretanha a lançar ataques aéreos contra alvos dos houthis no Iémen, em janeiro. Os houthis declararam que todos os navios e navios de guerra dos EUA e da Grã-Bretanha que participassem na “agressão” seriam alvos.

Os ataques perturbaram o comércio internacional na rota marítima mais curta entre a Europa e a Ásia, levando algumas companhias marítimas a redirecionar os seus navios.

Os Estados Unidos acreditam que a Guarda Revolucionária do Irão (IRGC) tem ajudado a planear e executar os ataques com mísseis e drones dos houthis. O Irão nega envolvimento.

Fontes citadas pela Reuters dizem que, desde janeiro, comandantes do IRGC e do Hezbollah estão no Iémen, a ajudar a dirigir e supervisionar os ataques aos navios do Mar Vermelho. Os houthis negaram qualquer envolvimento do Hezbollah ou do Irão.

Os Estados Unidos colocaram de novos os houthis na sua lista de grupos terroristas, em resposta aos ataques aos navios.

A coligação liderada pela Arábia Saudita que luta contra o movimento iemenita há muito que acusa o Irão de armar, treinar e financiar o grupo. Os houthis negam ser representantes iranianos.

A Resistência Islâmica no Iraque

Foi depois da invasão liderada pelos EUA em 2003 que grupos xiitas com ligações ao Irão emergiram como atores poderosos no Iraque, e desenvolveram milícias com dezenas de milhares de combatentes.

Um grupo que alberga várias fações armadas islâmicas xiitas, denominado Resistência Islâmica no Iraque, começou a atacar as forças dos EUA localizadas no Iraque e na Síria em outubro, dizendo que pretendiam responder aos ataques israelitas aos palestinianos e resistir às forças dos EUA destacadas no Iraque e na região.

Os ataques pararam depois de um ataque de drone ter matado três soldados norte-americanos na Jordânia, em 28 de janeiro, provocando fortes ataques aéreos retaliatórios dos EUA contra alvos ligados ao Irão na Síria e no Iraque.

Segundo a Reuters, o chefe da Força Quds do Irão pediu às milícias, em fevereiro, que se mantivessem discretas para evitar ataques dos EUA aos seus comandantes superiores, a destruição de infraestruturas essenciais ou mesmo uma retaliação direta contra o Irão.

A 1 de abril, a Resistência Islâmica no Iraque assumiu a responsabilidade por um ataque aéreo a Eilat, em Israel.

Os grupos armados xiitas desempenharam um papel de liderança na luta contra um grupo extremista, o autoproclamado Estado Islâmico, lutando como parte do Hashd al-Shaabi (Forças de Mobilização Popular).

Embora os membros destes grupos armados recebam salários do Estado e estejam tecnicamente sob a autoridade do primeiro-ministro, muitas vezes operam fora da cadeia de comando.

Os grupos que atacaram as forças dos EUA incluíam o Kataib Hezbollah e o grupo Nujaba, ambos estreitamente ligados à Guarda Revolucionária do Irão. O arsenal inclui drones explosivos, foguetes e mísseis balísticos.

Os grupos são designados organizações terroristas pelos Estados Unidos.

A Síria (sim, o país)

O governo sírio, liderado pelo Presidente Bashar al-Assad, faz parte do "Eixo da Resistência", mas não desempenhou qualquer papel direto no conflito atual.

No entanto, o território sírio também tem sido palco da escalada das tensões.

Essa escalada inclui ataques de milícias apoiadas pelo Irão contra as forças dos EUA no Leste, ataques aéreos israelitas na Síria contra pessoal iraniano e membros do Hezbollah, e trocas de tiros ocasionais entre as Colinas de Golã ocupadas por Israel e o sudoeste da Síria.

O governo sírio tem sido durante décadas um aliado próximo do Irão, e forças apoiadas pelos aiatolás foram destacadas em grande parte da Síria desde que chegaram, há mais de uma década, para ajudar Assad na guerra civil síria. Teerão e Damasco afirmam que as forças iranianas estão na Síria com função consultiva, a convite do governo.

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